Depois de doze anos de estudo no Seminário da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, José Barbosa de Sena Neto foi ordenado padre em 1971. Por mais de 22 anos, exerceu o sacerdócio católico no Estado de São Paulo nas cidades de Bauru, Santo André e São Caetano do Sul, além do Sertão Central do Estado do Ceará. Hoje, com 56 anos, é convertido ao evangelho, pastor batista, com bacharelado em teologia, licenciado em filosofia e pedagogia e mestrado em Teologia Pastoral. Como conferencista e apologista, exerce seu ministério de forma itinerante e, por meio de seu livro, Confissões surpreendentes de um ex-padre (ver pg. 26), relata seu testemunho.
Casado e pai de dois filhos, reside em Fortaleza (CE), de onde concedeu, por e-mail, a seguinte entrevista à Defesa da Fé.
Defesa da Fé – Enquanto padre convicto o senhor teve contato com algum outro padre já convertido?
José Barbosa – Fui um terrível perseguidor do povo de Deus. O ex-padre que já dorme no Senhor Aníbal Pereira dos Reis, se fosse vivo, poderia testemunhar o quanto foi perseguido por mim. Não se esqueça que exerci o sacerdócio no interior, na região do Sertão nordestino, terra do “Padim Padi Ciço”, conhecida em todo a Brasil pelo seu fanatismo idólatra.
Defesa da Fé – Quais são as implicações acarretadas ao padre que abandona a batina, ou seja, que rompe com o catolicismo?
Barbosa – O padre que descobre a verdade, tendo consciência de que precisa abandonar suas práticas pagãs e idólatras até então exercidas e defendidas, assusta-se com as dificuldades da mudança de vida e, fora das asas da sua igreja, teme ser desprezado pelos companheiros, teme os obstáculos sociais impostos pela sociedade, teme não conseguir nova inclusão social e ser considerado como renegado por ter deixado de cumprir com os juramentos feitos. Alguns, sem coragem suficiente, caem no indiferentismo, passando a exercer o seu ministério sacerdotal hipocritamente, sabendo que estão ensinando doutrinas nas quais não mais acreditam, celebrando “missas” sem valor algum. Mas os corajosos e verdadeiramente convertidos, lavados e remidos pelo sangue do Senhor Jesus, derramado na cruz do Calvário, renunciam a todo conforto material e a todas as vantagens outrora usufruídas e passam a viver na total dependência do Senhor, colocando-se, desse modo, no centro da vontade de Deus, a qual nunca falha!
Defesa da Fé – O senhor chegou a experimentar esse indiferentismo por muito tempo? Testemunhou esse tipo de confissão entre seus companheiros de sacerdócio?
Barbosa – Evidentemente! Tive medo, muito medo de sair da Igreja Romana pelo pavor de vir a passar fome e receber o desprezo dos colegas. E, em razão disso, fui tomado por um indiferentismo quase doentio, não me importando mais com as coisas sérias da vida. Por outro lado, constatei que alguns de meus ex-colegas, ao tomarem um pouco do conhecimento da verdade do evangelho, também estavam mergulhados nesse indiferentismo, vivendo numa depressão incrível, mas, em razão da idade, já um tanto avançada de alguns, não encontravam forças suficientes para se libertarem do manto do romanismo.
Defesa da Fé – Como se comportam os teólogos da Igreja Romana, uma vez que tudo é controlado?
Barbosa – Os teólogos católicos têm o direito de estudar, questionar e até mesmo apresentar assertivas e opiniões diferentes do que está estabelecido como doutrina oficial. Mas cada interpretação ou comentário particular para ser reconhecido precisa estar emaranhado das idéias dos concílios e encíclicas pastorais da igreja de Roma. Apresentar as obras desses homens sem um entrelaçamento nas bases do romanismo é muito complexo. Tenho a mais absoluta certeza de que esta revista, há muito tempo, vem sendo analisada por um determinado órgão da CNBB.
Defesa da Fé – Como enxerga o aparente desejo de algumas vertentes católicas em se unir com os evangélicos?
Barbosa – O documento Dominus Iesus, elaborado e assinado pelo “todo-poderoso” Cardeal Joseph Ratizinger, prefeito da Congregazione per la Dottrina della Fede [Congregação para a Doutrina da Fé — ex-Santo Ofício] expressa abertamente: “sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja”. Esta declaração recebeu a ratificação do Papa João Paulo II em 16/06/2000 e foi oficializada pela tal Congregação em 06/07/2000, deixando explícita a dissimulação do ecumenismo. O documento reza: “Existe, portanto, uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele”. Diante dessas declarações do cardeal Ratizinger, o verdadeiro executivo das decisões romanas hoje, em que conclusão podemos chegar?
Defesa da Fé – Hoje, não há como negar o crescimento do Movimento de Renovação Carismática dentro da Igreja Católica. Como o senhor avalia esse movimento?
Barbosa – A CNBB nunca aprovou o tal movimento, mas apenas o tolera, com olhos de profunda suspeita. Daí a existência do Documento 53 da CNBB, sobre Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica, elaborado por ocasião da 34ª Reunião Ordinária do Conselho Permanente, ocorrido entre 22 a 25 de novembro de 1994, em Brasília, DF, disciplinando o referido movimento. Liderado por padres jesuítas, não se enganem os descuidados, o MRCC é tão-somente uma tentativa de barrar o crescimento das igrejas evangélicas, principalmente o crescimento fenomenal das igrejas pentecostais e o assombroso crescimento das igrejas neopentecostais, que tem assustado de forma mortal o catolicismo romano em solo pátrio.
Defesa da Fé – Outro fenômeno é o padre Marcelo Rossi. Na sua opinião, o que ele representa para o catolicismo, hoje?
Barbosa – A CNBB não apóia o referido sacerdote; apenas o tolera e o usa para tentar segurar a revoada de católicos de seus arraiais. Ele não é carismático na expressão do termo, pois nunca ninguém, até hoje, o ouviu pregando uma mensagem tipicamente carismática, mas ele tem servido aos interesses dos bispos católicos para tentar trazer de volta os “católicos rebeldes”, hoje evangélicos, aos braços papais, usando a força da mídia, cantando hinos “evangélicos” em suas “megamissas-show”, deixando transparecer aos menos avisados que hoje não precisamos deixar a “mãe-igreja”, “porque o que os irmãos evangélicos têm, nós temos também...”. Tudo não passa de uma estratégia da Igreja Romana para tentar manter sua hegemonia maléfica.
Defesa da Fé – Qual é a sua avaliação sobre a possibilidade de um brasileiro assumir o papado? Poderíamos prever a extensão de sua influência em nossa nação?
Barbosa – Houve-se falar, por detrás dos bastidores, de alguma remota possibilidade de d. Cláudio Hummes, atual bispo arquidiocesano e cardeal de São Paulo, vir a ser eleito futuro papa. Mas remota possibilidade, repito. O que se verifica, atualmente, é uma movimentação articulada para a escolha política de um cardeal italiano para substituir João Paulo II. Não resta a menor sombra de dúvidas de que, caso eleito, o cardeal brasileiro Cláudio Hummes teria alguma influência em nossa nação, mas não tão acentuada agora como se ocorresse em épocas áureas da Igreja Romana em nossa pátria, a qual, sem lentes de aumento, qualquer cidadão observador poderá verificar que ela caminha a passos largos para uma cada vez mais acentuada decadência e descrédito, por culpa do mau comportamento de seu próprio clero. O povo brasileiro não mais perdoa tantos descalabros vergonhosos ocorridos, recentemente, no seio da Igreja de Roma.
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