Em Mateus 22.29, lemos sobre a resposta de Jesus quando Ele foi interrogado pelos sábios religiosos da sua época a respeito de questões morais inerentes à lei de Moisés: "Errais não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus" (Mt 22.29). Isso porque, dizendo-se sábios, aqueles homens procuravam basear sua fé nas porções do Antigo Testamento.
Paulo também testemunhou da importância e prioridade do evangelho no plano de Deus, dizendo: "Não me envergonho do evangelho porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16). Basta-nos folhear as páginas do Novo Testamento para verificarmos a importância do evangelho para Jesus, Paulo, Pedro ou qualquer outro escritor neotestamentário.
Entre os cinco pilares da codificação espírita de Alan Kardec, desejamos traçar alguns comentários sob um ponto de vista bíblico neotestamentário do livro O evangelho segundo o espiritismo. O nosso objetivo, a seguir, é torná-lo, amado leitor, que você, apto para considerar a assertiva de Allan Kardec de que "cristianismo e espiritismo ensinam a mesma coisa". A grande pergunta é: Será?
Conforme definido pelo dicionário, o vocábulo dogma quer dizer "decisão, decreto, ponto fundamental e indiscutível de uma crença religiosa, proposição apresentada e aceita como incontestável e indiscutível". Essa palavra causa aversão a Allan Kardec, de modo que uma de suas primeiras preocupações é estabelecer uma clara e nítida distinção entre moral e dogma. Assim, vejamos o que ele fala sobre o ensinamento moral de Cristo: "Para os homens, em particular, é uma regra [o ensinamento moral] de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida particular ou pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas sobre a mais rigorosa justiça".
Sua intenção, com isso, é codificar uma doutrina moral universal, livre e longe das históricas e milenares discussões dogmáticas presentes na história da Igreja. Nas suas palavras, o "evangelho segundo o espiritismo" reúne, "por assim dizer, um código moral universal sem distinção de culto". Além disso, o espiritismo é considerado a chave para entender inteiramente o verdadeiro sentido do evangelho. Grandes intenções, não?
Contudo, um ponto merece consideração: se não podemos dizer que os temas da doutrina espírita são dogmas, como definiremos, então, ideias como a reencarnação? Não é este o ponto central, fundamental e básico para todo o restante da doutrina espírita? Não é ele estabelecido como um "conceito a priori", isto é, um conceito sobre o qual não há discussão? Ou seria este um "conceito científico"?
É evidente que não! Por mais que haja supostas "evidências", a reencarnação é um conceito dogmático que depende totalmente da fé daquele que crê. Alan Kardec responde: "A reencarnação, esse belo dogma, eterniza e precisa a filiação espiritual". Como nota de rodapé, Allan Kardec defende essa palavra dogma como um termo em seu sentido "racional, como princípio e não como um dogma de fé".
Perguntamos, então, qual é a diferença de um dogma como princípio ou como ponto de fé? Será que existe mesmo essa diferença? Se é que ela existe, seria mesmo a reencarnação um ponto racional de reflexão? Soa algo, no mínimo, estranho, já que, considerado como conhecimento humano, sem considerar religião, ciência, filosofia ou senso comum, qualquer um diria que a reencarnação é um ponto de fé, assim como é a ressurreição ou outra doutrina qualquer.
Na verdade, essa é uma tentativa de "vestir" a doutrina com uma roupa moderninha, "contextualizada" com a ciência, a filosofia e outros ramos do saber humano, promovendo entre eles uma mescla que se emaranha e se perde em si mesma. O próprio Allan Kardec orienta: "Crede sem precisar ver e aceitas os fatos da mediunidade". Como o leitor define isto? Pense! Com critério!
E o que diremos do famoso chavão: "Fora da caridade não há salvação"? E da declaração: "Caridade e humildade, esta é a única via de salvação; egoísmo e orgulho, a da perdição"? Ou, ainda, da declaração de que a lei do progresso é uma lei [da natureza] universal e plenamente aplicável ao aperfeiçoamento do espírito? Não seriam postulados dogmáticos?
Assim, mesmo negando, Allan Kardec afirma aquilo que quer negar: o dogma é parte central de sua doutrina expressa no Evangelho segundo o espiritismo. Ainda que alguns tópicos tenham certa aparência de moral, esse não é um caráter exclusivo de seus termos, como, por exemplo, amor, orgulho e humildade. Todos esses e outros conceitos envolvem aspectos dogmáticos intrínsecos às suas terminologias e relações que estabelecem com a vida do homem. A linha separatória entre a religião e a moral que Allan Kardec se orgulha de traçar não é tão forte. Pelo contrário, é tênue e permeada de elementos conceituais dogmáticos cheios de controvérsia, quando profundamente confrontados.
É sabido e indiscutivelmente aceito que, em qualquer leitura sincera, o leitor que se dedica a entender determinado assunto precisa ler a obra por completo. Isso se torna evidente num Código Penal (que é um conjunto de leis), num romance policial, num noticiário escrito, num gibi da turma da Mônica ou mesmo numa revista de fofoca.
Em qualquer desses gêneros literários mencionados acima não existe possibilidade de pleno entendimento a menos que o leitor compreenda a obra como um todo. Com a Bíblia não é diferente. Existe um artifício indispensável na hermenêutica, a arte de interpretar textos (sejam eles bíblicos ou não), denominado contexto, artifício que, grosso modo, visa determinar o que o autor do texto quis dizer estando inserido naquela situação histórico-geográfica e também textual.
Dessa forma, fica mais do que claro que, basear uma doutrina em trechos de uma obra literária e atribuí-la ao protagonista dessa obra, é, no mínimo, deslealdade e ousada petulância. Como diz o velho jargão "A Bíblia é a fonte de todas as heresias". Eis, no espiritismo, um claro e nítido exemplo.
É evidente que, nesse ponto, estaremos diante de um argumento tipicamente espírita: toda a Bíblia é digna de confiança? O próprio Allan Kardec trata de responder: "Não!". Contudo, existe, já de imediato, nessa afirmação, uma ambiguidade no raciocínio espírita que, ora prega que sua doutrina é fundamentada em parte na Bíblia (nas porções seletas dos evangelhos), ora afirma que sua doutrina é completamente distinta da Bíblia.
Ainda há de se considerar que, embora não haja um consenso sobre o exposto, cabe ao próprio Allan Kardec a incumbência de "separar" os fatos, relatos e doutrinas que o próprio Cristo viveu, classificando-os como "verdadeiros ou divinos" ou "mitológico/alegóricos" ou "humanos". Isso tudo realizado ainda que num só livro como um dos evangelhos.
Diante disso, analisando o argumento de que esse ou aquele escrito é ou não digno de confiança e/ou digno de ser citado como princípio espírita vindo do próprio Cristo, o mesmo se torna frágil frente à seleção sem maiores critérios estabelecidos por Allan Kardec, a não ser o critério de sua livre escolha para "encaixar" sua doutrina de fora para dentro.
Talvez, nesse ponto, um adepto do espiritismo possa pensar que estamos usando termos equivocados como "escritos verdadeiros ou divinos" para expor nossos argumentos. Entretanto, considerando o que acima foi exposto sobre dogma e/ou moral, não vemos tanta distinção entre os termos. Além disso, o próprio Allan Kardec tem orgulho de utilizar termos como "o espírito da verdade", por exemplo. Não nos soa isso algo dogmático?
É perfeitamente incompreensível que Allan Kardec tome, por exemplo, um texto do evangelho de João e o utilize para justificar essa ou aquela doutrina, desconsiderando o que está escrito duas páginas antes ou depois nesse mesmo livro. Perguntamos: "Esse critério de seleção é digno de confiança? Onde se encaixa, então, o autor, o tempo do autor, o propósito do autor, o contexto do autor, enfim, todas as variáveis implicadas que responderiam, onde, como, o quê, porque e para quem o referido autor escreveu o que escreveu?".
Isso é conhecido como hermenêutica. Parece que Allan Kardec não considerava essas variantes da literatura ou, pelo menos, não queria fazê-lo em relação à Bíblia, pautado sob uma suposta empreitada rumo ao resgate da doutrina moral de Cristo. Definitivamente, Allan Kardec desconsidera questões como essas, básicas para qualquer bom entendimento.
Traçando uma perspectiva linear e uniforme, Allan Kardec alicerça sua doutrina desde os pensamentos de Sócrates e Platão, passando por Jesus Cristo e, até mesmo, por Santo Agostinho. Como que coberto por um infinito tempo da história humana, Allan Kardec ressalta que sua doutrina, além de amplamente fundamentada na "lei espiritual" da comunicação dos espíritos como única forma de comunicação divina ao homem, ele estabelece que, desde os primórdios a humanidade, acreditava em conceitos tais como os conceitos centrais da sua doutrina. É certo que um tema como a reencarnação remonta aos primórdios da humanidade. Isso é muito bem visto na história do povo hindu, budista, ou seja, do povo oriental como um todo.
Contudo, alguns erros crassos saltam aos olhos mesmo do mais leigo estudioso que se debruça sobre o tema. Por exemplo: qual é a autoridade histórica usada por Allan Kardec para afirmar que a milenar crença judaica na ressurreição era, na verdade, uma forma de crença na reencarnação? Como pode ele afirmar que "a ressurreição fazia parte dos dogmas judeus sob o nome de ressurreição"? Quantos mil anos o povo judeu acreditou e acredita no dogma da ressurreição como conceito plenamente estabelecido? Quem foi Allan Kardec para negar esse fato e os milhares anos de história da humanidade registrados por tantas e tantas mãos e olhares atentos? Na simples visão de um leigo, isso pareceria, no mínimo, um disparate por parte de Kardec.
De onde vem o critério de "seleção" dos textos bíblicos considerados "verdadeiros", já que foram inseridos na doutrina espírita? E qual pé o critério para o rechaçamento de todos os demais? Se, como dizem os espíritas, alguns livros bíblicos foram "corrompidos" pela Igreja Católica, o que não é verdade, como saber realmente, dentro de um próprio livro da Bíblia, qual texto foi ou não alterado durante os séculos?
Quando nos referimos aos textos verdadeiros, estamos falando de um ponto de vista puramente literário, não dogmático, ou seja, textos verdadeiramente escritos por um autor com um propósito e que não sofreram "corrupção" pela mão de outros homens.
A resposta é uma só: as escolhas são feitas "de fora para dentro", ou seja, os textos utilizados por Allan Kardec, como que expressando palavras doutrinárias do próprio Deus, são escolhidos por ele para uma autenticação ou legitimação de sua doutrina como se ela assim o fosse desde os tempos passados. Pensemos nisso!
Não nos parece incoerente o fato de Allan Kardec, em meados de 1850, "pinçar" alguns textos escritos centenas de anos antes, com toda uma conotação, um pano de fundo histórico que não pode ser desconsiderado, para referir-se às doutrinas que, supostamente, já estavam presentes nesses mesmos tempos quando foram escritos (apenas com uma linguagem diferente)? É, no mínimo, incoerente. Perguntamos: "E o que fazer com o restante daquilo que os mesmos textos tratam? Não são, da mesma forma, historicamente dignos de aceitação, já que refletem crenças milenares e, segundo o que diz a Bíblia, palavras, doutrinas e atos do próprio Cristo Jesus, tais como seus infinitos esboços sobre sua vida e seu propósito: a cruz do Calvário como instrumento áureo da salvação de todo homem?".
Da mesma forma que Allan Kardec digna-se de pertencer a uma nova "filosofia" que remonta aos primórdios dos tempos, alicerçada numa ampla base histórica e filosófica, o mesmo denomina-se como "a ponte entre a ciência e a religião". Com o objetivo de tornar mais amena essa relação há séculos cheia de controvérsias e disputas teóricas, Kardec desenvolve um raciocínio que tenta mostrar o espiritismo como uma nova forma de ciência, exemplificando com o fato de que, a cada dia, cresce o número de cientistas interessados em ratificar vários conceitos da doutrina espírita. Contudo, aqui, algumas notas merecem breves considerações.
Para um leitor iniciante que se aventurar numa leitura do Evangelho segundo o espiritismo, parecerá até mesmo irônica a forma como Allan Kardec coloca a posição da doutrina espírita como algo plenamente de acordo com os postulados científicos de sua época, quando o modelo teórico de ciência vigente era muito mais positivista e empirista do que hoje. Assim, ele deve ter encontrado sérios problemas em considerar a sua forma de ciência numa Europa ainda regida pela era das luzes, quando o conhecimento empírico constituía no topo inabalável da pirâmide do conhecimento humano. Imaginemos qual foi a repercussão da consideração kardecista do espiritismo como uma nova ciência? Onde se encaixariam a reencarnação, a preexistência e a imortalidade da alma, Deus, entre outros ensinamentos bíblicos?
Perguntamos: Saindo do mundo das ideias, da abstração, e partindo para um mundo experimental (uma das principais características do modelo científico vigente de sua época), como é possível relacionar a reencarnação com ciência? E a comunicação dos espíritos? É possível provar a vida futura como uma realidade material? Como sustentar a defesa de Allan Kardec de que "a vida futura não é mais uma hipótese? É uma realidade material, demonstrada pelos fatos por meio de testemunhas oculares"? Parece meio complicado. Quem seriam as testemunhas oculares? Seriam todas elas dignas de confiança, a ponto de estabelecerem um novo modelo de conhecimento, como o propõe o espiritismo? A impressão que se tem é de que Kardec força uma situação universal para "provar" seus argumentos e postulados.
Ainda hoje, seria possível considerar o modelo espírita como forma de ciência? Parece que não. Considere-se a questão do dogma e de alguns aspectos morais amplamente baseados em ideais de fé. Seria possível chamar tais pensamentos de científicos, ainda que no modelo paradoxal ou da relatividade da atual ciência? Dificilmente! O que nos parece é que, querendo encontrar algo, o cientista espírita se propõe a investigar a realidade em busca de respostas que deseja ouvir para confirmar aquilo em que ele já crê. Isso, definitivamente, não é ciência.
Enfim, a tentativa de confirmar o espiritismo como uma nova ciência parece inválido. Ainda que a nossa época viva um intenso período de crítica do modelo positivista vigente há décadas em detrimento de uma concepção mais relativa em todos os campos da ciência (na mecânica quântica, na física quântica, etc.), parece longe a ideia de tornar o espiritismo parte integrante dessas ciências, dadas as suas características centrais e determinantes de suas doutrinas.
Digno de nota é o esforço dos espíritas em "melhorar o mundo" numa perspectiva social. Grandes são suas obras e louváveis são seus esforços direcionados aos mais pobres e oprimidos. Não deixemos de louvar essas atitudes que tanto faltam ao homem como um todo e que tão bem fariam à vida humana se incorporadas à rotina de cada um.
Assim, é muito válida a tentativa de melhorar o mundo com atitudes concretas como os espíritas fazem. O que questionamos são as suas motivações para isso. Isso, deixemos para depois. Por ora, detenhamo-nos em analisar os argumentos espíritas de que a evolução do homem, socialmente falando, é uma prova da evolução universal que ocorre e a qual o homem está sujeito, como que a uma lei.
É certo que a humanidade teve períodos bárbaros em que a civilização vivia num sistema de "cavernalização", num tempo em que predominava a opressão total, a escravidão em todos os sentidos, e toda uma gama de outros males sociais que se dissiparam durante as últimas décadas. É do mesmo modo evidente que o homem, no que concerne ao desenvolvimento tecnocientífico, deu um salto inigualável nos últimos anos, tal qual nunca foi apreciado nos milhares de anos anteriores aos nossos séculos 20 e 21. Isso posto, precisamos convir que, em diversos vértices, o homem evoluiu e muito.
Contudo, conforme argumentado por muitos, não cresceu de igual modo um grande número de "mazelas sociais"? O que dizer da fome, dos homicídios, das guerras (atualmente, muito mais civis), da degradação dos relacionamentos humanos, de uma perda de afetividade em muitas esferas sociais, do poder inigualável do capital de governar o mundo, da desestruturação progressiva da família, etc.?
Não seriam, ao menos alguns desses fatos, típicos exemplos de uma degradação inerente ao homem, a qual denominamos pecado? Certamente, não, responderiam os espíritas. Diriam que se trata, pelo contrário, de um momento histórico na evolução humana que tende a decrescer e desaparecer. Se aceitássemos, por motivos conceituais, tais prognósticos, poderíamos até concordar com o argumento espírita. Mas, como não o fazemos, é, porém, visível essa involução, pelo menos no que se refere às últimas décadas da história do homem.
Se existem indagações sobre o espiritismo acerca dos conceitos abordados anteriormente, quanto mais em se tratando de Bíblia. É interessante que, ao mesmo tempo em que Allan Kardec afirma veementemente que não tem compromisso doutrinário com a Bíblia, tenta fundamentar algumas de suas ideias na mesma. Um pouco paradoxal, diríamos, já que várias dessas ideias são de cunho dogmático, tal qual o famoso argumento reencarnacionista de João Batista e Elias.
Pois bem, analisemos alguns desses ditos argumentos. Não nos prenderemos aqui a uma análise dos já clássicos versículos utilizados segundo uma interpretação espírita para fundamentação de suas doutrinas.
Acerca do tema central, o pilar primeiro da doutrina espírita: a reencarnação, e sua relação com os evangelhos, apenas dizemos que a literatura hoje existente é farta e abundante para eliminar qualquer sombra de dúvida. Mas, em se considerando isso, outras ideias vêm à mente. A lei do progresso, por exemplo. Onde estaria ela exposta nas páginas do evangelho? E o que dizer dos diversos mundos por onde vaga o espírito do homem até se tornar um espírito puro? Por que Jesus não fez menção de nada disso?
Por um motivo básico, diriam os espíritas: o mundo não estava pronto intelectual e moralmente para entender tal mensagem. Nas palavras de Allan Kardec: "Foi Moisés quem abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o espiritismo a concluirá". Será justo esse argumento? Analisemos.
De acordo com o exposto, a reencarnação e seus conceitos periféricos (o carma, a caridade como meio de salvação, a preexistência da alma e sua evolução, etc.) não têm nada de novo. Pelo contrário, são conceitos milenares, presentes em muitas religiões orientais, como, por exemplo, no budismo, em algumas formas de hinduísmo, entre outras.
Assim, o que o espiritismo traz peca no caráter ineditismo. Apenas sua roupagem foi intelectualizada, mas suas bases já haviam sido lançadas há séculos. Portanto, não se trata de uma questão de capacidade intelectual ou moral para entender tal perspectiva, mas de um sofisma, um engodo que serve de base para algo que só tem aparência. Ou será que a mudança da metempsicose (doutrina que prega a reencarnação da alma humana em animais) para a reencarnação estritamente humana necessita, assim, de tanta evolução intelectual ou moral para ser compreendida?
Além do mais, como foi composta a religião cristã? Não foi de judeus? E não deixou Jesus todas as orientações para que um cristão judeu ou não judeu vivesse uma vida digna de ser chamado cristão, tanto naquele tempo como nos dias de hoje? Onde está a consideração da "evolução cultural" para o entendimento da vontade de Deus?
Toda doutrina que o homem precisa para conhecer a Deus e servi-lo está expressa nas palavras de Jesus, ditas aos judeus, dois mil anos atrás. Isso põe abaixo a tentativa do espiritismo de se colocar como consolador em mais uma tentativa "bíblica" de fundamentar suas doutrinas.
Desconsiderando o fato histórico de Atos 2, em que o Consolador foi enviado ao mundo por Jesus, os espíritas se colocam no lugar dele. Mas, mesmo em se tratando apenas de evangelho, não são as doutrinas do espiritismo estranhas à luz do próprio evangelho, e, como em alguns casos, até oposta? Que dizer da reencarnação? Que dizer do sacrifício de Jesus na cruz como substituição pelo pecado do homem e não apenas como mero exemplo de sacrifício e amor?
Aliás, não reside justamente aí o fundamento e a trave central de todo o cristianismo, isto é, na morte e ressurreição de Jesus Cristo para a salvação de todo aquele que crê? E não é justamente isso que o espiritismo nega com a clássica afirmativa de Allan Kardec de que cabe ao homem promover sua autossalvação, não sendo o sangue de Cristo suficiente para salvar o homem?
Então, ficam as perguntas: Como considerar o espiritismo cristão? E como considerar um espiritismo segundo o evangelho?
Podemos concluir, após tudo o que foi considerado, que o espiritismo nada mais é do que uma tentativa de resgatar várias ideias milenares sob um traje "moral", sustentando uma doutrina segundo a qual a felicidade é o fim de toda a humanidade, dado o estado de progresso de cada alma. Mas, a Palavra de Deus nos chama a considerar outra cosmovisão.
O espiritismo comunga com a ideia de um universo criado por um "deus" que cria novos espíritos que devem progredir. Portanto, por lógica, podemos concluir que Deus cria espíritos imperfeitos, ou como prefeririam os espíritas, pedras brutas a serem lapidadas.
Os cristãos, por outro lado, acreditam que Deus criou um homem perfeito, santo e sem culpa alguma, mas que, por sua liberdade, decidiu desobedecer ao Criador e fazer a sua própria vontade, caindo em pecado, posição em que, hoje, se encontra toda a raça humana. Está aí a origem do mal que tanto afligem, também, os espíritas.
Enquanto o espiritismo comunga da ideia de que o homem evolui a todo preço, e que a lei do progresso é uma lei universal, a qual todo homem está sujeito, e que, por ela, todo espírito pode se tornar puro espírito após sucessivas vidas e reencarnações, afirmando assim que cabe ao homem ser o seu próprio salvador mediante uma vida de altruísmo e caridade, os cristãos reconhecem que, por sermos pecadores e termos a imagem de Deus manchada em nós mesmos, precisamos de um Salvador que não pode ser diferente do que o próprio Deus: Jesus Cristo.
As poucas citações bíblicas e as poucas referências à literatura kardecista aqui exaradas deixam claro que o espiritismo, biblicamente falando, é falso. Não se pode, de forma alguma, dizer que o espiritismo é cristão.
Por fim, ratificando essa cosmovisão bíblica, afirmamos, juntamente com o autor de Hebreus 9.27: "Ao homem está ordenando morrer apenas uma só vez, vindo depois disso o juízo".
Eis o final da obra que Jesus iniciou na terra, da qual tratam os evangelhos. Desse desfecho, nenhum homem poderá escapar!
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