Defesa da Fé

Edição 100

Uma análise da perseguição aos cristãos no mundo árabe


Por Caroline Glick

Vice-editora e colunista do jornal The Jerusalem Post.

Tradução: Luis Gustavo Gentil


É difícil imaginar onde os governos e as igrejas ocidentais pensam que vão chegar fazendo vista grossa à perseguição de cristãos no mundo islâmico.

Não faz muito tempo, cristãos coptas egípcios organizaram o que era para ser uma vigília pacífica em frente à sede da emissora de TV estatal no Cairo. Os mil manifestantes representavam a antiga comunidade cristã de cerca de oito milhões de pessoas, cuja presença no Egito precede a dominação islâmica em várias séculos. Eles se reuniram no Cairo para protestar contra os recentes incêndios criminosos de duas igrejas por arruaceiros muçulmanos, contra a rápida ascensão da violência (com apoio do governo) e contra os cristãos por grupos muçulmanos desde a renúncia do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak.

De acordo com fontes coptas, os manifestantes foram cercados por agressores islâmicos, que rapidamente ganharam suporte de forças militares. Entre 19 e 40 cristãos coptas foram mortos por soldados e atacantes muçulmanos. Foram atropelados por veículos militares, espancados, baleados e arrastados pelas ruas do Cairo.

A emissora estatal relatou apenas que três soldados haviam sido mortos. De acordo com a agência Ahram Online, os soldados atacaram os estúdios da emissora de TV al-Hurra na noite de domingo para bloquear a transmissão de informações sobre o ataque militar contra os cristãos coptas.

Em outro evento, o patriarca católico maronita do Líbano, Bechara Rai, durante uma visita oficial a Paris, alertou o presidente francês Niolas Sarkozy que a queda do regime de Assad na Síria seria um desastre para os cristãos da Síria e de regiões próximas. Hoje, a oposição, que tem apoio do Ocidente, é dominada pela Irmandade Islâmica. Rai alertou que a derrubada do presidente Bashar Assad poderia levar a uma guerra civil e ao estabelecimento de um regime islâmico.

No Iraque, a insurgência patrocinada pelo Irã e pela Síria, que se seguiu à derrubada pelos americanos do regime baathista de Saddam Hussein, em 2003, promoveu uma guerra sangrenta contra a população cristã do Iraque. Na década passada, havia oitocentos mil cristãos no Iraque. Hoje, são apenas 150 mil.

Os cristãos iranianos, hoje, estão sujeitos a caprichos de soberanos muçulmanos que não conhecem outra lei a não ser a da supremacia islâmica. O suplício do pastor evangélico Yousef Nadarkhani é um exemplo. Ele foi preso há três anos, julgado e condenado à morte por apostasia, por se recusar a renegar sua fé cristã. Não existe lei contra a apostasia no Irã, mas isso não importa. O aiatolá Khomeini era contra a apostasia. A lei islâmica também é.

Depois que a história de Nadarkhani foi publicada no Ocidente, os iranianos mudaram de plano. Teriam abandonado a acusação de apostasia e sentenciado o pastor à morte por estupro. O fato de ele nunca ter sido acusado ou condenado por estupro não tem importância.

Cristãos palestinos, igualmente, têm sofrido sob os líderes eleitos pela população. Quando a Autoridade Palestina foi estabelecida, em 1994, os cristãos eram 80% da população de Belém. Hoje, correspondem a menos de 20%.

Desde que o Hamas "libertou" Gaza, em 2007, a antiga minoria cristã da região tem sofrido ataques constantes. Com apenas três mil membros, a comunidade cristã de Gaza teve igrejas, conventos, livrarias e bibliotecas incendiados por integrantes do Hamas e seus aliados. Seus membros foram atacados e mortos. Apesar de o Hamas ter prometido a proteção dos cristãos da cidade, ninguém foi preso por violência anticristã.

Da mesma forma que os judeus no mundo islâmico foram expulsos das suas antigas comunidades por governantes árabes com a criação do Estado de Israel em 1948, os cristãos também foram perseguidos e expulsos de suas casas. Regimes populistas islâmicos e árabes usam o supremacismo da religião islâmica e o chauvinismo racial árabe contra cristãos como gritos de guerra para insuflar as multidões em seus propósitos. Esses apelos, por sua vez, levaram à dizimação das populações cristãs no mundo árabe e islâmico.

Por exemplo, quando o Líbano obteve sua independência da França, em 1946, a maioria dos libaneses era cristã. Hoje, os cristãos são menos de 30% da população. Na Turquia, a população cristã foi reduzida de dois milhões no fim da Primeira Guerra Mundial para menos de cem mil hoje. Na Síria, na época da independência, os cristãos representavam quase metade da população. Hoje, apenas 4% dos sírios são cristãos. Na Jordânia, há meio século, 18% da população era cristã. Hoje, apenas 2% dos jordanianos são cristãos.

Os cristãos também são proibidos de praticar sua religião na Arábia Saudita. No Paquistão, a população cristã está sendo sistematicamente destruída por grupos islâmicos apoiados pelo regime. Incêndios de igrejas, conversões forçadas, estupros, assassinatos, sequestros e perseguição legal de cristãos paquistaneses se tornaram ocorrências diárias.

Infelizmente, para os cristãos do mundo islâmico, sua causa não está sendo defendida por governos ou igrejas do Ocidente. Com exceção dos evangélicos, a maioria das igrejas ocidentais está igualmente desinteressada em defender os direitos de correligiosos no mundo islâmico. A maioria das principais denominações protestantes não fez esforço algum para proteger ou defender os direitos dos cristãos no mundo islâmico. Em vez disso, na última década, essas igrejas e seus ramos internacionais buscaram, repetidas vezes, atacar o único país do Oriente Médio em que a população cristã aumentou nos últimos 60 anos: Israel.

Quanto ao Vaticano, nos seis anos, desde que o papa Bento XVI, no seu discurso em Regensburg, lançou um desafio aos muçulmanos para que agissem com bom senso e tolerância ao lidar com outras religiões, abandonou a posição anteriormente adotada. Um diálogo entre iguais se tornou uma súplica ao Islã em nome de uma compreensão ecumênica. No ano retrasado, o papa organizou um sínodo sobre os cristãos do Oriente Médio que não mencionou a perseguição anticristã por forças e regimes islâmicos e populistas. Israel, por outro lado, foi o principal alvo de críticas.

A diplomacia do Vaticano se estendeu até o Irã, para onde enviou um representante para participar de uma falsa conferência antiterrorista de Mahmoud Ahmadinejad. Conforme relatou Giulio Meotti para a agência israelense Ynet, enquanto todos os embaixadores da União Europeia saíam no meio do discurso de negação do Holocausto de Ahmadinejad na segunda conferência das Nações Unidas em Durban, o embaixador do Vaticano ficou sentado. O Vaticano abraçou líderes da Irmandade Islâmica na Europa e no Oriente Médio.

Como dissemos no início, é difícil imaginar onde os governos e as igrejas ocidentais pensam que vão chegar fazendo vista grossa à perseguição e dizimação de comunidades cristãs no mundo islâmico.

Como mostram todos esses fatos, as atitudes do Ocidente não estão aplacando ninguém. Mas fica bastante claro que ele irá colher o que plantou.


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