Entrevista



Antonio Fonseca - O evangelho defendido em 100 edições



Por Elvis Brassaroto Aleixo
Antonio Fonseca - Presidente do ICP

Lançada no ano 2000, Defesa da Fé chega à sua centésima edição e, para falar desse projeto que há tanto tempo tem sido uma referência à apologética cristã em todo o Brasil, o nome mais efetivo e presente é Antonio Fonseca, o seu principal promotor. Formado em engenharia elétrica e eletrônica e em bacharel em teologia, vem se destacando, cada vez mais, como palestrante por sua didática e clareza na exposição de matérias bíblicas. Presidente do ICP (Instituto Cristão de Pesquisas) desde dezembro de 2001, foi o idealizador da Bíblia Apologética de Estudos, lançada no ano 2000 por esse mesmo instituto. Todavia, o destaque aqui é sobre sua dedicação em preservar e difundir uma revista como esta em favor do enriquecimento apologético e edificação espiritual da Igreja evangélica brasileira, que, até aqui, podemos dizer, tem sido muito bem alimentada!

Defesa da Fé: O ICP se notabilizou pelo desenvolvimento de vários instrumentos de combate às seitas, mas, inegavelmente, Defesa da Fé tornou-se o principal deles. Depois de 100 edições, como o senhor enxerga o legado deixado pela revista à Igreja evangélica brasileira?

Antonio Fonseca: Quando iniciei minhas atividades no ICP, em 1998, a palavra apologética não era muito conhecida entre os evangélicos. Muitos achavam que não havia necessidade de ensinar sobre o tema, sobre o que creem outros grupos religiosos heterodoxos. Defesa da Fé foi pioneira na abordagem exclusiva do assunto. Aos poucos, a Igreja foi entendendo e percebendo a importância da apologética, sem contar aqueles que não sabiam a diferença entre as seguintes expressões: cristão e pseudocrístão. Todavia, pouco a pouco, começaram a adquirir Defesa da Fé e passaram, então, a atuar como agentes multiplicadores dos assuntos abordados em suas páginas. Atualmente, depois de doze anos de circulação, com mais de um milhão e quatrocentos mil exemplares entregues aos assinantes, podemos afirmar que, sem dúvida, Defesa da Fé deixa, como legado principal, a conscientização, em nosso meio, da importância para defender, com precisão, a razão da nossa fé, como ensina o texto de 1Pedro 3.15, que diz: “Antes, santificai o Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”.

Defesa da Fé: No início, a publicação de Defesa da Fé não era regular, mas, ao assumir esta revista, o senhor engajou-se em difundi-la e, com a ajuda de valorosos companheiros, tornou-a conhecida em todo o Brasil. Poderia nos contar algumas experiências durante esse trabalho de difusão?

Antonio Fonseca: Assim que fui chamado para fazer parte da equipe, como diretor-executivo, achei fundamental implantar no ICP os três elementos necessários para que um produto atenda, de forma adequada, à necessidade dos seus clientes: qualidade do material, prazo de entrega e preço justo. Foi firmado nessa base que comecei a dar meus primeiros passos na instituição. Começando pela necessidade do cliente, resolvi fazer uma viagem de carro, passando por quase todas as capitais do Brasil, a fim de visitar igrejas, seminários teológicos e livrarias evangélicas. Foram trinta dias viajando. O trabalho foi árduo, mas valeu a pena. Fiz amizade com muitas pessoas, expliquei a importância da revista e em todas as cidades por onde passei deixei pelo menos uma pessoa como representante da Defesa da Fé. Por todas as livrarias que passei, pude deixar algumas revistas em consignação e cartazes de divulgação. Nas igrejas, fui muito bem recebido e em todas elas o pastor responsável me deu liberdade de expor, no término dos cultos, de forma resumida, o conteúdo das edições. Um dos fatos que me marcaram muito foi o seguinte: ao dar início à minha viagem, sai de Jundiaí, Estado de São Paulo, e fui para o Rio de Janeiro. Lá, a primeira igreja que visitei fica na Ilha do Governador. Estou me referindo à Assembleia de Deus, que, na época, era presidida pelo pastor Elizeu Resende. Ao chegar à igreja, o pastor Eliseu me recebeu em seu gabinete e, na oportunidade, lhe pedi que me deixasse divulgar a revista no culto à noite. E ele, gentilmente, me autorizou e perguntou para onde eu iria depois. Então, eu lhe disse que estava fazendo uma viajem pelo Brasil e que iria aproveitar, quando chegasse a Belém do Pará, na Assembleia de Deus presidida pelo pastor Samuel Câmara, para falar com ele para divulgar a revista na “TV Boas-Novas”, também sob a direção desse pastor. Ao falar isso, o pastor Eliseu fez uma expressão de assustado e me perguntou se eu era pastor. Ao que respondi que não. Daí, ele me disse: “Olha, fica difícil, sem fazer parte do ministério pastoral, atender ao seu pedido, mas eu vou orar por você e Deus irá honrar a sua fé. Interessante que, além de ser muito bem atendido pelo pastor Samuel Câmara, depois de três meses o nosso programa estava no ar e com o mesmo nome da revista: “Programa Defesa da Fé”.

Defesa da Fé: Alguns dizeres acompanharam a propagação da revista ao longo dos anos e gostaríamos de resgatar aqui dois deles: “Vacine sua igreja contra as seitas e heresias” e “Você estaria disposto a fazer pela verdade o que as seitas fazem pela mentira?”. Em que medida esses lemas participam o ideal ministerial do ICP por meio da Defesa da Fé?

Antonio Fonseca: A analogia ajuda muito no aprendizado. Veja que este recurso didático foi bastante usado por Jesus. Em todas as nossas palestras, começamos explicando o que é o ICP. Sempre comparo Defesa da Fé com o Butantã, em São Paulo, ou com o Instituto Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro. As duas instituições produzem vacinas, antídotos, etc. Nelas, trabalham cientistas, doutores, médicos, técnicos, entre outros profissionais, sempre com o objetivo de produzir e distribuir o medicamento para todas as instituições de saúde do Brasil. Por exemplo: quando uma pessoa lá no extremo norte do país sofre uma picada de cobra venenosa, não precisa ir para outra cidade, basta procurar um hospital ou posto de saúde mais perto da sua casa e receber o medicamento. Quem aplica medicamente não precisa ser, necessariamente, médico. Da mesma forma o ICP. A Bíblia diz, em Efésios 4.11: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”. Na nossa instituição, temos como colaboradores doutores na Palavra. Como exemplo, posso citar alguns nomes: Russel Chedd, Gordon, Natanael Rinaldi, entre muitos outros. Eles produzem material para prevenção contra seitas e heresias, e esse material funciona exatamente como vacinas e antídotos. E, como esse medicamento chega até os irmãos que se encontram espalhados por este vasto Brasil? Por meio de palestras, vídeos, livros, Bíblia Apologética e, sem dúvida, pela Defesa da Fé. Quando a igreja recebe as nossas palestras, aprende como os hereges são dedicados em defender suas crenças. Daí o paralelo. Se fizéssemos pela verdade o que eles fazem pela mentira, com certeza o rebanho estaria bem mais protegido.

Defesa da Fé: Nessa longa jornada, Defesa da Fé cumpriu um papel preponderante em nosso meio evangélico ao publicar matérias muito importantes. Seria exagero afirmar, por exemplo, que a influência de algumas seitas ou grupos entre os evangélicos decresceu devido ao trabalho incessante da Defesa da Fé? Teriam sido estes os casos do jeovismo, do mormonismo, da maçonaria, das igrejas unicistas, por exemplo?

Antonio Fonseca: Aprendi, com certo pastor, o seguinte: se conseguirmos um leitor da revista em cada igreja, já seria uma grande ajuda na prevenção da igreja contra seitas e heresias. Essa pessoa passa, então, a atuar como um alarme na igreja. Toda vez que a igreja estiver tendo problemas com sectários, esse leitor saberá informar ao líder que existe uma instituição especialista no assunto. Então, Defesa da Fé tem mais de um papel, ou seja, não só de levar conhecimento ao leitor, mas, também, de fazer a ponte com o ICP. Uma vez que o líder entre em contato conosco, receberá todo suporte necessário para sanar a dificuldade que está enfrentando.

Defesa da Fé: Em contrapartida, também houve momentos em que Defesa da Fé não se pronunciou em relação a alguns temas polêmicos que envolveram a igreja durante esses anos. Diante disso, gostaríamos de pedir que nos esclarecesse quais são os critérios para a seleção dos temas publicados e como isso se harmoniza com a missão do ICP junto às igrejas?

Antonio Fonseca: Sim. É verdade. Para explicar, usarei uma analogia, porque é dessa forma que também agimos. Todos sabemos o papel do Exército: defender o país dos inimigos externos que possam surgir. Já o papel da polícia é proteger os cidadãos no seu convívio social interno. Seguindo essas comparações, a nossa instituição procura sempre agir como o Exército, ou seja, protegendo a igreja dos inimigos externos, aqueles que não têm como regra de fé o “Cremos” ortodoxo da fé cristã. Já os problemas internos, quando surgem, preferimos deixar para os pastores representantes de cada denominação resolver. O ICP é um ministério e não uma igreja, uma denominação. Entendemos que o mestre da Igreja é o Espírito Santo, que age de diversas maneiras, como disse Jesus a Nicodemos: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” (Jo 3.8). Portanto, a nossa missão é: alertar a Igreja sobre o crescimento e o perigo das seitas, inoculando os desprevenidos contra o proselitismo dos grupos pseudocrístãos e outros; ensinar a Igreja como discernir biblicamente entre a verdade e o erro e como defender as doutrinas fundamentais da fé cristã; mobilizar a Igreja para ganhar os adeptos das seitas para Cristo e tomar medidas preventivas para frear o crescimento das seitas e do ocultismo.

Defesa da Fé: A Bíblia Apologética de Estudos, em certa medida, traz em suas notas de rodapé as refutações que Defesa da Fé publicou durante todas essas edições. Assim, podemos considerar a Bíblia como um projeto impulsionado pela revista. Como se deu a idealização dessa Bíblia que até hoje é a mais bem sucedida entre as produções genuinamente brasileiras (não traduzidas)? Há novos projetos em vista?

Antonio Fonseca: Quando tínhamos uma oportunidade de encontrar com sectários para debate sobre algum tema, precisávamos levar muitos livros, apostilas e revistas para alicerçar o nosso argumento. Um dia, pensando sobre como resolver esse problema, me veio à mente colocar, de forma resumida, o material já produzido pelo ICP no rodapé da Bíblia. Dessa forma, quando um sectário fizesse uma citação bíblica, teríamos no rodapé da página do texto citado um resumo do agurmento do sectário e a resposta de defesa e todos poderiam usar como ferramenta para diálogo com sectários. A ideia foi tão bem aceita que antes de a Bíblia ficar pronta já tínhamos a primeira tiragem, de 20 mil exemplares, praticamente vendida. Atualmente, já imprimimos mais de 150 mil Bíblias Apologéticas. Assinamos um contrato para produção da Bíblia Apologética em alemão que deve ficar pronta em 2013, e estamos buscando parceria para produzir a Bíblia Apologética nas línguas inglesa e espanhola.

Defesa da Fé: Nessa caminhada até aqui, muitos foram os desafios e as dificuldades enfrentadas e vencidas. Há algum momento ou situação em que o senhor gostaria de destacar como fundamental para o prosseguimento das publicações?

Antonio Fonseca: Nossa maior dificuldade sempre foi econômica. Devido à nossa instituição ser sem fins lucrativos, e também não sermos igreja, não temos por costume ficar pedindo doações para nossos assinantes, salvo raras exceções. Ocorre que literatura impressa é muito cara em nosso país, fora a situação de instabilidade econômica que enfrentamos no passado. Precisamos, em alguns momentos, parar com a publicação para resolver a nossa situação financeira. Atualmente, com a economia brasileira estabilizada, a Internet também nos ajudou muito, pois nossos colaboradores desenvolvem as matérias em suas casas. Isso faz o custo operacional cair bastante. Praticamente, tudo é feito por meio da Internet. Tudo isso fez que durante esses últimos anos a revista voltasse a circular dentro da periodicidade normal. Entendemos que, agora, encontramos o vetor adequado para manter nossos assinantes satisfeitos.

Defesa da Fé: Por meio da revista, o ICP preserva um vasto intercâmbio cultural com outras agências apologéticas no Brasil e em outros países. O senhor poderia nos destacar algumas das parcerias mais importantes e profícuas para a produção dessas 100 edições?

Antonio Fonseca: Eu sempre ensinei que no reino de Deus, estabelecido aqui na terra, não tem monopólio. Toda obra pertence ao Senhor, o nosso Deus. Sempre partindo desse princípio, nunca me recusei a ajudar uma pessoa vocacionada para o ministério da apologética a desenvolver um trabalho independente. O ICP sempre deu, e continuará dando, suporte àqueles que desejam atuar nessa área. Como um grande exemplo, temos o CACP (Centro Apologético Cristão de Pesquisas) que se tornou também uma referência na área da apologética. Para o ICP, não existe concorrente, mas, sim, parceiros de ministério. Segundo o IBGE, cerca de 20% da população tornou-se evangélica, o que significa, aproximadamente, 40 milhões de pessoas. Não é difícil perceber como precisamos de pessoas e instituições para atuarem na área do ensino da teologia e da apologética.

Defesa da Fé: Defesa da fé cumpriu sua missão? O que os nossos leitores podem ainda esperar de Defesa da Fé para os próximos anos?

Antonio Fonseca: Durante a primeira década da existência do ICP, o seu fundador aqui no Brasil, dr. Walter Martins, ajudou a instituição com uma quantia financeira significativa. Durante dez anos, os pioneiros do ICP viajaram por todo o Brasil produzindo material em forma de apostilas de todos os grupos sectários que encontravam. Na época, não tínhamos computador e toda consulta precisa ser feita em livros e, muitas vezes, não tínhamos na língua portuguesa. Além disso, era tudo datilografado. A partir da segunda década, a instituição, devido ao falecimento do dr. Walter Martins, parou de receber ajuda financeira. E foi nesse momento que surgiu a revista Defesa da Fé, que teria o papel de levar aqueles estudos e pesquisas produzidas pela instituição e, também, arrecadar fundos para a sobrevivência ICP. Bem, já se passaram três décadas e o ICP continua firme na missão para a qual foi concebido, ou seja, ajudar a igreja na proteção e combate contra seitas e heresias. Mas, ainda temos sonhos a serem realizados. E um deles é atingirmos o número de assinantes suficientes para mantermos um programa de ensino de teologia e apologética em TV aberta. Já tivemos uma experiência na Rede TV durante um ano. Tivemos de recuar devido ao nosso parceiro, na época, estar enfrentando um sério problema de saúde na família. Mas, graças a Deus, tudo foi resolvido. Começamos, em outubro deste ano, um programa aos sábados na TV Boas-Novas, mas não queremos parar por aí. Gostaria de concluir esta entrevista convidando você, leitor, a nos ajudar a realizar o nosso sonho divulgando Defesa da Fé na sua comunidade, escola, trabalho e renovando sua assinatura. A Igreja cresceu muito nos últimos anos e uma forma eficaz de levarmos ensino ao grande número de fiéis é, com certeza, por meio da televisão. Lembre-se do nosso lema:“Você estaria disposto a fazer pela verdade o que as seitas fazem pela mentira?”.

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