Pesquisadores apresentam pedra maia que deu origem aos rumores de que o planeta seria destruído no ano que vem. Segundo eles, o antigo calendário apenas menciona o fim de uma era e o início de outra, muito diferente do que foi interpretado por ocasião da descoberta desse achado arqueológico.
O antigo calendário maia, exposto para dar fim a teorias sobre o fim do mundo, foi uma fantasia que surgiu nos anos de 1970. Todo o reboliço criado em torno do calendário maia, que supostamente previa o apocalipse em 23 de dezembro do ano que vem, foi apenas uma interpretação errada das presciências indígenas, afirmaram pesquisadores do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH). Recentemente, eles apresentaram, em Tabasco, a famosa pedra que deu origem ao mito e explicaram a forma correta de interpretá-la.
Formada de calcário e esculpida em martelo e cinzel, a peça, de fato, tem talhada a inscrição "23 de dezembro de 2012", o que provocou rumores de que os maias teriam previsto o fim do mundo para esse dia. Até uma produção hollywoodiana foi lançada sobre o apocalipse inspirada nessa "descoberta".
A pedra foi encontrada na década de 1960 e contém inscrições que prevêem o acontecimento de algum evento em 2012 envolvendo Bolon Yokte, um misterioso deus maia associado tanto à guerra quanto à criação. Mas, o fim da passagem é quase ilegível, porque a pedra está muito danificada.
"No que podemos apreciá-la, em nenhum de seus lados é dito que o mundo vai acabar em 2012", garantiu José Luis Romero, diretor adjunto do instituto. "Sobre a data, os maias se referiam à chegada de um senhor dos céus, coincidindo com o encerramento de um ciclo numérico. Trata-se do Bactum 13, que significa o início de uma nova era", esclareceu.
As teorias do juízo final deixaram algumas pessoas em pânico. A cientista Ann Martin, que cuida do site Curious? Ask an astronomer [Curioso? Pergunte a um astrônomo], disse que, na época do lançamento do filme 2012, baseado na falsa previsão, recebeu muitos e-mails desesperados. "É muito ruim receber mensagens de crianças dizendo que são muito jovens para morrer. Uma mãe escreveu dizendo que estava com medo de não ver seus filhos crescerem", contou, no site.
O diretor do Acervo Hieróglifo e Iconográfico Maia, ligado ao INAH, Carlos Pallán, já havia explicitado sua opinião contrária à ocorrência do apocalipse. No ano passado, ele afirmou que em nenhum dos 15 mil textos deixados pelos antigos maias existem citações a cataclismos em 2012, uma crença, segundo ele, originada em escritos esotéricos da década de 1970. Pallán também defendeu que o ano 2012 aparece nos documentos antigos em referência ao fim de uma era e não de todo o mundo.
De acordo com Pallán, nos místicos anos de 1970, profetas do apocalipse começaram a divulgar que, com o fim do 13º ciclo do calendário maia, o alinhamento de um buraco negro com o Sol romperia o equilíbrio da Via-Láctea, modificando o eixo magnético da terra, com conseqüências nefastas.
Tudo isso, garante o arqueólogo, não passa de uma bobagem. "Para os antigos maias, o tempo não era algo abstrato, mas formado por ciclos. Esses, às vezes, eram tão concretos que tinham nomes e podiam ser personificados. O ciclo de 400 anos, por exemplo, era representado por uma ave mitológica", explicou.
O cientista insistiu que os maias "jamais mencionaram que o mundo vai acabar, jamais pensaram que o tempo terminaria em nossa época". Os maias simplesmente celebravam, com grandes festas, o fim de um novo ciclo.
O mesmo diz Sandra Noble, diretora-executiva da Fundação para o Avanço de Estudos da Mesoamérica, nos Estados Unidos. Em entrevista ao jornal norte-americano USA Today, ela esclareceu que 2012 seria, para a civilização, um momento comemorativo e não apocalíptico. "Esse momento cósmico de mudança é uma completa invenção e uma chance encontrada por muita gente para aparecer", criticou. "Não existe nenhum registro de que os maias pensavam que o mundo iria acabar no ano que vem".
Além da oposição bíblica à marcação de datas para o fim e da opinião dos especialistas no assunto, uma boa idéia é ouvir os descendentes dos maias, como o indígena Apolinário Chile Pixtun, da Guatemala. Ele declara que está cansado de ser bombardeado com perguntas sobre o fim do mundo. "Essas teorias ocidentais sobre o juízo final não existiam na civilização maia. Existem outras inscrições em sítios arqueológicos que citam datas muito além, incluindo uma que fala do ano 4771. Os maias nunca disseram que o mundo acabaria e nunca afirmaram que nada de ruim aconteceria", garantiu Pixtun, com a sabedoria de um legítimo representante moderno da civilização maia.
A civilização maia, conhecida por seus avanços na escrita, na matemática e na astronomia, floresceu na América Central, tendo seu ápice especialmente entre os anos 300 e 900. O longo calendário, interrompido com a colonização espanhola, começa em 3114 a.C. e marca períodos de 396 anos, conhecidos como Bactuns. Nesse caso, 2012 seria o ano do Bactun 13, número significativo e sagrado para os maias.
O tzolk'in (na ortografia maia moderna, também escrito tzolkin) é o nome comumente empregado pelos estudiosos da civilização maia para o Ciclo Sagrado Maia ou calendário de 260 dias. A palavra tzolk'in é um neologismo cunhado na língua maia iucateque, para significar "contagem de dias". Os vários nomes desse calendário, usados pelos povos maias pré-colombianos, ainda são debatidos pelos estudiosos.
O calendário tzolk'in combina vinte nomes de dias com os treze números do ciclo, uma trezena para produzir 260 dias únicos. E é usado para determinar o momento de eventos religiosos e cerimoniais e para divinação. Cada dia sucessivo é numerado de 1 a 13 e, então, os números de dias da trezena começam novamente em 1.
Em 2009, o cineasta alemão Roland Emmerich, diretor de "Independence day" e "O dia depois de amanhã", aproveitou os rumores sobre a suposta previsão apocalíptica maia para realizar o filme-catástrofe chamado "2012", que é baseado na teoria do calendário maia, ao qual foi creditado, à época da produção, o estabelecimento do fim do mundo entre os dias 21 e 23 de dezembro de 2012.
O filme tem grande representação catastrófica, mostrando eventos que estão acontecendo, como, por exemplo, inundações, mudanças climáticas, tsunamis, terremotos e vários outros fenômenos da natureza. Na trama cinematográfica, muitos desastres naturais começam a destruir a terra e um pesquisador lidera um grupo de pessoas lutam para evitar vários eventos apocalípticos previstos num antigo calendário maia e que poderiam levar ao fim da civilização. O planeta entra em colapso e, em uma das cenas, o monumento do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (RJ), aparece submerso, depois de ser atingido por um tsunami.
O filme também retrata uma série de eventos cataclismáticos que estariam supostamente previstos na Bíblia.
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