Entrevista



Thomas L. Gilmer - Conservando a integridade bíblica



Por Jamierson Oliveira

Fundador e pastor emérito do Templo Batista de Indianópolis, SP, filiado aos batistas bíblicos, o doutor Thomas L. Gilmer já está no Brasil há 36 anos, como missionário norte-americano, e tem desenvolvido um profícuo ministério de ensino e evangelização. Ajudou a plantar várias igrejas e a preparar “ferramentas” de pesquisas teológicas, como, por exemplo, a Concordância Bíblica Exaustiva, a mais completa nas línguas portuguesa e espanhola. Com os cursos de mestrado, prós-graduação e dois doutorados nos EUA, tornou-se um ativo defensor da fidelidade aos manuscritos originais da Bíblia. Em entrevista à Defesa da Fé, pastor Thomas L. Gilmer, que também é o fundador da Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (SBTB), fala com autoridade sobre os desafios da Igreja para este milênio, dentre os quais: a evangelização, a atuação social e o apoio irrestrito a Israel, nação escolhida por Deus.

Defesa da Fé – Ao ser fundada, qual o objetivo do termo Trinitariana no nome da SBTB, sociedade bíblica que o senhor preside?

Thomaz L. Gilmer – A SBTB (Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil) foi criada em 1968 com o propósito de empreender uma revisão na tradução da Bíblia Sagrada feita por João Ferreira de Almeida, e uniu-se à Trinitarian Bible Society, de Londres, uma das primeiras sociedades bíblicas do mundo a publicar a tradução de Almeida. Quanto ao termo “Trinitariana”, ele foi usado para indicar a nossa convicção de que pessoas sectárias não devem fazer parte de uma sociedade bíblica, pois os conceitos doutrinários dessas seitas certamente se refletiriam nas traduções e/ou revisões da Bíblia.

Defesa da Fé – O senhor acha que o alvo foi alcançado, uma vez que o texto Fiel não tem sido o mais utilizado?

Gilmer - O texto que publicamos, popularmente conhecido como Almeida Corrigida Fiel (ACF), tem atingido seu alvo principal e ajudado a garantir a continuidade e o aumento da publicação da tradução de Almeida. Não é uma versão modificada que o próprio Almeida rejeitaria.

Defesa da Fé – Qual tem sido o alcance mundial da SBTB com a sua versão original?

Gilmer - O texto ACF está impresso em vários países, inclusive no Timor Leste, pela Trinitarian Bible Society, ou por outras organizações com a quais colaboramos. Exportamos Bíblias do Brasil para outros países de língua portuguesa. Pessoas ao redor do mundo consultam o nosso site www.biblias.com.br e compram as bíblias que publicamos. Centenas de milhares de bíblias, cerca de seis milhões de Novos Testamentos e aproximadamente 12 milhões de folhetos com o texto ACF são distribuídos anualmente no mundo todo.

Defesa da Fé - Por que a SBTB tem apresentado forte oposição às outras versões bíblicas?

Gilmer - A SBTB oferece apenas uma alternativa: a ACF! O melhor e mais correto texto sagrado. Ao invés de brigarmos com a escuridão, acendemos uma vela e conduzimos as pessoas pelo caminho correto. O Textus Receptus, em grego, e o Massorético, em hebraico, foram aceitos pelos reformadores como sendo os textos mais fiéis da Bíblia Sagrada nas línguas originais. E todas as principais línguas do mundo receberam traduções baseadas nesses textos durante a Reforma. O que ocorre é que certas versões da Bíblia, ou revisões de fiéis traduções da mesma, modificam palavras baseadas em textos alexandrinos e, em muitos lugares, omitem vocábulos críticos que substanciam a deidade de Jesus, entre outras doutrinas vitais. Por isso que algumas organizações e indivíduos que crêem na ACF como um texto fiel da Bíblia fazem oposição às outras versões.

Defesa da Fé - Nesse contexto, os eruditos consagrados das línguas originais, como Brook Westcott e Anthony Hort, também são alvos de críticas. Por quê?

Gilmer - Os denominados “eruditos” Brook Westcott e Anthony Hort não foram “consagrados”. Ao partirem da premissa de que o Textus Receptus é “vil”, tiveram o propósito de derrubá-lo, e fizeram declarações contra a divindade de Jesus Cristo e aderiram as organizações ocultistas.

É interessante reparar que o texto da Bíblia publicado pela seita Testemunhas de Jeová baseia-se no texto grego de Westcott e Hort. A base desse texto encontra-se principalmente em dois manuscritos que, apenas nos quatro evangelhos, diferem em mais de dois mil lugares.

Também é curioso notar que todos os líderes religiosos liberais e ecumênicos promovem traduções da Bíblia baseadas no trabalho de Westcott e Hort, exemplo das edições em grego, chamadas Texto Crítico (TC), sejam denominadas Westcott e Hort, Nestlé, Aland-Nestlé ou USB (United Bible Societies).

Defesa da Fé – Então, o que dizer dos milhares de irmãos que conheceram o plano de Deus de salvação nas páginas dessas Bíblias?

Gilmer - Graças a Deus pelos indivíduos que receberam suficiente informação de qualquer edição da Bíblia para que pudessem nascer de novo. Isso porque, mesmo em sua pior tradução ou versão, há na Bíblia conteúdo suficiente do evangelho para salvar o mundo inteiro. Mesmo assim, isso não nos isenta da obrigação de imprimir a mais autêntica cópia da Bíblia Sagrada possível.

Defesa da Fé - Como o meio acadêmico e as igrejas têm recebido essas críticas?

Gilmer - Há acadêmicos e igrejas em ambos os lados da questão. Tenho falado com professores de grego que nunca ouviram os argumentos em favor do Textus Receptus. Alguns desses professores, confrontados com os fatos, agora usam e promovem o TR. Para os mais interessados, recomendo que conheçam um acadêmico verdadeiro, professor de grego, tradutor e missionário, chamado Wilbur Pickering, autor do livro: The Identity of The New Testament Text (“A identidade do texto do Novo Testamento”).

Defesa da Fé - Além das novas versões, projetos de Bíblias de estudo, com os mais diferentes recursos, têm sido lançados no mercado. Como o senhor vê esse fenômeno?

Gilmer - O crescimento do número de versões bíblicas não tem aumentado o conhecimento geral da Bíblia Sagrada, nem a memorização de versículos, nem a confiança na sua autoridade como palavra final. Comentários e interpretações são válidos, sejam impressos nas margens de uma Bíblia ou em volumes separados. Mas temos encontrado negações da veracidade de certas passagens e outras dúvidas, lançadas em anotações das Bíblias, e isso é extremamente danoso. Mas isso acontece desde os tempos de Jeremias 23.30,3l,36.

Defesa da Fé – Além da SBTB, o senhor preside a Associação Internacional de Missões aos Israelitas (AIMI). Qual é o papel dessa entidade?

Gilmer - A AIMI, também conhecida como Amigos de Sião, tem por finalidade ajudar os cristãos a entenderem a nossa obrigação para com Israel e com os judeus em diáspora, para que se tornem fiéis “amigos de Sião”. Desafiamos as igrejas e os crentes a serem “amigos de Sião” nas suas ações e palavras, além de apoiarem com oração e finanças os nossos representantes e projetos, inclusive o reflorestamento de Israel.

Defesa da Fé - O senhor considera possível a paz entre os árabes e os judeus?

Gilmer - A Bíblia profetiza a paz entre os árabes e os judeus. O árabe que se torna crente verdadeiro no Senhor Jesus, aceitando a Palavra de Deus como final, ama e procura o bem dos judeus, individual e coletivamente. Um judeu, nas mesmas condições, fará o mesmo. Como cristãos, devemos ser primeiramente amigos desses povos e ver o que podemos fazer para apoiá-los.

Defesa da Fé - O “Pacto social” do governo Lula tem relação com essa missão da igreja? Refiro-me à área social.

Gilmer - Como pastor e plantador de igrejas, sempre levei meu povo a ajudar os necessitados. Tenho experiência própria, pois trabalhei, na infância e na adolescência, nos EUA, como camelô e engraxate. Minha orientação é que não se deve perpetuar a pobreza, mas ajudar as pessoas a se tornarem autônomas, se auto-sustentando e ajudando as outras. Por exemplo. Moradia e comida por um a três meses, com material para vender, até que a pessoa possa persistir sozinha. Se cada igreja praticasse a ação social, alfabetizando, alimentando (com critério), profissionalizando, enquanto evangeliza, haveria menos fome, tanto física quanto espiritual. Até empreguei uma assistente social como parte da equipe da igreja. Esse momento referente à fome e às necessidades sociais, é uma oportunidade inédita para as igrejas bíblicas, evangelizadoras, liderarem o caminho, fazendo do seu bairro e da sua cidade lugares melhores, transformando vidas, para que não sejam mais dependentes, mas independentes e com possibilidades de ajudarem outras pessoas.

Defesa da Fé - Os justos não mendigam o pão. Do ponto de vista doutrinário e bíblico, como podemos ver a pobreza?

Gilmer - O justo só passa fome devido à perseguição ou a um plano especial de Deus, conforme o Salmo 37.25. De outra forma, é porque não trabalha ou desperdiça tempo, dinheiro e oportunidades. E, talvez, por não saber fazer um orçamento para utilizar melhor o pouco que ganha. Tais justos que agem dessa forma necessitam de orientação e de um bom planejamento para se libertar do viver de créditos na mercearia, no cartão de crédito ou no cheque especial.

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