Defesa da Fé

Edição 38

Tenha Bons Sonhos


Elvis Brassaroto Aleixo

A revista "Elevação", em sua edição de fevereiro de 2001, trouxe como matéria de capa o seguinte tema: "Os sonhos não mentem: quando o espírito viaja, manda mensagens. Prepare-se para interpretá-las".

Mas, será que o nosso espírito viaja enquanto sonhamos? Os sonhos realmente não podem mentir? Todos os sonhos possuem interpretações? São suas origens sempre divinas? Tais

perguntas exigem respostas satisfatórias. Amparados pela Bíblia (Livro inteiramente inspirado por Deus e digno de confiança - 2Tm 3.15-1 7) é a que as responderemos.

AIlan Kardec, considerado mestre divino do espiritismo ortodoxo, declara: "O sonho liberta parcialmente a alma do corpo. Dormindo, ficamos momentaneamente no estado em que, de modo permanente, ficamos depois da morte. O sonho é a lembrança do que seu espírito viu durante o sono. Quando o corpo repousa, o espírito tem mais liberdade do que em vigília"1.

A Bíblia ensina que "Deus formou o espírito do homem dentro dele" (Zc 12. 1). Enquanto vive o homem, seu espírito, em nenhum momento, está separado do corpo e da alma (l Ts 5.23). Esta separação só ocorre com a morte: "Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto..." (Tg 2.26). Isto também pode ser confirmado em Lucas 8.54-55: "Mas ele, pondo-os todos fora, e pegando-lhe na mão, clamou, dizendo: Levanta-te menina. E o seu espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer". Constatamos, portanto, que o corpo humano físico sem o espírito necessariamente está morto.

Ora, se concordássemos com a herética doutrina de Allan Kardec, que diz que o nosso espírito viaja enquanto dormimos, então, à luz da Bíblia, teríamos de admitir que morremos todas as vezes que dormimos, ou seja, no mínimo uma vez por dia, o que é veementemente contestado pelas Escrituras, que dizem: "aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disto o juízo" (Hb 9.27). Morremos uma vez, e não um número indefinido de vezes!

Ainda deve ser considerado que o "Espírito Santo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16) e, neste sublime momento, na augusta presença do Senhor, gozamos da verdadeira liberdade. O apóstolo Paulo diz: "Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade" (2Co 3.17). Definitivamente, o espírito do cristão tem liberdade mediante sua comunhão com Deus, não estando condicionado à vigília ou ao repouso do corpo para isso.


Os sonhos não mentem?


Para responder a esta pergunta precisamos entender que os sonhos, em sua natureza comum, nada mais são do que uma "seqüência de fenômenos psíquicos (imagens, representações, atos, idéias, etc) que ocorrem durante o sono involuntariamente"2.

Mas, infelizmente, não é isso que diz a revista "Elevação": "Pare por alguns segundos e pense em alguma relíquia, tesouro, preciosidade ou em algo que tenha um valor imensurável para você. Pensou? O grau de valor que você atribui para este objeto pensado você deveria atribuir para os sonhos que você tem"'.

Será que continuamente podemos atribuir a tais ocorrências involuntárias tão grandes valores? Entendemos que nem sempre os sonhos são importantes ou nos querem dizer algo, mas que podem ser uma conseqüência da vida corriqueira de todo ser humano normal: SONHAR! O sábio rei Salomão parece concordar com isto dizendo: "Porque da muita ocupação vêm os sonhos" (Ec 5.3).

Na verdade, esta pergunta (os sonhos não mentem?) só tem sentido porque alguns deles podem ser interpretados e estas interpretações podem ser verdadeiras ou falsas. Com isso, surge outra questão:


Todo sonho possui interpretação?


Qual é o sentido do sonho? Em resposta a esta pergunta, o psicólogo Marcos Fleury se pronuncia da seguinte maneira: "A interpretação do sonho nunca deve ser fechada, pois possui uma multiplicidade de níveis de sentido"4. O fato de que todos os sonhos podem ser interpretados é uma falácia e, para comprovar esta afirmação, citaremos algumas dicas de certos "expertos" no assunto:

"Faça associações espontâneas em torno destes seis elementos do sonho:

1 Imagens: Interprete-as por meio de metáforas.

2 Personagens: Os diversos personagens de um sonho podem ser traços de sua personalidade.

3 Sentimentos ou sensações.

4 Enredo do sonho.

5 Frases expressivas.

6 Fazer curta associação exatamente assim: o que cada um destes elementos me lembra? 5"

Como se observa, tudo está baseado no subjetivismo. Através disso, fica evidente por que os sonhos possuem "multiplicidade de níveis de sentido", pois não existem parâmetros a serem seguidos. Cada pessoa interpreta-os como quer!

Procurando dar explicações aos sonhos, Allan Kardec pergunta: "Você não conhece numerosos exemplos de pessoas que aparecem em sonhos e vêm prevenir parentes e amigos do que vai acontecer? Que são essas aparições senão a alma ou o espírito dessas pessoas que vêm comunicar-se com o seu?6

Em uma de suas narrativas, Jesus conta a história de um homem rico que, após sua morte e sepultamento, se viu no inferno, em tormentos. Este rogou a Abraão que o mandasse a casa de seu pai, pois tinha cinco irmãos e desejava dar-lhes testemunho, a fim de preveni-los para que não fossem também para aquele terrível lugar. Abraão respondeu-lhe que esta prevenção seria feita pelos vivos, através dos escritos de Moisés e dos profetas, sendo este o único meio de ajudá-los (Lc 16. 193 1). Aquele homem não poderia prevenir seus irmãos nem mesmo através dos sonhos!


As origens dos sonhos


Na Bíblia encontramos algumas maneiras usadas por Deus para comunicar-se com os homens. Pelos sonhos - revelação pessoal (Jó 33.15-17); pelos Urim e Tumim revelação sacerdotal (Êx 28.30); e pelos profetas - revelação inspiracional (Hb 1.1). As Escrituras estão repletas de circunstâncias através das quais os sonhos tiveram verdadeiros significados para diversos propósitos.


No Antigo Testamento

- O sonho de Abimeleque. Ele é orientado por Deus a não tomar a mulher de Abraão sob risco de morte (Gn 20.3);

- O sonho de Jacó em Harã. Deus lhe confirma as promessas antes feitas a Abraão e Isaque de que abençoaria sua descendência por meio de todas as famílias da terra (Gn 28.10-17);

- O sonho de Labão. Ele é alertado por Deus a não praticar o mal contra Jacó (Gn 31.24);

- Os sonhos dos oficiais de Faraó na prisão, através dos quais eles contribuíram depois para que José fosse introduzido na presença do rei do Egito para interpretar o sonho do monarca (Gn 40.1-23);

- O sonho de Faraó teve grande importância para os propósitos divinos em relação ao destino das nações e provisão de um lugar para o seu povo escolhido (Gn 41.1-7);

- O sonho de Salomão. Na ocasião, ele pede a Deus um coração entendido para julgar de maneira prudente o numeroso povo israelita (1 Rs 3.5);

- E O sonho de Nabucodonosor, rei da Babilônia. Ele ficou perturbado e convocou os adivinhos para que lhe revelassem seu respectivo significado (Dn 2. 1);


No Novo Testamento

- O sonho de José lhe fez entender que sua noiva, Maria, teria o privilégio de dar à luz o Salvador, o Messias prometido, por obra sobrenatural do Espírito Santo (Mt 1.20, Is 7.14);

- O sonho dos magos. Eles foram prevenidos por Deus que deveriam partir para suas terras por outro caminho, visto que Herodes, usurpador rei da Judéia, pediu-lhes orientação acerca do paradeiro do menino Jesus, porque pretendia matá-lo (Mt 2.12);

- Novamente José teve um sonho que o instruiu a voltar para Israel depois da morte de Herodes, que resolveu matar todos os meninos com menos de dois anos de idade em Belém e em todos os seus contornos, o que motivou, no passado, sua fuga com sua família a

- O sofrido sonho da mulher de Pilatos, que aconselhou seu marido a abster-se do julgamento de Jesus porque verdadeiramente era um homem inocente (Mt. 27.19).

De fato, os sonhos permearam grandes e importantes eventos bíblicos. Dentre diversas outras maneiras, constituem um meio de comunicação entre Deus e o seu povo: "Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama. Então o revela ao ouvido os homens, e lhes sela a sua instrução" (Jó 33.15-16). A importância do sonho é também caracterizada no livro do profeta Joel, onde foram revelados os principais resultados do derramamento do Espírito Santo: "vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões" (Jl 2.28). O apóstolo Pedro trouxe à memória, no seu inflamado discurso em defesa do evangelho, a profecia que se cumpriu nos seus dias quando, em Jerusalém, era celebrada a importante festa sagrada judaica: o Pentecoste (Jl 2.28, At 2.17-21).


Repercussão do sonho


No meio evangélico, às vezes, por falta de conhecimento bíblico dos cristãos os sonhos causam grande polêmica. Os irmãos de José, filho de Jacó, conspiraram matá-lo por causa de seus sonhos (Gn 37.19). A exemplo do que acontece com as profecias, o espírito hurnano também pode confundir a mensagem dos sonhos como sendo divina (Jr 23.16, Ez 13.2-3). A Bíblia admite a possibilidade de uma profecia ser de inspiração demoníaca como também humana

Os líderes das seitas, em geral, se valem dos seus sonhos e visões para justificar suas doutrinas. Colocamos em foco Josué B. Paulino, líder dos adeptos do nome Yehoshua. Com o propósito de fortalecer seu principal ensino (a pronúncia do nome Yehoshua tem origem divina e a de Jesus, pagã) declara:

Em maio de 1995, a minha filha Miriã teve um sonho e assim me relatou: Sonhei que havia terminado de assistir a um estudo bíblico sobre o nome de Yehoshua e havia ficado preocupada com o significado deste nome. Então eu estava lendo um livro e nesse livro aparecia a inscrição: INRI, esse nome brilhava e clareava todo o quarto onde eu estava e eu senti um grande poder; sentia como que uma voz dizia: INRI significa YEHOSHUA NAZARENUS REX IUDEAEROUM em latim, em hebraico é YEHOSHUA HANOZRI WUMELECK HAYCHUDIM (YHWH) e em português, YEHOSHUA NAZARENO REI DOSJUDEUS.7 (Para refutação, ler matéria de Defesa da Fé, ed. 27, pp.46-53, intitulada Resposta aos adeptos do nome Yehoshua").

É inconcebível tomar por verdadeiro algo que contradiz aquilo que já foi revelado por Cristo e seus apóstolos! Não nos parece razoável acreditar em sistemas doutrinários que tenham outra fonte de revelação além da Bíblia, a Palavra de Deus. Convém ressaltar o que sucedia com os falsos sonhadores no Antigo Testamento: "O sonhador morrerá quando falar em rebeldia contra o Senhor" (Dt 13.5).


Quem poderia interpretar os sonhos?


A revista "Elevação" (p. 59) responde: "O sonho é a manifestação expressiva e criativa da psique. Sendo assim, trata-se de uma propriedade humana. Portanto, cada um é dono do seu sonho. Logo, não existe ninguém melhor do que você mesmo para interpretar o seu próprio sonho, que foi criado por você".

Concernente à interpretação dos sonhos, destacamos que nem sempre eles são metafóricos. Às vezes, não precisam do menor esforço para que sejam interpretados. Como exemplo, temos, no Novo Testamento, os sonhos de José e dos reis magos com significados explícitos. Contudo, não foi este o caso dos sonhos dos reis do Egito e da Babilônia, que possuíam figuras e representações variadas. Confira a quem foi atribuído o poder de interpretação nesses últimos exemplos.

-"E Faraó disse a José: Eu tive um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que quando ouves um sonho o interpretas. E respondeu José a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó" (Gn 41.15-16).

- "Respondeu o rei, e disse a Daniel (cujo nome era Beltessazar): Podes tu fazer-me saber o sonho que tive e sua interpretação? Respondeu Daniel na presença do rei, dizendo: O segredo que o rei requer, nem sábios, nem astrólogos, nem magos, nem adivinhos


O sono dos justos


A indústria cinematográfica de Hollywood, através da conhecida série de terror "A hora do pesadelo", explorou os maus sonhos que fizeram de seus filmes sucessos de bilheteria. O principal personagem, Fred Khrugher, tem como função atormentar as vítimas que, desesperadas, lutam contra o sono para não dormir. A partir daí, começa o terror.

Ao contrário disso, os justos podem dizer: "Em paz me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança" (SI 4.8). Não precisamos temer os sonhos: "Quando te deitares não temerás; ao contrário, o teu sono será suave ao te deitares. Quer coma pouco ou muito, doce é o sono do trabalhador" (Pv 3.24).

Sonhos. Podemos confiar neles? Estejamos atentos e aptos para avaliar esta questão. "Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido" (1 Co 2.15).

Quer se lembre deles, quer não, tenha bons sonhos!


Notas:

1 "Elevação", edição no. 51 Fevereiro 2001, p. 58.

2 Dicionário Novo Aurélio Século Dg. Editora Nova Fronteira. 3 "Elevação", edição nº 5/ Fevereiro 2001, p. 56.

4 "Elevação", edição nº 5/ Fevereiro 200 1, p. 59.

5 " Elevação", edição nº 5/ Fevereiro 200 1, p. 6 1.

6 "Elevação", edição nº 51 Fevereiro 2001, p. 58.

7 "Um desafio ao cristianismo", Josué B. Paulino, p. 40.

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