"Não há nada mais horrível do que uma ortodoxia cristã desprovida de qualquer tipo de compreensão ou de compaixão" (Francis A. Schaeffer).
"Os ingleses ainda crêem em Deus, mas não querem comprometer se com Cristo", disse Stephen Tiromwe, um clérigo ugandense.
Cerca de vinte anos antes, Stephen sobreviveu à violenta campanha de perseguição e expulsão de dissidentes políticos, movida pelo governo contra a sua igreja em Uganda. Atualmente, ele prega em clubes sociais para homens em Leeds, na Inglaterra, proferindo um discurso de dez minutos antes de seus ouvintes começarem a jogar bingo.
Do outro lado do Atlântico, a recém organizada Missão Anglicana na América luta contra uma crise espiritual similar. Atualmente, existe, nos Estados Unidos, a maior população de língua inglesa que não vai à igreja e está espiritualmente indiferente a essa necessidade. Os Estados Unidos está se tornando um campo missionário. A nova missão anglicana fracassou em seus esforços de promover mudanças internas na igreja e por isso abandonou sua tradição, juntando se a líderes asiáticos, africanos e latinos para iniciar uma campanha missionária nos Estados Unidos.
Agora, pare e pense. Por que missionários africanos, asiáticos e latino americanos estão servindo como instrumentos para salvação de almas em países que já se consideram cristãos na Europa e na América do Norte?
Por mais de quatrocentos anos, um fluxo contínuo de missionários europeus dedicados acompanhou de perto a onda de expansão colonial, conforme esta se dava em seu avanço na África, na América do Sul, na Ásia e no Pacífico. Procuraram levar sua religião aos chamados pagãos nessas terras. Com o tempo, as colônias americanas, supostamente fundadas em princípios cristãos, aderiram ao esforço missionário dos países europeus e, por fim, os superaram, estabelecendo suas próprias missões evangélicas em todo o mundo. Entretanto, a maré virou e hoje a situação é bem diferente.
Na década de 60, o dr. J. M.Van der Veen, da Igreja Reformada Holandesa, escreveu: "Do ponto de vista humano, o futuro não parece róseo para a Igreja e o cristianismo...".
Na Europa, a fé cristã, que em outros tempos assistiu a episódios gloriosos, como a Reforma Protestante, de Martinho Lutero, UIrico Zwinglio e João Calvino, e o avivamento, conduzido por John Wesley, hoje agoniza, numa das piores crises da sua história. Só na Holanda, 40% da população é composta por ateus. Motivos para isso, à luz da sociologia, não faltam. Um dos principais é a pós modernidade, com seus axiomas em favor da plena liberdade e da ausência de valores dogmáticos, em que tudo é permitido e nada é absoluto.
É irônico que, no momento em que o cristianismo acaba de atravessar seu segundo milênio, o coração da civilização cristã esteja passando por um fenômeno bem diferente: a ausência dos fiéis nos cultos, sejam católicos ou protestantes. Basta entrar numa catedral para perceber que há mais turistas fascinados pela arquitetura do que com o fervor religioso. Enquanto os teólogos debatem as causas da debandada do rebanho cristão, os números comprovam o seguinte: se os europeus ainda oram, o fazem longe da instituição.
Sessenta e sete por cento dos jovens espanhóis jamais vão a uma missa e muito menos participam de cultos protestantes. Na França, na Bélgica e na Alemanha, apenas 10% dos católicos freqüentam a igreja. A cada ano, diminui, em cinqüenta mil, a quantidade de ingleses que participam das reuniões cristãs aos domingos.
Em vários países, faltam padres, por causa da queda do número de ordenações. Entre os protestantes, o cenário é igualmente desolador. Somente 3% da população comparece aos cultos nos países escandinavos. A cúpula da Igreja Reformada Holandesa está transformando parte de seus complexos religiosos em hotel, para pagar despesas de manutenção. A Catedral de Canterbury, de importância central na fé anglicana, fica vazia na manhã de domingo, o dia mais movimentado em qualquer templo cristão. O sínodo de bispos europeus convocado pelo Vaticano para discutir o assunto, há dois anos observou, com alarme, que são batizados menos da metade dos recém-nascidos nas grandes cidades da Europa. "Os europeus são agora uma das populações menos religiosas do mundo", diz o reverendo anglicano Timothy Bradshaw, professor de teologia da Universidade de Oxford.
"Os rituais na Igreja européia são mais formais que na da América", observou o teólogo paulista Márcio Fabri. "E isso afasta os fiéis", concluiu. Mesmo entre os europeus há variações nacionais. A freqüência à igreja continua alta em alguns países tradicionalmente católicos, como a Irlanda e a Itália, onde quase 50% da população adulta vai à missa pelo menos uma vez por mês. Mas estes não são os únicos dados surpreendentes. Os europeus que deixam de ir aos cultos cristãos não mudam de religião nem viram ateus, o que explica o fato de o número de pessoas que acreditam em Deus (50% da população européia) ser muito maior do que o das que freqüentam uma igreja. Só 4% se declaram completamente ateus. Da mesma forma, a ética cristã ainda orienta a moralidade pessoal da maioria das pessoas.
Sessenta por cento dos holandeses deram adeus à igreja, mas continuam reservando uma enorme quantidade de dinheiro para a caridade. A perda de influência formal da Igreja pode ser percebida, contudo, por mudanças na vida familiar e social: controle de natalidade, aborto, divórcio e eutanásia. Algumas dessas novidades foram adotadas até nos países do Sul da Europa, bem mais religiosos. Já a eutanásia só é aceita na Holanda. O quadro é complexo e não há uma explicação única para a falta de interesse pelas religiões tradicionais. É possível que parte da explicação esteja na tradição racionalista do continente, que deu ao mundo a Revolução Industrial, a física quântica e a genética moderna. A ciência, hoje, pode explicar coisas sobre as quais no passado só a religião tinha algo a dizer.
Há quem cite o consumismo exagerado e a estabilidade do Velho Continente como determinantes. Seria porque a maioria da população tem um padrão de vida elevado e está menos suscetível a questões que atormentam outros continentes, como violência, miséria ou tensões raciais. "Um europeu médio pode passar a vida inteira sem enfrentar uma crise financeira ou emocional aguda", observou o sociólogo dinamarquês Jorgen Goul Andersen. Assim, tende a ir menos aos cultos, onde outros fazem promessas, e muito menos educa os filhos a fazê-lo.
Durante mil anos, o cristianismo foi um elemento central na identidade européia. A tradição é forte demais para ser dissolvida de uma hora para outra. Impressiona a continuidade das aulas de religião nas escolas da maior parte dos países, com o apoio dos pais. Na Suíça, é comum freiras lecionarem em escolas públicas. O clero anglicano ainda tem cadeiras com direito a voto no Parlamento inglês. Uma parte da justificativa para a educação religiosa - o que na maioria da Europa significa educar para o cristianismo - é a inseparável conexão entre a fé cristã e a cultura européia. "Não se pode entender a arte, a literatura ou a arquitetura ocidental sem conhecer a religião cristã", disse Jean-François Mayer, professor de religião na Universidade de Fribourg, Suíça.
É interessante que o islamismo, praticado principalmente pelos imigrantes, demonstre vitalidade na Europa. Os muçulmanos somam 3% da população do continente, mas representam 9% dos europeus que efetivamente professam uma religião. Ainda assim, já se vêem sinais de que estão aderindo aos costumes locais. Na Alemanha, na Espanha e na França, somente entre 30% e 50% dos muçulmanos freqüentam as mesquitas, inseridos em um ambiente menos religioso que em seus países de origem. Na França e na Inglaterra, apenas 10% da população vai à igreja e, mesmo assim, só uma vez por mês. O número de fiéis das igrejas anglicana e católica caiu 27% na Inglaterra, desde 1980, e apenas 54% dos jovens ingleses de 18 a 24 anos acreditam em Jesus Cristo.
"Esta geração é uma geração cansada do prazer. As pessoas foram superestimuladas, a tal ponto que seus nervos se estafaram e os seus gostos se corromperam. As coisas naturais foram rejeitadas para dar lugar às artificiais. O sagrado foi secularizado, o santo foi vulgarizado e o culto converteu se numa forma de entretenimento. Uma geração narcotizada e de olhar obscurecido está constantemente à procura de um novo excitamento, poderoso suficiente para dar emoção às suas sensibilidades desgastadas e entorpecidas"
(A. W. Tozer)
O Reino Unido, nação multinacional composta pela Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, sempre foi palco de grandes revoluções sociais e religiosas ao longo dos séculos. Lá se deflagrou uma das primeiras tentativas de uma reforma dentro do catolicismo, com o inglês John Wycliffe (1324 1384), pioneiro na tradução da Bíblia, do latim para o inglês. Também tiveram papel importante na história do protestantismo o escocês John Knox, (1505 1572), fundador do presbiterianismo, e Henrique VIII (1491 154), um dos primeiros monarcas a romper com o papado.
A expansão do imperialismo britânico nos séculos que se seguiram à Reforma ajudou a espalhar, mundo afora, a doutrina protestante em todos os continentes, por meio da intensa atividade missionária iniciada pelo sapateiro inglês William Carey (1761 1834), pioneiro na evangelização da Índia. Esse movimento também foi impulsionado por grandes avivamentos espirituais, como o liderado por Charles Spurgeon (1834 1892), que, em seu ministério, batizou, sozinho, quase quinze mil pessoas. Além disso, temos o avivamento liderado pelo grande pregador John Wesley (1703 1791), mentor do metodismo; e o fervor missionário exercido pelo explorador David Livingtone (1813 1866). Já no século passado, em Belfast (Irlanda do Norte), o grande escritor C.S.Lewis (1898 1963), ex ateu, se tornou um gigante da apologia da fé cristã.
No Reino Unido de hoje, entretanto, há poucos resquícios daqueles tempos de avivamento. Muitos templos evangélicos, alguns com mais de um século de existência, foram transformados em estabelecimentos comerciais ou mesmo em locais de culto pagão.
Os dados sobre essa degradação religiosa são alarmantes. Estatísticas divulgadas pelo movimento brasileiro Ide às Nações, cujo objetivo é formar parcerias entre cristãos brasileiros e britânicos, dão conta de que, entre 1969 e 2001, exatos 1598 templos evangélicos foram fechados em solo bretão. O estudo do movimento faz ainda uma estimativa de que outros mil templos tenham o mesmo destino na próxima década. Segundo a Aliança Evangélica do Reino Unido, a população evangélica estaria em tomo de um milhão de crentes, mas estima se que dois mil membros deixem as igrejas a cada semana.
Números divulgados pelo Christian Research Institute apontam uma população de 620 mil muçulmanos na Grã Bretanha e projeções de que, em 2005, este total suba para 750 mil fiéis. De acordo com o jornal inglês Daily News Telegraph, se permanecerem os atuais níveis de crescimento da religião muçulmana e o declínio do número de anglicanos, em 2013 haverá mais adeptos da religião fundada por Maomé do que membros da Igreja Anglicana na Grã Bretanha. Em 1960, só existiam dez mesquitas na região. Hoje, esse número é assustador: são quase 700.
"Neste tempo ameaçado pela violência, pelo ódio e pela guerra, empenhai vos em testemunhar Jesus, que é aquele que pode dar a verdadeira paz ao coração do homem, às famílias e aos povos da terra"
(João Paulo II).
O padre John McCloskey, 48 anos, não canta, não dança, nem arrasta multidões para suas missas, mas está virando uma versão americana do padre Marcelo Rossi. Membro da Opus Dei, ligada à Igreja Católica que atua de forma quase secreta, McCloskey ganhou notoriedade por ter convertido ao catolicismo membros influentes da elite política americana, tradicional reduto de protestantes. Entre as novas aquisições para o rebanho católico, estão um senador republicano e dois jornalistas muito conhecidos. Presença constante em programas de TV, McCloskey também chama a atenção por sua trajetória. Economista, ele abandonou um emprego promissor em Wall Street para se ordenar padre, em 1981. É um conservador no que diz respeito à missão e aos dogmas da Igreja Católica. Condena a atuação política de padres, elogiou o pontificado de João Paulo II e assegura que essa igreja nunca abandonará a condenação do controle de natalidade, do divórcio e do homossexualismo.
Em contrapartida, a Igreja Católica brasileira perdeu milhões de fiéis nos últimos anos para grupos evangélicos. Por quê? McCloskey explica que o que aconteceu no Brasil é muito semelhante a um fenômeno registrado nos Estados Unidos. "Muita gente abandonou a igreja, mas não perdeu a fé. A maioria passou a ter um laço mais pessoal com Jesus, lendo a Bíblia. Não tenho elementos para analisar o que aconteceu no Brasil, mas acredito que a migração de católicos para as seitas evangélicas não deverá prosseguir pelos próximos anos. A história da Igreja Católica é repleta de altos e baixos. Na época da Reforma, houve grande perda de rebanho. Mas, logo depois, surgiu um novo período de acolhimento de milhões de novos fiéis. Talvez esse movimento em relação às seitas evangélicas seja resultado da falta de investimento na evangelização. É algo que podemos recuperar no futuro. Muitos católicos que desconheciam sua própria fé deixaram o catolicismo e se tornaram evangélicos. Ao mesmo tempo, evangélicos mais esclarecidos fizeram o caminho inverso, como um senador americano e centenas de pastores protestantes. Eles sentiram se atraídos pela antiguidade da fé católica, com seus 2000 anos de história. A Igreja Católica tem sacerdotes, o papa, a tradição dos grandes santos, a arte, a cultura, a literatura. Enfim, tem uma carga que não se vê em outras religiões", declarou o padre em entrevista concedida à revista Veja.
Com seus 63.683.000 de adeptos ao catolicismo, os EUA são hoje o terceiro país do mundo com maior número de católicos. O país com o maior número de católicos no mundo continua a ser o Brasil (com 140 milhões), e o segundo, o México (com pouco mais de 100 milhões). Os países com mais fiéis à igreja de Roma são: Filipinas, Itália, França, Polônia, Espanha e Colômbia. O número total de católicos no mundo é de 1.033.129.000. Os católicos nos EUA representam 22,8% da população. Rhode Island é o único Estado da União com maioria católica (63,1%). Outros Estados com uma importante presença católica são: Massachusetts, Nova Jersey, Connecticut e Nova York.
A Igreja Católica na França celebrou, na noite de sábado e no domingo de Páscoa do ano passado, 2.374 batizados de pessoas com mais de 18 anos, segundo anunciou a conferência Episcopal. Trata se de um pequeno aumento, pois, no ano retrasado, os adultos batizados no país foram, aproximadamente, 2.335. O batismo de adultos e adolescentes convertidos é um fato consolidado na França na última década, que se contrapõe ao decréscimo no batismo de crianças (em 2000, 380.093, enquanto em 1991, 448.609).
Uma parte desses católicos procede de famílias cristãs e outra parte de ambientes não cristãos; 6% são de famílias de origem muçulmana, 3% de religiões orientais, 3% de tradição mista, 1% de tradição judaica; 1% já passou por uma seita e os outros 15% têm uma origem espiritual indeterminada. Oitenta e cinco por cento, aproximadamente, dos novos batizados têm menos de quarenta anos de idade e 83% procedem de ambientes urbanos.
"A beleza é um nome divino porque produz comunhão"
(Dionísio, o areopagita).
Um elemento que passa despercebido por muitos, mas que deve ser levado em consideração como índice incontestável do renascimento católico, é o alto investimento em construções de novos templos, algo que nos últimos anos parecia ter vez apenas entre os evangélicos. De uns anos para cá, a arquitetura tem demonstrado a efervescência do movimento católico ao redor do mundo. Esse avivamento despontou de forma tímida, mas a cada ano tem-se fortalecido.
No começo dos anos 90, a diocese de Roma decidiu construir cinqüenta igrejas novas. Evidentemente, não no centro histórico, já abarrotado de construções religiosas, mas nos arredores pobres da capital italiana, onde são escassos os locais de oração. Encomendada pelo próprio papa e erguida em Tor Tre Teste, um subúrbio de prédios populares a 10 km do centro, a Igreja de Deus Pai Misericordioso custou 25 milhões de dólares e levou sete anos para se concluída. Suas três paredes brancas e curvas parecem enormes velas de um barco - e, ninguém deixa de notar, lembram a Opera de Sydney, ícone da arquitetura moderna.
A semelhança é deliberada, admite o arquiteto americano Richard Méier, autor do projeto. A diferença está no significado. As três conchas simbolizam a Santíssima Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo. O objetivo é transmitir um ideal de pureza com muito branco e luz. A igreja foi projetada para que houvesse o máximo de aproveitamento da luminosidade solar. Assim, a cada hora do dia, a incidência de luz revela um outro detalhe do projeto. A nave é coberta por uma imensa clarabóia para que os fiéis possam ver o céu. "Não precisamos de vitrais nem de muitas cores. A luz já tem cores suficientes", diz Méier.
Há vários aspectos inusitados em relação a essa igreja. Diferentemente da praxe nos templos católicos, não é dedicada a um santo, mas diretamente a Deus. Também não exibe a cruz na fachada. Por fim, Méier é o primeiro arquiteto judeu a projetar uma igreja católica. Aos 69 anos, é autor de obras memoráveis, como o Getty Museum, em Los Angeles, que custou 1 bilhão de dólares, e o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona - mas considerou a igreja romana o desafio de sua vida. "Acho que entendo o que Michelangelo sentiu quando foi chamado para redesenhar a cúpula da Basílica de São Pedro", disse ele, depois de discutir o projeto com o papa no Vaticano, em 1999.
Este é apenas um exemplo recente que nos faz lembrar que a Igreja Católica foi a grande patrocinadora da arquitetura desde as primeiras igrejas. Mark Irving, autor de uma reportagem no jornal inglês Financial Times, que comentava sobre a igreja de Méier, escreveu que arquitetos têm uma paixão pelo sagrado porque, ao constituírem igrejas, é como se um poder superior, divino e inefável avalizasse suas obras. "Agora, o estilo moderno de arquitetos famosos tornou se uma forma de mostrar que as dioceses mais sofisticadas estão sintonizadas com o que há de mais avançado em termos de arte e arquitetura", disse à Veja o arquiteto Duncan Stroik, professor de arquitetura religiosa da universidade católica americana.
Nos Estados Unidos, o espanhol José Rafael Moneo fincou uma igreja com a altura de um prédio de onze andares ao lado da Hollywood Freeway, no centro de Los Angeles, que custou duzentos milhões de dólares. A idéia de Moneo foi recriar, no interior do templo, a grande praça que existe em frente às catedrais góticas da Europa. O resultado é majestoso. A nave principal, com capacidade para três mil pessoas, tem cem metros de cumprimento, 27 de altura e área de 5300 metros quadrados, sem um único pilar atrapalhando a visão dos fiéis. O prédio é feito de concreto armado de cor amarelada que lembra a pintura de adobe das primeiras missões espanholas na região.
As igrejas atuais são herdeiras de um estilo de arquitetura religiosa que começou a ganhar fôlego a partir da segunda metade do século XX. O exemplo clássico de igreja modernista foi construído pelo arquiteto franco suíço Lê Corbusier, em 1955, em Ronchamp, na França. É a capela de Notre Dame du Haut, feita de concreto armado, com um telhado que parece o casco de um navio e paredes brancas adornadas de vitrais coloridos. No Brasil, a Catedral de Brasília e a Igreja da Pampulha, de Oscar Niemeyer, são outros exemplos importantes. As igrejas atuais são um reflexo de materiais e tecnologia disponíveis para construções de arranha céus, estádios e pontes.
Em Munique, na Alemanha, os arquitetos Markus Allmann, Amandus Sattler e Ludwig Wappner misturaram vidro, aço e madeira no projeto da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. O resultado é a mesma estética limpa, despojada e luminosa que se encontra nos prédios construídos pelo trio em Frankfurt e Berlim. O templo é um caixote de ripas de madeira coberto por um segundo caixote, feito de aço e vidro azul. O prédio tem cinqüenta metros de comprimento, vinte de largura e quinze de altura. "Usamos madeira na estrutura interna para fazer que as pessoas se sentissem numa espécie de arca de Noé", explica Amandus Sattler. O destaque é a fachada. Ela é formada por dois sustentáculos gigantescos que se abrem inteiramente, deixando exposta a estrutura de madeira. Durante o verão, o portal fica permanentemente aberto. Por dentro, a igreja é espartana. O altar é formado por uma grande pedra e os bancos são retilíneos e sem nenhum tipo de adorno. A única imagem sacra é uma cruz gigante estampada no revestimento metálico da parede atrás do altar. Ela está ali para não deixar nenhuma dúvida de que se trata da Casa do Senhor.
"Creio ter vivido o suficiente para presenciar o crescimento decadente do protestantismo brasileiro - seu abandono, quase por completo, das fontes reformadas; sua adoção e práticas do pragmatismo secular; a intolerância do exclusivismo fundamentalista; e a suprema ironia da adoção de pontos de vista católico-romanos, quanto mais alta seja a retórica da sua negação"
(Robinson Cavalcanti, bispo e teólogo anglicano).
Existem, no Brasil, aproximadamente, 150 mil igrejas evangélicas de todos os tipos. Entretanto, pesquisas de campo mostram que apenas cerca de um terço dos evangélicos está nas igrejas num domingo típico.
Cada região do país tem seus próprios desafios. Está comprovado que pelo menos 80% das pessoas em cada região não têm nenhuma participação na igreja. A igreja evangélica do Brasil não é bem distribuída. Em todas as cidades e áreas rurais pesquisadas foram encontrados lugares com muitas igrejas, enquanto outros lugares com poucas.
O Brasil possui, mais ou menos, uma igreja para cada 1200 habitantes (em 2002, a média das cidades pesquisadas foi de 1011). Nas cidades pesquisadas em 2002, em um domingo típico, 6,5% da população do Brasil estava presente em uma igreja evangélica (a freqüência média das igrejas evangélicas no Brasil é de setenta pessoas). Podemos perceber que o número de pessoas que se identificam como evangélicas no Censo nos indica um número alto de evangélicos inativos nas igrejas.
Disse Philip Yancey: "Se nossas igrejas pudessem comunicar graça num mundo de competição [...] elas se tornariam lugares em que as pessoas se ajuntariam com prazer; não por coerção, mas como nômades do deserto em volta de um oásis. Entristeço-me ao ver igrejas locais que funcionavam mais como empresas ou instituições financeiras do que como uma família".
"O fato é que hoje em dia temos perto de nós uma classe de homens que falam de Cristo e até pregam o evangelho, mas depois pregam igualmente muitas coisas que não são verdadeiras, destruindo o bem que fizeram e induzindo os homens ao erro. Eles querem ser considerados 'evangélicos', mas, na verdade, pertencem a uma escola antievangélica"
(Charles H. Spurgeon).
Muitos especialistas defendem a tese de que o crescimento evangélico seja um indício do contrário: de que cada vez mais as pessoas rejeitam a religião. É o que sugerem pesquisas mostrando concentrações de evangélicos nas mesmas regiões onde havia altos índices de pessoas "sem religião" - caso do Estado do Rio de Janeiro e da Zona Leste paulistana. "As pessoas estão experimentando uma nova crença. Se perceberem que não está dando certo, que Deus não é tão fiel, podem desistir da busca. Abandonar a religião oficial é o primeiro passo rumo à saída do mundo dos religiosos", afirma o sociólogo Antonio Flávio Pierucci, da Universidade de São Paulo - USP.
Entre os resultados preliminares do Censo populacional, divulgado recentemente pelo IBGE, um número chamou a atenção: aumentou, no Brasil, o contingente de pessoas que se declararam sem religião. Até os anos 70, elas eram menos de 1% da população. Nos anos 90, 5,1 %, que se declaravam dessa forma. Atualmente, chegam a 7,3%, um número que pode não parecer expressivo, mas o ritmo do crescimento impressiona. Devemos ter muito cuidado com as conseqüências deste crescimento. Segundo o pensamento do escritor e jornalista francês Georges Suffert, "a fé e a devoção são tão contagiosas quanto o mal".
"Se a igreja protestante brasileira deixar de pregar o evangelho da porta estreita, deixar de ensinar as Escrituras Sagradas, deixar de condenar o pecado, deixar de exigir autenticidade, deixar de encorajar a prática diária da leitura da Bíblia e da oração, deixar de valorizar o testemunho de seus membros no meio da sociedade, deixar de lado a importância e a necessidade de cada fiel dizer não à sua natureza pecaminosa, deixar de condenar a soberba e a segurança própria, deixar de valorizar mais a qualidade do que a quantidade, deixar em segundo plano o pleno exercício do amor e do perdão, deixar de gerar alegria e entusiasmo em seus fiéis e deixar de proclamar a volta de Jesus em poder e glória - ela será obrigada, mais cedo ou mais tarde, a se lastimar profundamente, à semelhança de alguns líderes do maior contingente católico do mundo", afirma Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo católico da diocese de Blumenau, SC.
Veja o leitor como são alarmantes os dados a seguir:
Estima se que haja hoje, apenas no Brasil, entre 30 e 40 milhões de pessoas que um dia freqüentaram alguma igreja evangélica.
Uma igreja de dez anos que manteve média de duzentos membros viu passar por seu rol o dobro desse número, isto é, quatrocentas pessoas que passaram por essa igreja estão afastadas hoje.
No Brasil, a porcentagem de afastados que retorna à igreja não passa de 10%.
Entre 60% e 70% dos afastados não receberam quaisquer visitas de líderes ou membros quando decidiram sair da igreja.
Entre 40% e 30% receberam de uma a três visitas, que se revelaram, na maioria das vezes, de cobrança ou condenação.
Hospícios e presídios são os lugares de destino de boa parte dos afastados.
De cada dez andarilhos, três freqüentaram uma igreja evangélica um dia.
A maioria dos desviados (acima de 50%) é afetada pelo ressentimento com sua liderança.
Diante desse desvio monstruoso, surge uma pergunta de nosso consultor teológico Russell P. Shedd: "Somos 26 milhões de evangélicos no Brasil. Onde está o poder dessa multidão?".
Com este mesmo teor, indagamos: "Será que o nosso glorioso protestantismo terá futuro?".
SUFFERT, Georges. Tu és Pedro: a história dos primeiros 20 séculos da igreja fundada por Jesus Cristo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
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1 Adaptado da Revista VEJA 16/05/01.
2 Revista VEJA, 16/10/2002, pp.11-15.
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