Não é a primeira vez que o mundo fica perplexo diante de um alarme assombroso. Sejam relacionados à política, à ciência ou à religião, alguns acontecimentos têm mudado o rumo de nossa história. Na área científica, principalmente, os avanços e as descobertas vêm rompendo barreiras que outrora eram restritas apenas ao campo fértil da imaginação humana com temas fictícios, irreais. Exemplos desses impactos: em 1969, a chegada do homem à Lua; em 1978, o nascimento do primeiro bebê de proveta; em 1997, a clonagem da ovelha Dolly. As novidades não pararam por aí.
Voltando à frase primeira deste texto, no dia 29 de dezembro de 2002, a empresa Clonaid, nas Bahamas, anunciou aos quatros ventos da terra que havia trazido ao mundo, com sucesso, o primeiro clone humano, uma menina, nascida de cesariana, chamada Eva, "cópia idêntica" de sua mãe, uma americana de 31 anos. O fato curioso é que a empresa mantém laços estreitos com um movimento exótico conhecido como "Religião raeliana".
Nossas pesquisas revelaram tratar-se de um grupo totalmente fantasioso. Ao conhecer o teor doutrinário do movimento raeliano é possível equipará-lo às fantásticas histórias científicas de Julio Verne . Só que no caso de Verne as fantasias não passam de fantasias e, portanto, não são acreditadas por uma legião de adeptos.
Segundo ensina esse grupo, Jesus Cristo é meio-irmão de seu fundador e sua humanidade é fruto de experiências alienígenas realizadas há 25 mil anos, entre outros contra-sensos. Como se essas estranhas doutrinas não fossem suficientes, o movimento tem, ainda, gerado grande ceticismo e indignação entre os governos e as comunidades médicas e científicas de todo o mundo com sua controvertida declaração.
Dado a repercussão do fato, aprouve-nos pesquisar as origens e os fundamentos doutrinários desse grupo que, com muita rapidez, se tornou conhecido mundialmente.
O título da seita é uma derivação do nome de seu fundador, o francês Claude Vorilhon, autodenominado Rael, ex-jornalista e ex-piloto automobilístico.
Segundo Rael, tudo começou no dia 13 de dezembro de 1973, quando ele foi supostamente visitado por um ET, que se apresentou com o nome de Yahvé Elohim (dois nomes hebraicos de Deus utilizados na Bíblia hebraica). O fato ocorreu na cidade de Auvergne, região central da França.
Rael explica que "a palavra Deus é uma tradução malfeita do termo Elohim, que significaria aqueles que vêm do céu". Esse "ser" seria o presidente dos Elohim, seres divinos subalternos que, em seu primeiro contato, teriam raptado Rael e o transformado em um Messias. Na ocasião, esses seres lhe forneceram as origens remotas da criação e de todas as suas religiões. Um detalhe importante, segundo Rael, a mensagem dos ET's foi transmitida, impecavelmente, no idioma francês.
Rael conta que, por ser uma pessoa normal e "humilde", não havia entendido o motivo de ter sido escolhido pelos Elohim, pois achava que eles deveriam ter procurado as potências do nosso mundo para estabelecer seus propósitos. Mas os Elohim contestaram e afirmaram que existia uma imensa discórdia entre eles e as nossas organizações políticas, morais, religiosas e filosóficas, sendo, assim, impossível um contato amistoso com as nossas lideranças sem um mediador.
Mas a utopia de Rael continua, pois o principal motivo da escolha ainda não teria sido esse. Os Elohim não queriam ser ocultados pelos governos, permanecer no anonimato, o que fatalmente ocorreria caso se revelassem sem um planejamento, por isso escolheram um jornalista desconhecido e independente, sem vínculos com grandes organizações, um perfil ideal para suas finalidades.
No princípio de sua história, o grupo era chamado de Movimento Raeliano, mas sofreu uma alteração em seu título, sendo atualmente conhecido como Religião Raeliana. Mas como podemos observar, trata-se mesmo de mais uma nova seita, com uma nova revelação e um novo líder. A diferença é que esta não declara ser fruto de uma visão, sonho ou mensagem angelical, mas de um contato com extraterrestres.
Considerando a sua origem, alguns poderiam julgar que o movimento estaria fadado ao fracasso, sem seguidores e sem repercussão. Ledo engano. Hoje, contam com a adesão de 55 mil membros ativos e simpatizantes espalhados em 84 países. Atualmente, estão sediados no Canadá, em Québec.
A seita se gaba de possuir um conselho científico e um grupo de guias e sacerdotes que somam 130 pessoas no mundo inteiro, entretanto, as credenciais científicas de seus membros têm sido amplamente contestadas pelos profissionais do segmento.
Afirmam ser uma instituição sem fins lucrativos e intitulam-se como um movimento de caráter revolucionário constituído de livres pensadores, plenamente voluntários, não conformistas, trabalhando para mudar a si mesmos e a sociedade com o fim de acolher os seus "pais do espaço", os Elohim.
Como pode ser identificado na grande parte dos movimentos religiosos recentes, a doutrina raeliana tem na Nova Era o seu manancial doutrinário. Os elementos em comum podem ser flagrados sem o menor esforço. A crença em ET's é o pilar doutrinário do grupo. Conforme ensina seu fundador, os Elohim lhe confiaram-lhe a importante missão de edificar uma embaixada na Terra para recebê-los, e esses embaixadores se identificam como os grandes profetas das grandes religiões.
Assim como o movimento aquariano, os raelianos também tributam à humanidade um estado progressivo de evolução espiritual, vivendo, dessa forma, a iminência de um dia atingirem o nível em que poderão relacionar-se com os seres superiores, alcançando a "expansão do indivíduo". Acreditam que um dos principais índices dessa "maturidade" é a evolução holística dos relacionamentos humanos. Aguardam a unificação governamental do mundo, o estabelecimento de uma única moeda corrente, uma única língua e, como não poderia deixar de ser, alegam já conhecerem o Messias, Rael, o que para nós não é nada surpreendente.
Destacam-se, ainda, em sua coleção de heresias, a "meditação sensorial", cujo objetivo é fazer que seus praticantes reconheçam a "hierarquia entre as raças humanas" e, antagonicamente, sua auto-afirmação ateísta, o que revela o disparate e a confusão de conceitos doutrinários do movimento.
A primeira publicação de Rael é O livro que diz a verdade, França, 1974. Em suas edições em português, esta obra foi traduzida com o título O verdadeiro rosto de Deus. O livro explica o desenvolvimento da religião raeliana até os nossos dias. Poucos anos depois, Rael publicou outros dois livros: Acolher os extraterrestres (1979) e Meditação sensorial (1980). Suas obras foram traduzidas para mais de 25 línguas. O grupo publica também uma revista internacional de luxo, de periodicidade trimestral, chamada Apocalypse, criada para promover a filosofia e a inteligência dos Elohim.
Não bastasse a crença absurda em alienígenas, os raelianos ainda ensinam que somos criação de tais seres. Segundo Rael, o que ele chama de os "pais do espaço" estiveram, há 25 mil anos, em nosso planeta e criaram a nossa raça por meio de avançadas técnicas de clonagem. O tempo passou e os nossos antepassados começaram a desenvolver as diversas religiões que hoje conhecemos, acabando por mistificar os "pais do espaço", chamando-os de deuses.
O fundador da seita chega a ponto de descrever os "criadores da raça humana" e, para nossa surpresa, desta vez, sua imaginação não foi nada original. Rael diz ter presenciado, no interior de um vulcão inativo, próximo a Clermont Ferrand, no centro da França, a aparição de um óvni de sete metros de diâmetro, feito de metal brilhante, totalmente silencioso. Os ET's vistos por ele eram como os marcianos dos desenhos animados, seres de baixa estatura, aproximadamente 1,20m de altura, cor de pele verde-oliva, olho estreito, boca pequena, habitando num planeta distante três anos-luz da Terra. Essa concepção sobre os ET's pode ser conferida na capa de seu livro A mensagem transmitida pelos extraterrestres.
A evolução dos tais deuses é tão distante da nossa que Rael arrisca ilustrá-la por meio de uma comparação, afirmando que a clonagem entre eles é algo ordinário, comum. Para eles, clonar um ser humano é tão simples quanto é para nós gravarmos um CD.
A idéia de que a raça humana é fruto de uma criação alienígena remonta a 1935, quando Erick Von Daniken lançou seu livro Erinnerungen na Die Zukunft, em português: Eram os deuses astronautas?. A repercussão foi intensa e, desde então, os adeptos da ufologia não pararam de crescer. Desde que surgiram os primeiros "testemunhos" de contatos com esses seres até os dias de hoje, quase nada pôde ser provado. Geralmente, as fraudes fotográficas e testemunhais dão conta de responder ao "fenômeno".
A Bíblia revela à humanidade, sem distorções, o início criativo de Deus. A seqüência da criação não abre margem para a sustentação dos ufólogos. Basear a existência de ET's no silêncio de Deus sobre a questão nos levaria à possibilidade de empregar o mesmo método de interpretação em relação a outras doutrinas bíblicas, o que nos conduziria a um emaranhado de heresias. Ademais, os supostos ET's não trazem a autenticação de Deus (Gn 1.4,10,12,21,25,31). Pela Bíblia reconhecemos apenas dois níveis de hábitat: o terrestre e o celestial. As Escrituras nos revelam a existência de apenas três naturezas: a divina, a espiritual e a humana. Nada mais além disso. Vale, aqui, considerar a existência dos principados e potestades, das hostes espirituais da maldade que habitam nos "lugares celestiais" (Ef 6.12), bem como o seu poder (limitado por Deus) para operar sinais e prodígios (2Ts 2.9).
Norbert Liech, apologista do ministério Chamada da Meia-Noite, apresenta o seu ponto de vista de modo muito interessante: "Deus nos informou acerca de detalhes muito exatos do futuro (por exemplo, acerca da volta de Jesus, detalhes acerca do fim deste mundo, como em Mateus 24 ou no livro de Apocalipse). Um dia o Universo será enrolado como um pergaminho envelhecido (Is 34.4; Ap 6.14). Com isso, se Deus tivesse criado seres viventes em outro lugar, Ele automaticamente destruiria a morada deles".
Liech continua: "Outro raciocínio que leva à mesma conclusão: se conhecemos a finalidade das estrelas, temos em mãos a chave bíblica para respondermos às questões concernentes aos assim chamados ´extraterrestres´. Com base em Gênesis 1.14,15, as estrelas são, portanto, orientadas e planejadas para a terra, ou, para ser mais exato, para as pessoas que vivem na terra".
Além do equívoco de crer em extraterrestres, o grupo raeliano atribui a eles a "façanha inédita" de clonagem dos seres humanos. Levando em conta o contexto místico que se esconde por trás dessa crença, não foi difícil entender a desconfiança e o ceticismo que causaram no mundo todo. (veja em nosso site a matéria de capa de Defesa da Fé ano5/nº38/2001: Óvnis: estão os seres humanos sozinhos no universo?)
Os membros da seita fundaram, em 1997, a empresa Clonaid, nas Bahamas, com o objetivo de fornecer serviços de clonagem. Segundo atesta a religião raeliana, este é o artifício dos ET's para assegurar a eternidade da raça humana, a solução para todas as doenças. Rael considera isso um grande bem proporcionado pelos alienígenas, mas não tem pressa, pois está convicto de que, por ser um profeta, os Elohim "já lhe garantiram" o privilégio de ser clonado quando morrer.
O preço do serviço está estipulado em 200 mil dólares, cerca de 700 mil reais, e, com o tempo, querem abater o valor para 175 mil reais. Mas não é só isso. Afirmam oferecer ainda uma diversidade de serviços como, preservação de tecidos para futura clonagem e clonagem de animais de estimação.
A empresa é conduzida por Brigitte Boisselier, "bispa raeliana", química e física biomolecular. Como diretora científica da Clonaid, diz conduzir as experiências de maneira "adequada" e reclama ainda não depender da religião raeliana para a manutenção financeira da empresa, embora seus objetivos e os da religião sejam inseparáveis.
Em 2001, a empresa instalou-se nos Estados Unidos, mas já pretendem mudar de país, pois suas experiências ferem as leis norte-americanas.
Segundo Rael, centenas de mulheres, adeptas do movimento, se apresentaram como voluntárias para as experiências. Conforme critérios da empresa, as técnicas utilizadas nas experiências são restritas a casais estéreis, homossexuais e doentes terminais.
O porta-voz do movimento raeliano no Brasil, o franco-espanhol David Uzal, pintor, escritor e filósofo graduado pela Sorbonne, tem planos de abrir uma filial da Clonaid em nosso país, mais precisamente no Rio Grande do Sul, lugar estratégico para atender à demanda de pedidos da empresa, que pretende, simultaneamente, levar seus serviços à Argentina, ao Uruguai e ao Paraguai.
O representante raeliano tem grandes esperanças de que o governo de Lula seja menos inflexível do que o de Bush e proporcione à empresa o aval para prosseguir em seus projetos no país que já conta com mais de 500 adeptos da seita.
A presidente da empresa planeja nos visitar em março ou abril deste ano. Ratifica o interesse no Brasil devido à nossa grande tolerância religiosa, não encontrada em outros países.
Rael, o fundador, também quer nos visitar. Fanático por automobilismo, afirmou, em uma de suas entrevistas, que seu sonho é clonar seu ídolo, Ayrton Senna, o que afirma ser possível se a família de Senna possuir conservado algum material genético dele. Pretende visitar o país em maio, ocasião em que lançará um livro e tentará contato com a família de Senna.
"Comissionados" pelos Elohim, os raelianos pretendem construir laboratórios e universidades por todo o mundo. Acreditam que os alienígenas prestariam suporte ao nosso avanço tecnológico e, com isso, nos igualaríamos ao nível científico deles. Para obtermos semelhante capacidade, teríamos de ultrapassar a etapa do "crescimento acelerado", ou seja, clonar, em poucos minutos, sem a necessidade da permanência de nove meses no ventre materno. O "projeto" se estende a outras etapas, mais fictícias ainda, como, por exemplo, transferir informação mental (da memória e da personalidade) de um indivíduo envelhecido para um novo indivíduo, um clone adulto fisicamente jovem. Essa transferência de memória a um jovem adulto determinaria a vida de um mesmo indivíduo indefinidamente, seria o segredo para a vida eterna. "Quando uma pessoa é clonada, cada vez que morre, e ao transferir sua memória e personalidade a um corpo novo, ela vive eternamente em vários corpos", explica Rael. Seria uma espécie de reencarnação, o início da vida em um corpo jovem. Outro absurdo.
Rael comenta sobre as conseqüências de tamanho avanço no âmbito legal: "As leis humanas terão de se adaptar às nossas mudanças de cultura e aos avanços tecnológicos em incremento [...] Ainda passarão numerosos dias antes que tal coisa aconteça, mas novas leis têm de ser promulgadas para definir os critérios segundo os quais poderemos nos beneficiar desta tecnologia. Aqui como no planeta dos Elohim, o número de clones deverá ser limitado a 1 para cada indivíduo - e unicamente depois da sua morte".
Após alcançarmos hilariante evolução, seria possível à humanidade visitar outros planetas e criar vidas ao seu bel-prazer, transformando-se então em Elohim para os seres "criados", isto é, seriam deuses para suas criaturas e estas, por sua vez, se evoluiriam e tornar-se-iam semelhantes aos criadores.
Os cientistas estão brincando de deuses! Esta sempre foi uma afirmação bastante repetida no meio religioso em relação à questão. Entretanto, essa posição esbarra em fatores relevantes. Um deles é o fato de Deus ter nos criado com imenso potencial do qual não utilizamos nem a metade de sua capacidade. Por que Deus nos criaria com tamanha potencialidade se não fosse para empregá-la? Explorar essa capacidade e alcançar resultados é "brincar de ser Deus"? O que Deus quis dizer quando confiou ao homem o domínio pleno de sua criação? (Gn 1.26). De fato, não há quaisquer advertências quanto a esse domínio, exceto o fato de que devemos observar o mandamento do Senhor, amando nosso próximo como a nós mesmos e ao Senhor com todo o nosso coração, alma, força e entendimento (Lc 10.27).
Para uma visão equilibrada da questão não podemos julgar a clonagem sem considerar suas causas e circunstâncias. Se alguém nos perguntasse se somos a favor de experiências com urânio, certamente responderíamos que não, pois imediatamente nos viria à mente as implicações catastróficas das bombas nucleares. Mas se a finalidade das experiências fossem benéficas, tais como, controlar radiações para que possam combater certas doenças, então nossa resposta seria sim, pois a boa causa abonaria as experiências. Assim, a nossa capacidade pode ser revertida para a prática do bem ou do mal, logo, a aplicação dos resultados e seus objetivos deveriam ser o cerne da questão. Reservada as devidas distinções, o mesmo conceito poderia ser aplicado à clonagem, mas a polêmica não é tão simplista assim.
Para que se obtivesse um resultado satisfatório com a ovelha Dolly, foram necessárias 277 tentativas, algo que reputaríamos monstruoso, caso ocorresse o mesmo com os humanos. Mas se no futuro esse obstáculo fosse transpassado com uma única experiência bem-sucedida, então o problema acabaria. Mas ainda outros teriam de ser solucionados. Como viveriam os clones sabendo que não são filhos de ninguém? Haveria discriminação por parte da sociedade? Teriam outras diferenças em relação a nós? São perguntas que merecem uma reposta.
Em detrimento de tudo, o elemento que mais tem trazido malefícios é a saga dos laboratórios em querer se apresentar ao mundo como mentores pioneiros da experiência. É uma corrida em busca da publicidade que, às vezes, não respeita a ética. É difícil avaliar as intenções, os limites e os resultados a que chegaremos. Talvez, num futuro próximo, as coisas sejam diferentes, mas hoje a clonagem põe em risco vidas humanas, a do bebê e a de sua gestante, precipitando-se em uma área em que a sociedade ainda não criou consensos.
Inserido nesse complexo contexto, encontramos os raelianos misturando clonagem, alienígenas e religião. Não é de espantar que o médico italiano Severino Antinori, um dos credenciados cientistas envolvido nesse propósito, classificou o anúncio da Clonaid como "uma piada de mau gosto".
* Para aprofundamento sobre o tema veja em nosso site a matéria de capa de Defesa da Fé ano3/nº20/2000. Clonagem - a ciência e a religião.
Como toda religião, os raelianos advogam sua razão de existir. Para levarem a efeito sua missão, a odisséia raeliana depende de uma mobilização que só pode ser adquirida pela participação em seus eventos e seminários.
Segundo explicam, o desenvolvimento da humanidade se daria numa cultura em que o amor, o respeito e a realização fossem as únicas regras e onde a sinceridade, a sensualidade e a individualidade pudessem desabrochar. Rumo a este ideal, os raelianos expõem seus objetivos:
1. Informar sem convencer: a religião raeliana está fundamentalmente interessada num diálogo aberto e honesto. Deseja apenas informar as pessoas interessadas nas mensagens dos Elohim, não convencê-las.
2. Edificar uma embaixada: os Elohim têm pedido a Rael para edificar uma embaixada onde se encontrarão com os nossos chefes políticos e científicos (extraterrestres) que nos transmitirão sua sabedoria e tecnologia. O local da embaixada deve ser neutro e internacionalmente reconhecido. Terá a proteção e a imunidade diplomática com o objetivo de beneficiar todos os Estados.
3. Ignorar o passado e orientar a humanidade rumo ao futuro, com valores de amor, de paz, de liberdade, de individualidade, de prazer e de realização. Declaram que é necessário que a humanidade desenvolva seu relacionamento em busca da paz, isso seria uma condicional para que os "pais do espaço" visitem a embaixada sem ocasionar temor, hostilidade e fanatismo religioso.
4. Constituir um governo mundial e uma moeda única, com o fim de eliminar a fome, doenças e sofrimentos e estabelecer, enfim, um mundo de realização e de lazeres ativos para os quais a raça humana fora concebida.
Esses seminários contam com a presença de Rael e dos sacerdotes da seita. São tidos como uma espécie de manual de instrução transmitido pelos criadores da raça humana, os Elohim. "Tem como objetivo despertar o nosso potencial e expandir a nossa mente, proporcionando uma vida plenamente satisfatória". Isso se dá principalmente por meio de técnicas de meditação. Consideram os momentos em que passam no seminário como uma premonição do paraíso onde o "novo ser humano" viverá.
São realizados no Canadá e contam com uma ampla infra-estrutura. Possuem serviço de tradução simultânea para o inglês e o espanhol. Promovem a participação dos seminaristas em atuações artísticas e incluem, ainda, momentos de lazer por meio de atividades turísticas: conhecer as cidades de Québec, Montreal, passeio a cavalo e de balsa pelo rio, entre outras.
Existem também algumas regras. É vetada a participação de menores de 18 anos e é obrigatório o uso de uma túnica branca durante o desenvolver das seções.
Os absurdos não cessam! Acredite se puder, os raelianos audaciosamente desenvolveram uma nova versão da Declaração universal dos direitos do homem. Trata-se de um suplemento que denominaram de Carta universal do ser humano, pela qual sonham em submeter todas as religiões existentes. O documento adiciona 18 novos artigos, os quais julgam estarem adaptados à época em que vivemos. A análise dos artigos deixa inconteste a estreita ligação entre os raelianos e a Nova Era. Em suma, visam assegurar a observação de comportamentos, tais como: a busca da felicidade individual e coletiva, o bem-estar social de toda a humanidade, a preservação da fauna e da flora, o anti-racismo, o homossexualismo, a legalização mundial da eutanásia, o ecumenismo etc.
A seguir, destacamos um dos artigos mais críticos do documento (Consultem em nosso site www.icp.com.br o documento na íntegra).
Artigo 18
Um governo mundial deve ser estabelecido rapidamente e democraticamente. Este governo estabelecerá um autêntico controle da aplicação e do respeito dos "Direitos do ser humano" em todas as regiões da Terra. Sancionará as regiões que não respeitem estes direitos e castigará severamente os responsáveis daquelas ações. Estabelecerá uma moeda única mundial, com o objetivo de favorecer e de provocar, em breve, a supressão total da moeda e do protagonismo dos valores econômicos. Garantirá uma comunicação entre todos os seres humanos do planeta, permitirá o ensino de um idioma mundial e controlará sua aplicação.
Como vimos, esse é um dos objetivos do grupo. Observação: a embaixada não pode ser construída em qualquer lugar. Judeus, palestinos e agora ET's. É isso mesmo, eles têm preferência. Jerusalém é o local ideal! Segundo os adeptos dessa seita, foi próximo a essa região que eles criaram os primeiros seres humanos. Consideram os judeus descendentes dos Elohim e responsáveis por educar toda a humanidade. Moisés, Jesus, Buda, Maomé e outros profetas, todos vivem hoje harmoniosamente no planeta dos Elohim.
Nem os ufólogos com todas as suas fantasias conseguem conceber uma idéia tão excêntrica!
O primeiro templo judeu teria sido a primeira embaixada dos Elohim, em torno da qual a antiga cidade foi edificada. A embaixada pretendida seria o tão anelado templo que os atuais judeus anseiam reconstruir. Uma réplica dela seria construída perto da original para dissipar a curiosidade pública. Todo o seu projeto já foi "revelado" diretamente dos Elohim para Rael. O lugar seria o referencial espiritual do mundo pelos milênios a seguir.
O movimento raeliano reclama ter solicitado ao governo israelense o estatuto de extraterritorialidade em diversas ocasiões, mas sem sucesso. Em 20 de março de 1990, Rael, "instruído pelos Elohim", decidiu mudar o símbolo da seita (que até então era a suástica) em respeito às vitimas do nazismo e com o fim de facilitar as negociações, mas de nada adiantou. Isso teria gerado um dissabor aos Elohim: "Se a resistência judaica permanecer, a localização da embaixada poderá ser em território egípcio ou palestino" e "o povo de David perderá a proteção dos Elohim".
Do mesmo modo que os representantes diplomáticos desenvolvem as inter-relações com as nações, esse seria o objetivo dos "pais do espaço". "Eles querem estabelecer um contato sem invasão". A embaixada possibilitará aos Elohim controlar seu acesso em nosso planeta sem intervenções.
Assim como o ET de Steven Spilberg, os Elohim também são pacíficos e, por isso, retardaram sua instalação em nosso planeta. Como poderiam eles entrar em contato conosco sem invadir o nosso espaço aéreo, suscitando uma ameaça bélica? Sua presença entre nós nos levaria ao pânico, a um colapso geral, os militares estariam diante de cenas hollywodianas, mas reais! Com essas idéias alucinógenas, Rael justifica o porquê de, até então, não termos avançado em nossa relação com os "pais do espaço".
A embaixada deverá compreender 347 hectares, ou seja, 3.470.000 m², para que um círculo de raio de 1 050 metros possa se inscrever no seu interior. A construção renderá a "módica" quantia de 20 milhões de dólares, dos quais a seita já afirma possuir 7 milhões. E, acredite, testemunham que a soma não para de crescer!
A concretização desta missão seria o início de uma nova era, marcada pelo desaparecimento de todas as religiões primitivas, incluindo o cristianismo. "Somos os seres humanos de hoje, usando a tecnologia de amanhã, com religiões e pensamentos de ontem", diz Rael.
A data foi marcada para 2 035. Não podia faltar. Esse é outro atrevimento corriqueiro reprovado por Jesus e que pode ser encontrado na maioria das literaturas sectárias (Mt 24.36). No caso dos raelianos, existe um diferencial a mais, Jesus voltará com uma comitiva, mas não são seus anjos. Ensinam que Jesus voltará com os Elohim, os grandes homens das religiões: Moisés, Buda, Maomé e companhia. A função deles seria nos levar a uma compreensão religiosa unânime, estratégia da qual alguns grupos já se ocupam hoje, mas que sabemos ser impossível dentro dos padrões bíblicos (ler 1Co 6.14-18).
Uma reportagem como essa nos leva a reflexões importantes. Paramos para pensar sobre o incrível poder de uma religião, a influência que um grupo religioso pode causar, a repercussão que pode alcançar e, sobretudo, as almas que pode atrair para si. Não importa quão estranhos e falsos sejam seus ensinamentos, sempre haverá aqueles que lhes darão crédito. Alguns poderão abandonar o movimento, mas muitos permanecerão. Trata-se de pessoas cegas. O deus deste século as cegou e, agora, estão impossibilitadas de enxergar a luz do resplandecente evangelho da glória de Cristo (2Co 4.4). E se recusam a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas engenhosamente inventadas (2Tm 4.4).
Algumas das heresias aqui expostas são tão incoerentes que seria perda de tempo utilizar-se da Bíblia para refutá-las. Mas todas elas originam-se de único fator: a necessidade do homem de cultuar algo superior a ele. Como diz Agostinho: "O homem vive a vaguear até que se encontra com Deus". Esse encontro é o verdadeiro segredo da vida eterna: "E sabemos que já o filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1Jo 5.20 - grifo do autor).
Quem entende isso não busca razão para sua existência em histórias imaginárias, antes, pode afirmar como Pedro: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna" (Jo 3.68 - grifo do autor). Os crentes em Cristo não apóiam suas esperanças espirituais na clonagem, ou em qualquer outra conquista científica, antes, a "nossa esperança é a vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos" (Tt 1.2 - grifo do autor).
Não existem segredos nem exclusividades, não precisamos pagar nada pela vida eterna, tudo já foi pago (1Co 6.20, 1Tm 2.6). Nesta fé prosseguimos até que possamos desfrutar da verdadeira vida eterna em Cristo.
1 Júlio Verne foi um dos autores mais populares do século 19. Em histórias fantásticas como Viagem ao Centro da Terra, 20 mil léguas submarinas e Da terra à lua, Verne apresentou uma visão revolucionária da ciência que previu avanços modernos.
2 Teoria segundo a qual o homem é um todo indivisível, e que não pode ser explicado pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico), considerados separadamente.
3 Unidade de distância que equivale à distância percorrida pela luz, no vácuo, em um ano, à razão de 299.792 km/s, e igual a 9 trilhões e 450 bilhões de quilômetros, aproximadamente.
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