Entrevista



Lee Strobel - Em defesa da ressurreição de Cristo


Por Elvis Brassaroto Aleixo
Lee Strobel é mestre em Direito pela universidade Yale. Atuou, durante treze anos, como jornalista do Chicago Tribune e em outros jornais americanos, conquistando vários prêmios ao longo da carreira. Até 1981, era ateu. Hoje, é pastor da área de ensino da Igreja Saddleback, Califórnia (EUA). Escreveu vários livros, entre os quais Inteligência espiritual, Em defesa da fé e Em defesa de Cristo. Foi na qualidade de repórter premiado e como ateu confesso que investigou, pela primeira vez, a maior notícia de todas: Jesus Cristo. Na entrevista que segue, Strobel apresenta sua apologética à ressurreição física e literal de Jesus, doutrina essencial do cristianismo ortodoxo.

Defesa da Fé – Você foi criticado por investigar a ressurreição de Cristo por meio de um viés jornalístico, um pouco diferente da exposição tradicional no meio evangélico. Qual é a sua resposta a esse tipo de crítica?

Lee Strobel – Acho muito saudável usar o jornalismo associado às técnicas legais para investigar pontos a favor ou contra do cristianismo e de outros sistemas religiosos. Para mim, a fé é um passo de confiança que tomamos na mesma direção para onde as evidências apontam. É importante que nossa confiança se baseie numa compreensão racional daquilo que as evidências comprovam acerca de nossa fé. O cristianismo não é uma religião de fábulas, mas histórica, suscetível a questionamentos específicos que abrem margem à investigação.

Defesa da Fé – Sua definição de fé é interessante. Você quer dizer que, se não houver evidências históricas explícitas para fundamentar a fé cristã, isso seria um problema?

Lee Strobel – Bem, há certos conteúdos da fé cristã que possuem menos amparo histórico que outros. Mas penso que aquilo que é nuclear para o cristianismo está bem fundamento por dados históricos comprováveis. Se pudermos confiar nas verdades centrais do cristianismo, isso nos assegurará a edificação de nossa fé em relação aos pontos adjacentes. Por exemplo, estive pensando sobre o céu e a condição pós-morte. É verdade que algumas pessoas relatam experiências de “quase morte” e falam sobre o céu, mas não há evidências sobre a veracidade dessas experiências. Por outro lado, temos uma autoridade que morreu e retornou dos mortos: Jesus Cristo. Ele possui ensinamentos sobre o céu e a vida após a morte. Se é verdade que Jesus é o Filho de Deus, e acreditamos que há irrefutáveis evidências históricas de que Ele de fato é, então Jesus pode ser qualificado como um especialista nesse assunto. Assim, mesmo que não tenhamos evidências diretas para esses tipos de questões, temos alguém que possui as credenciais para nos prover um parecer confiável.

Defesa da Fé – Segundo você acredita, qual é a melhor evidência acerca da ressurreição de Cristo?

Lee Strobel – Acredito que as evidências históricas apontam diretamente, sem desvios, para a verdade da ressurreição. A primeira e maior delas é o sepulcro vazio, pois todas as pessoas da época concordaram que a tumba de Jesus ficou vazia: judeus e romanos. A questão é: como ela poderia ter ficado vazia? Os cristãos respondem que Jesus retornou dos mortos. Os opositores afirmam que os discípulos roubaram o corpo de Jesus, apesar de eles (os discípulos) não terem motivos para isso e muito menos oportunidade de fazê-lo. Independente disso, a tumba está vazia! Ninguém pode negar isso.

Defesa da Fé – Você diz que os discípulos não tinham motivos. O motivo deles não poderia ser justamente fazer que as pessoas pensassem que Jesus havia ressuscitado?

Lee Strobel – Não penso que eles desejariam sofrer perseguições, privações e até a morte para defender algo que eles próprios sabiam ser uma falsificação. As pessoas nunca estão conscientemente dispostas a morrer por uma mentira. Além disso, há que se considerar que a tumba vazia foi descoberta primeiramente por mulheres, as quais não possuíam credibilidade para se apresentarem à corte legal na cultura judaica do primeiro século, pois o testemunho delas não era considerado crível. Por que os evangelistas diriam que as mulheres descobriram a tumba vazia, se isso deporia contra a suposta invenção deles mesmos? Acredito que fizeram isso porque queriam registrar os fatos da maneira mais acurada e fiel possível. A Bíblia fala de mais de quinhentos indivíduos que viram Jesus após sua ressurreição, incluindo pessoas cujas vidas foram totalmente transformadas, que deixaram de ser opositoras para se tornarem defensoras de Cristo, justamente porque tiveram um encontro com o Senhor ressurrecto. Além dos evangelhos, do livro de Atos dos apóstolos e das referências paulinas, antes mesmo de tudo isso ter sido escrito, o apóstolo Paulo fala para nós sobre um credo recebido pelos primeiros cristãos, cujo conteúdo versa sobre os fundamentos do cristianismo (1Co 15.3-7). O texto desse credo diz que Jesus morreu pelos nossos pecados, que Ele foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia. Esse credo tem sido datado pelos acadêmicos como tendo sido originado apenas dois ou três anos após a morte de Jesus. Estamos falando de um credo que emergiu tão rapidamente que não poderia ter sido produto do desenvolvimento de um mito ou lenda. Não se trata do resultado fantasioso de pessoas que atribuíram, ao longo dos séculos, coisas que não aconteceram a Jesus.

Defesa da Fé – Não seria possível que os discípulos estivessem dispostos a morrer pelo simples fato de acreditarem na mensagem de amor e abnegação pregada por Cristo e não propriamente por causa da ressurreição em si?

Lee Strobel – Tenho certeza que eles acreditavam nessa pregação, mas a crença deles foi muito além. Houve muitas pessoas que pregaram o amor através dos séculos, mas elas não tiveram centenas de discípulos mártires por causa disso. Os discípulos de Jesus acreditavam que Ele havia retornado dos mortos e que era, de fato, o Filho de Deus. Essa é base da pregação da Igreja primitiva no livro de Atos dos apóstolos.

Defesa da Fé – Como você julga a corrente de cristãos liberais que afirma que podemos ser cristãos sem crer na ressurreição literal de Cristo?

Lee Strobel – Eu diria que o apóstolo Paulo esteve muito mais próximo dos fatos históricos do que eles. Paulo foi o apóstolo que disse: “Se Cristo não ressuscitou, logo, é vã a nossa pregação e também a nossa fé” (1Co 15.14). Penso que a crença na ressurreição é garantida pelas evidências. Não sei sobre quais fundamentos uma pessoa pode rejeitá-la e aceitar um posicionamento parcial assim declarado: “Eu serei um crente cristão, mas cético em relação à ressurreição”. Muitas pessoas têm grandes dificuldades em crer em coisas que parecem fisicamente impossíveis, que parecem contra as leis da física ou da biologia. Trata-se de uma questão de cosmovisão. Se uma pessoa acredita que tudo o que existe no Universo é material, então a ideia de Jesus retornar dos mortos é mesmo um absurdo. Se a cosmovisão de uma pessoa permite e aceita o fato de que Deus criou o Universo (e as pesquisas da cosmologia moderna apontam fortemente nesta direção), então, para esse Deus, ressuscitar seu Filho dos mortos seria uma brincadeira de criança. Eu diria que as evidências históricas apontam para um evento sobrenatural como a ressurreição e os descrentes deveriam considerar essa possibilidade.

Defesa da Fé – Qual é a sua resposta às pessoas que dizem que a ressurreição deveria ser entendida metaforicamente, como um símbolo do renascimento de alguém?

Lee Strobel – Os registros históricos estabelecem que os cristãos primitivos acreditavam que Jesus ressuscitou corporal e fisicamente dos mortos. Nunca interpretaram isso de maneira simbólica ou alegórica. Não há esse tipo de interpretação registrada na Bíblia ou nos escritos da Igreja primitiva. Portanto, tal pensamento não tem fundamento.

Defesa da Fé – Muitas pessoas dizem “minha alma irá para o céu”, mas não mencionam nada sobre o corpo. Por que a teologia cristã, em geral, enfatiza que não é apenas a alma do crente que irá para o céu, mas que algo ocorrerá também com o corpo?

Lee Strobel – Parte dessa ênfase tem a ver com a própria ressurreição de Cristo. Se a ressurreição de Cristo foi um evento físico, assim também será a ressurreição dos crentes. O apóstolo Paulo é claro sobre isso: “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem. Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda” (1Co 15.20-23).

Defesa da Fé – Por que a salvação da alma não é suficiente? Por que o corpo também precisa ser contemplado?

Lee Strobel – Deus criou a alma e, também, o corpo. Séculos atrás, alguns diziam que o corpo, em si mesmo, era mau e a alma, boa. E, assim, construíram uma distinção dicotômica entre o corpo e a alma que não tem qualquer fundamento bíblico. Deus criou o nosso corpo e, também, a nossa alma.. Faz todo sentido que tenhamos uma experiência eterna que envolva os dois: corpo e alma.

Defesa da Fé – O que a ressurreição de Cristo representa para você, particularmente?

Lee Strobel – A ressurreição de Cristo dá-me a esperança de que, como isso ocorreu com Ele, também ocorrerá comigo, um dia. Acrescenta-me confiança nos ensinamentos de Jesus, os quais posso aplicar em minha vida, e que farão diferença para mim. Não são apenas lições de um brilhante e genial líder, mas provenientes do Filho de Deus. Isso significa que Jesus merece minha adoração e submissão. Também, significa que posso (e quero) investir minha vida em auxiliar outras pessoas a enxergarem as evidências da ressurreição, para que elas possam compartilhar a mesma experiência que eu tive, a qual me transformou de um ateísta resoluto em um cristão cheio de fé.

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