Entrevista



Gilson e Eliane Deferrari - Vitória sobre o gnosticismo



Por Jamierson Oliveira

Em 1998, a imprensa, em particular a evangélica, veiculou fartas notícias sobre a cassação do livro A realidade do gnosticismo, de Gilson e Eliane K. Deferrari. Embora o ato não seja incomum na história literária brasileira, esse, porém, chamou a atenção porque não fora empreendido por uma pessoa que, direta ou indiretamente, tivesse sido ofendida, o que justificaria a iniciativa. A ação judicial foi movida por um movimento religioso que simplesmente se sentiu prejudicado pelo depoimento de um de seus ex-integrantes.

Os autores, membros da igreja evangélica Assembléia de Deus de Passo Fundo (RS), lutaram com todas as forças e, com a ajuda do Senhor, venceram gloriosamente: foram inocentados pela Justiça e a obra, antes “perseguida”, voltou a circular com mais força, porque o processo a que foi submetida acabou servindo de marketing para despertar o interesse de muitos leitores.

Nesta edição, Defesa da Fé fez questão de entrevistar esse abençoado casal, concedendo-lhe a oportunidade de falar de sua história, conversão e vitória sobre seus opositores!

Defesa da Fé – Antes de envolver-se com o gnosticismo você foi cristão?

Gilson Deferrari – Sim, fui cristão por vários anos. Mas no período em que me envolvi com o gnosticismo já estava afastado, há três, do cristianismo. Eliane, até os doze anos de idade, tinha freqüentado uma denominação evangélica.

Defesa da Fé – Então, seu afastamento de Jesus foi uma atitude de revolta?

Gilson Deferrari – Perfeitamente. Eu estava revoltado com Deus. Algumas circunstâncias pessoais me levaram a afastar-me dele. Cheguei a ponto de orar dizendo: “Não quero mais servi-lo! Esperava que ‘você’ não me deixasse chegar nesta situação. A partir de hoje, não serei mais crente”. Vivia em uma situação extrema!

Defesa da Fé – Até chegar ao gnosticismo, você passou pela quimbanda?

Gilson Deferrari – É incrível. Mesmo tendo sido cristão, passei a freqüentava sessões da quimbanda: tomava passes, consultava os demônios, etc., mas nunca quis passar pelo batismo de sangue. A quimbanda se diferencia da umbanda pela predominância de sangue. Suas cores predominantes são o vermelho e o preto. Lá, costumam afirmar: “Deus é bom, mas o diabo não é mau”. Participei de tudo isso.

Defesa da Fé – Um ex-cristão na quimbanda é um fato inédito, não é?

Gilson Deferrari – Diria que não. Infelizmente, a gente encontra ex-cristãos nestes lugares e em várias outras seitas, principalmente naquelas que enquadramos como “espiritismo científico” ou “seitas filosóficas”. Vale lembrar aqui o que Jesus disse em Lucas 11.24-26 e 2Pedro 2.20-22. O que significa um ex-cristão faz coisas muito piores do que aquele que nunca foi cristão.

Defesa da Fé – E quanto às acusações que recaem sobre essa religião de sacrificar animais e até mesmo seres humanos, o que você tem a dizer?

Gilson Deferrari – O sacrifício de animais existe. É um ritual tão antigo na quimbanda que quase chega a ser uma tradição. Presenciei isto. Quanto ao sacrifício de seres humanos, um amigo meu da época me falou de sua experiência. Segundo disse, chegou a realizar um sacrifício com criança. Mas eu, particularmente, nunca presenciei nada parecido.

Defesa da Fé – E por que da quimbanda para o gnosticismo? Como se deu o envolvimento do casal com esse movimento?

Gilson Deferrari – Quando conhecei a Eliane, ela seguia um movimento gnóstico. Então, me levou para lá. Na verdade, tudo faz parte da busca do ser humano por algo superior. Na época, eu havia abandonado o evangelho e ela já estava na fase “B” Avançada no movimento que freqüentava e me levou para assistir às palestras. A entrada para o movimento acontece por fases: “A”, “B”, “B” Avançada e “C”. Apesar de ter sido cristão por doze anos, ter sido obreiro e ter feito uma Escola Teológica, não tinha nenhum conhecimento do gnosticismo.

Defesa da Fé – Como se deu seu retorno à fé cristã e bíblica?

Gilson Deferrari – Foi durante uma conferência gnóstica. Ao ouvir tudo que estava sendo ensinado sobre regressão, várias existências e reencarnação, começaram a vir à tona em minha mente textos bíblicos que contradiziam aquelas heresias. Fiquei profundamente pensativo. O mesmo fato se repetiu em outras ocasiões em que participava de estudos. Era o Espírito Santo trabalhando em minha vida! Passei a sentir intenso desejo de orar e ler a Bíblia novamente e, a partir daí, voltei aos caminhos do Senhor.

Defesa da Fé – É verdade que, em 1998, seu livro autobiográfico, A realidade do gnosticismo, foi alvo de uma ação judicial movida pela direção dessa seita no Brasil?

Casal Deferrari – Sim. Tivemos nosso livro cassado por conta de uma Ação Cautelar Inominada. Também moveram um processo-crime contra nós, em que fomos acusados de calúnia e difamação. O pastor João Oliveira, que prefaciou o livro, também foi atingido. Moveram ainda mais um processo contra a Editora Kurios, de nossa propriedade. Ao todo, enfrentamos três processos, sendo dois cíveis e um criminal.

Defesa da Fé – O que exatamente motivou o movimento gnóstico a processar o senhor e sua esposa?

Gilson Deferrari – Alegaram que se o livro, escrito por um casal que saíra de dentro do movimento gnóstico, viesse a circular, traria grandes danos para a seita, talvez até o encerramento de seus trabalhos.

Defesa da Fé – Esse problema trouxe conseqüências ao seu ministério?

Casal Deferrari – Não, de forma alguma. Na verdade, tal perseguição fez que o Brasil tomasse conhecimento do nosso livro e recebêssemos apoio de vários lugares. Também recebemos convites e ministramos em muitos lugares. A cassação fortaleceu a nossa fé e nos aproximou ainda mais de Deus, pois tínhamos certeza que Ele iria nos dar vitória. Nunca duvidamos disso.

Defesa da Fé – O gnosticismo já rondava a Igreja primitiva. Vocês poderiam falar quais são as estratégias dos gnósticos hoje?

Casal Deferrari – Não só rondava como interferia na Igreja primitiva. Sua atuação concentrava-se nas igrejas da Ásia Menor. João, Pedro, Paulo e Judas tiveram grandes enfrentamentos filosóficos com os gnósticos, nos deixando um legado de nove livros no Novo Testamento que, ao todo ou em partes, foram escritos para combater a doutrina gnóstica. Depois, devido à grande atuação dos cristãos nos 180 primeiros anos da Era Cristã, os gnósticos se calaram por longos anos. Voltaram no século passado e estão tendo grande atuação na implantação da Nova Ordem Mundial ou Nova Era. Em 1998, quando lançamos nosso livro, eles estavam em franca campanha de “evangelização” do Brasil, usando vários meios de comunicação em massa. Hoje, estão mais cautelosos, não estão mais abertos ao público, mas continuam atuando no Brasil inteiro.

Defesa da Fé – O gnosticismo possui obras básicas que orientam seus seguidores e, ao mesmo tempo, sirvam de respaldo para suas afirmações?

Eliane Deferrari - Freqüentei o movimento gnóstico durante três anos, aproximadamente. Suas obras bibliográficas, todas elas, são praticamente elaboradas pelo mestre do movimento, Samuel Aun Weor, mentor e estudioso de um método eclético com uma mescla de crenças e filosofias. O movimento possuía uma biblioteca em suas sedes e a leitura dos livros era aberta ao público, sob orientação dos instrutores. Atualmente, por causa do livro que escrevemos, a literatura gnóstica passou a ser secreta, aberta somente às fases mais avançadas.

Defesa da Fé – A Igreja primitiva defrontou-se com essas heresias. Como a Igreja atual deve enfrentá-las?

Casal Deferrari – A Igreja deveria estar preparada para cumprir o “Ide” de Jesus também entre os seguidores de seitas. Mas vemos que a Igreja não está cumprindo o “Ide” na proporção que deveria. Ainda há muitos que precisam ser evangelizados. Existe, entre os seguidores de seitas, uma grande deficiência nesse sentido, porque, geralmente, quem se preocupa em evangelizar essas pessoas são os que já passaram por lá e se converteram ao evangelho. A Igreja deveria se preparar e confrontar os gnósticos, tal como fez a Igreja primitiva, ensinando a verdade de Jesus Cristo para essas pessoas a fim de que sejam libertas espiritualmente (Jo 8.32). Mas o que temos visto é uma grande deficiência nesse aspecto e nos sentimos chamados por Deus para ajudar as Igrejas nesta tarefa. Nos colocamos à disposição das igrejas a fim de orientá-las nesta área.

Defesa da Fé – Quanto ao processo judicial do seu livro, parece-me que acabou sendo arquivado e a obra liberada para livre circulação, não é isso?

Casal Deferrari – Sim. O livro foi liberado, por unanimidade, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, para circulação, e já está sendo comercializado em livrarias e distribuído em vários lugares do país.

Defesa da Fé – Nesse processo não cabe uma apelação por parte do movimento?

Casal Deferrari – Sim, ainda podem intentar um recurso em Brasília, mas sem efeito suspensivo, o que não impede a circulação do livro.

Defesa da Fé – Quais são os seus planos, agora?

Casal Deferrari – Levar a nossa mensagem ao mundo, ajudar as igrejas em seu preparo para evangelização dos seguidores de seitas e transmitir a nossa experiência a todos aqueles que, ainda nos dias de hoje, são perseguidos por propagarem sua fé em Jesus Cristo. Já há alguns anos, Deus também nos chamou para trabalhar com adolescentes e missões, e estamos preparando novos livros nestas áreas.

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