Defesa da Fé – Deus é um artista?
Damaris Claro – Sim, Deus é o verdadeiro artista.Um artista sensacional e incomparável. Diria até que Ele é o primeiro criador de todas as expressões artísticas. A partir de sua criação, podemos apreciar o esquema de cores e formas que a natureza nos oferece, ouvir a música no canto dos pássaros e o som da melodia existente nos mares e rios. Tudo foi feito com o mais alto teor de originalidade, não houve inspiração decorrente de algo já criado, algum elemento externo, não houve plágio. Deus, o hábil Arquiteto, criou um mundo perfeito e belo a partir de um espaço vazio e sem forma. Sua criação é a maior obra de arte que o homem já viu e essa arte, parafraseando o salmista, anuncia a glória divina (Sl 19.1).
Defesa da Fé – Existe alguma passagem bíblica com a qual você se identifica como artista?
Damaris – Sim. Quando leio o livro de Êxodo, especialmente o capítulo 35, imagino um grupo de artistas de Deus, com um lindo ateliê, onde homens e mulheres hábeis se expressavam por meio da arte com os seus trabalhos para adornar o Tabernáculo: “Venham todos os homens hábeis entre vós e façam tudo o que o Senhor ordenar. Todas as mulheres hábeis traziam o que, por suas próprias mãos, tinham fiado [tecelãs]... e o Espírito de Deus o encheu de habilidade, inteligência e conhecimento em todo o artifício [trabalhos com ouro, prata e cobre]... Também lhe dispôs o coração para ensinar a outrem [multiplicação de talentos]. Para fazer toda a obra de mestre até a mais engenhosa obra e a do bordador de estufo [bordado] (v. 10, 25, 31,34, 35). Creio que ainda hoje Deus continua buscando homens e mulheres hábeis para fazerem a sua obra.
Defesa da Fé – Não raro, a arte é elevada a um status numinoso, ocupando o lugar de Deus. Comente a declaração de Olga Savary: “A arte saiu da caverna e caminha em direção ao divino. É o Deus que há em nós a grande mola que propulsiona o homem para frente e para cima”.
Damaris – A arte jamais poderá ser avaliada dessa forma. Nada poderá ocupar o lugar de Deus, pois Ele não admite usurpação (Is 44.8). Concordo que a arte caminha em direção ao divino pelo fato de ver o Senhor distribuindo dons e talentos para que o ser humano se expresse ao criar obras que irão embelezar e elevar os espaços onde estiverem expostas. Mas daí afirmar que a arte “é o Deus que há em nós” é um exagero. O fato é que o ser humano vive desesperado procurando preencher o lugar de Deus em seu coração e, nesse espaço, tenta colocar de tudo, sendo a arte apenas mais uma tentativa frustrada, entre muitas outras. Somente Deus pode ocupar esse espaço! Penso que a arte está a serviço do Senhor e o artista não é mais que um portador de sua mensagem.
Defesa da Fé – É adequado afirmar a existência de certo misticismo que influencia o mundo artístico? A que você atribui essa tendência?
Damaris – Sua colocação é adequada. De fato, o meio artístico é bastante propenso ao misticismo que, atualmente, está presente em quase tudo. No artesanato, na decoração de residências (feng shui), na combinação de alimentos (reiki), etc. O artista plástico é um ser dotado de uma sensibilidade mais aguçada e acredito que isso o torna mais vulnerável ao sofrimento e, como fuga, ele busca soluções fora da realidade. Embora exista também o interesse financeiro, pois um objeto de arte ou de artesanato que prometa trazer “sorte” ou “bons fluidos” ao seu possuidor é vendido mais facilmente e alguns “artistas” se valem dessa “estratégia”.
Defesa da Fé – Sabemos que a natureza sempre foi uma grande fonte de inspiração para as artes. Atualmente, percebemos uma ostensiva apropriação do misticismo em relação aos elementos da natureza, notadamente, os luminares. Como lidar com essa simbologia esotérica de maneira equilibrada?
Damaris – Quando ministro cursos ou palestras, percebo essa inclinação em muitas pessoas. Os luminares (estrelas, luas, planetas, etc.) são criações de Deus e se o esoterismo se apropria desses elementos para se comunicar por meio de símbolos, devemos estar atentos a isso. Entretanto, isso não significa repudiá-los indiscriminadamente, pois, se assim agirmos, daqui a pouco teremos de repudiar tudo o que estiver ao nosso derredor. Precisamos ponderar que, em alguns casos, a representação simbólica é ambígua, podendo assumir mais de um significado, dependo da pessoa que está “lendo” o símbolo. Assim, somente para citar um exemplo prático, uma pessoa esotérica pode adquirir um jogo de toalhas com luas e estrelas porque acha que tais elementos são significativos para o culto de seu misticismo, enquanto uma outra, evangélica, pode comprar o mesmo item por julgar a estampa da toalha aprazível, sem o vínculo místico. Nesses casos, deve-se julgar o significado da representação do objeto adquirido pelo comprador. Acho que isso é mais equilibrado, mas não menosprezo a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre o assunto, pois o inimigo é astuto e lança mão de todos os meios para enganar aqueles que são fiéis a Cristo (2Co 11.14).
Defesa da Fé – Muito se ouve dizer de quadros pintados por médiuns que recebem espíritos de pintores já falecidos. Há pouco tempo, li uma tese, crítica literária, que se dedicava à análise de poesias psicografadas. Como você enxerga essas supostas manifestações artísticas vindas do “além-túmulo”?
Damaris – Entendo que Deus distribuiu para cada ser humano dons e talentos, para que o homem pudesse se expressar com singularidade. Não existem duas pessoas que sejam iguais. Cada ser humano é uma obra de arte de Deus, podendo, então, desenvolver suas habilidades de maneira original. Mas o adversário, que é o diabo, faz o oposto; despersonalizando e induzindo a imitar, copiar obras de celebridades que já morreram. A Palavra de Deus é clara ao ensinar que os mortos não se comunicam com os vivos (Lc 16.19-31; Hb 9.27). Portanto, das duas uma: ou tais pessoas calculam esses plágios fraudulentamente ou o fazem mesmo em êxtase, fora de si, usadas por uma força maligna. Esse último posicionamento é validado se considerarmos que o diabo possui algum poder. As Escrituras relatam que mágicos egípcios puderam reproduzir três das dez pragas realizadas por Deus Poe meio de Moisés (Êx 7.21,22; 8.6,7,17,18). Uma crítica superficialmente aguçada é capaz de desqualificar essas produções forjadas.
Defesa da Fé – Você já teve alguma experiência em que a arte serviu como instrumento para evangelizar alguém?
Damaris – Sim, muitas, mas irei destacar apenas a que mais me marcou. Por intermédio do extinto programa Mix das Artes, que produzi e apresentei na Rede Record de Televisão, recebi uma carta de um presidiário do Carandiru, com 25 anos de condenação. Tratava-se de um crente afastado que me pedia ajuda. Sentia-se só, a família não o visitava mais. E, para ocupar o tempo, queria desenvolver um trabalho na prisão. Então, enviei material artístico para a cadeia e pedi a um pastor que lhe desse um atendimento espiritual. A família ouviu falar dele na TV e voltou a visitá-lo. Ele se converteu e começou a pintar e a vender os quadros para a irmã de um ex-prefeito de São Paulo, que possui uma rede de lojas de produtos artísticos.
Defesa da Fé – Para finalizar, o que o cristão deve observar ao adquirir uma obra de arte?
Damaris – O tema da obra. Não é incomum artistas colocarem em suas obras mensagens subliminares, por isso, elas devem ser analisadas com olhos atentos. Além disso, existem obras com ares sacros, por exemplo, que podem dar margem à idolatria. Não devemos esquecer que, num sentido mais lato, toda a imagística venerada pela igreja católica romana é fruto da arte de mãos peritas na confecção da representação dos “santos” e “anjos” venerados pelos fiéis. Muitas dessas obras possuem alta qualidade estética, mas nem por isso devem ser abonadas pelos cristãos. Não defendo radicalizações, pois lemos na Bíblia que o próprio Deus mandou que artistas confeccionassem imagens de querubins para adornar os ambientes sagrados, contudo, esses anjos jamais foram venerados (Êx 25.17-22; 1Rs 6.23-29; 7.23-28). Há um exemplo bíblico da serpente de metal confeccionada por Moisés, sob o imperativo divino (Nm 21.8,9), mas que teve de ser destruída posteriormente porque “os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã” (2Rs 18.4). Nesse caso, o problema não estava no objeto, mas nos crentes, que “animaram” o objeto, conferindo-lhe alma, e o adoraram. Sobretudo, devemos desenvolver nossa espiritualidade em Cristo, porque “o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (1Co 2.15).
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