Um dos principais consultores teológicos do ICP (Instituto Cristão de Pesquisas), pastor Márcio Souza é natural de Belo Horizonte, MG, e filho de uma família de origem evangélica. Entretanto, na década de 60, por influência de um tio, seus familiares, membros da igreja Assembléia de Deus, tornaram-se testemunhas-de-jeová. Aos seis anos de idade, ele já fazia parte dos grupos de publicadores dessa seita, onde permaneceu “cativo” até os 24 anos, período em que decidiu abandonar o movimento. Atualmente, todo o seu talento como pastor e teólogo apologista é voltado para esclarecer à igreja sobre o perigo representado por grupos religiosos sectários que têm seduzido milhares de pessoas em todo o mundo. Mais detalhes na entrevista que segue.
Defesa da Fé - Como era sua infância como testemunha-de-jeová?
Márcio Souza – Lembro-me de que, desde cedo, meu pai já me ensinava os argumentos das testemunhas-de-jeová. “Onde irão morar os 144 mil?”, perguntava ele, e, no mesmo instante, eu apontava o dedo, mostrando o céu. Aos seis anos de idade, já fazia parte das atividades da seita, tinha registro de publicador e era membro ativo. Saía periodicamente distribuindo suas literaturas: as revistas Despertai e A Sentinela. As testemunhas-de-jeová levam a sério a educação religiosa de suas crianças. Não demorou muito para que eu chegasse a ser um “ministro em tempo integral”, um tipo de missionário local.
Defesa da Fé - Como funciona a hierarquia das Testemunhas de Jeová?
Márcio Souza - Existem duas hierarquias dentro da seita. A hierarquia congregacional, composta por publicador, servo ministerial e ancião. E a hierarquia de ministros de tempo integral, composta por pioneiros, família de Betel, superintendente de circuito, superintendente de distrito, superintendente de filial, superintendente de zona e corpo governante.
Defesa da Fé - Diante dessa estrutura religiosa da organização, qual era o sentimento que nutria em relação à sua fé?
Márcio Souza - Sentia-me confortável e amparado, sabendo que havia um canal que me trazia tudo preparado. Usávamos a seguinte expressão: “que a Bíblia é a nossa dispensa e o corpo governante prepara esse alimento e não se importa até mesmo de mastigá-lo para nós”. Julgávamos que éramos incapazes de ir até a Bíblia e, por isso, confiávamos em nossos superiores que nos davam tudo pronto. A condição era de dependência espiritual total.
Defesa da Fé – E em relação às pessoas que não eram testemunhas-de-jeová ?
Márcio Souza - O sentimento é diferente do que se tem como evangélico. Os cristãos têm paixão pelas almas. As testemunhas-de-jeová, não. Eles são ensinados que a salvação é para aqueles que possuem condição de adquirir conhecimento. Eles nunca irão abordar alcoólatras, viciados e outros nesta situação, pois julgam que estes não têm condição de galgar tal conhecimento sobre a Bíblia ou sobre Jeová, seu pensamento é apenas racional. A partir dos anos 80, o Corpo Governante, por meio dos instrutores da Escola de Pioneiros, orientou o seguinte: se no período de um ano de ensino a pessoa não se posicionasse a favor do batismo, ela deveria ser simplesmente abandonada. E isso é observado até hoje.
Defesa da Fé – O senhor aceitava sem relutância todos os ensinos da STV?
Márcio Souza – Sim! Mas temos de considerar aqui dois pontos de vista. O primeiro é que os estudantes das testemunhas-de-jeová são treinados para não fazer perguntas sobre assuntos mais avançados. Enfatizávamos aos alunos que o valor de descobrir o verdadeiro nome de Deus (Jeová) já era um enorme passo. Segundo, quanto aos demais adeptos, todos vivem estimulados para conhecer as novidades doutrinárias. A cada congresso de distrito, há uma ansiedade pelas novas luzes.
Defesa da Fé – E como são encaradas as falsas profecias que não se cumpriram?
Márcio Souza - Quando uma luz revelada fracassa, ela é maquiada pela STV. As profecias são vistas pelos adeptos como luz e, assim, nada é definitivo. A organização coloca suas crenças de forma progressiva. Dizem que se uma luz fracassou, Jeová trará outra com o objetivo de esclarecer seus desígnios. O interessante neste método é que a organização estará sempre errada no passado e sempre certa no presente – o que é um absurdo! O membro fica aprisionado neste raciocínio e aceita as mais contraditórias mudanças com a maior normalidade.
Defesa da Fé – Qual é a maior expectativa vivida hoje pelas testemunhas-de-jeová?
Márcio Souza – Esperam o Armagedom e sobreviver para um novo mundo. Também aplicam as profecias de Apocalipse às suas atividades e Organização. O curioso é que aqueles gafanhotos de Apocalipse 9, demônios que serão soltos para atormentar os homens, são julgados pelas testemunhas-de-jeová como sendo suas próprias literaturas. Acho que nisso eles acertaram (risos).
Defesa da Fé – Ex-testemunha-de-jeová conhecido no mundo inteiro, Raymond Franz, autor do brilhante livro “Crise de consciência”, ainda é acusado de não ter tido uma conversão genuína. O que o senhor pensa sobre este caso?
Márcio Souza – Temos de entender que sair de uma seita não significa entrar no cristianismo verdadeiro. Essa pessoa precisa rever profundamente todos os seus conceitos sobre Deus, sobre a Bíblia, sobre a igreja, sobre o mundo, sobre a sociedade, enfim... E, na maioria dos casos, as pessoas apenas se frustram com a sua antiga religião, mas não foram convencidas pelo Espírito Santo para a Verdade. Eu, por exemplo, precisei de dois anos para poder ter uma compreensão correta do plano de Deus.
Defesa da Fé – Neste caso, há aqueles que até chegam a fundar outra seita.
Márcio Souza – Exatamente. Tenho um exemplo em minha própria família. O meu tio que converteu toda a minha família às Testemunhas de Jeová saiu da organização e fundou outra seita chamada “Testemunhas de Jesus no Propósito de Jeová”. No Estado do Paraná podemos encontrar outra seita proveniente das testemunhas-de-jeová, os “Auroristas”. Hoje, somente os “Auroristas” estão ativos.
Defesa da Fé – Qual é a maior resistência que as testemunhas-de-jeová encontram em seu trabalho de visitação?
Márcio Souza - A principal é a questão do sangue. As pessoas têm medo de se engajar na seita e não poderem fazer transfusão de sangue em seus entes queridos. A outra resistência, sem dúvida, é o incômodo que os publicadores fazem ao bater de casa em casa em horários inconvenientes. Logo, esta edição de Defesa da Fé é muito oportuna, pois neste mês as testemunhas-de-jeová começam a enviar convites para toda a comunidade do seu bairro para a comemoração da morte de Cristo no mês de Nisã, isto é, março/abril.
Defesa da Fé – O que mais atrai uma pessoa a essa seita? Trabalhos sociais?
Márcio Souza – Não, as testemunhas-de-jeová não possuem nenhuma atividade social. Inclusive, se o plano do nosso presidente eleito, “Fome Zero”, dependesse do apoio delas, seria o maior fracasso. Somente nos casos de calamidade encontraremos movimentação social entre as testemunhas-de-jeová.
Defesa da Fé – Nos EUA, alguns membros das Testemunhas de Jeová estão sendo acusados de abuso sexual. Como a seita lida com essa questão?
Márcio Souza – A maioria dessas acusações são de pessoas adultas abusadas enquanto crianças. A organização mantém comissões de anciãos que são confidentes secretos de seus membros e mantêm um arquivo de registros internos digitados por um secretário que as autoridades ou a imprensa não podem ter acesso. Semelhante ao esquema da igreja católica. A manifestação nos EUA e em outros paises é para que tais registros venham a público e então os criminosos sejam punidos.
Defesa da Fé – Então, se um membro confessa um crime ele não é punido?
Márcio Souza – Não é bem assim. Uma confissão de natureza grave é ouvida por três anciãos eleitos chamados de “comissão justificativa” que, finalmente, decidirão pela penalidade desse membro, que pode incluir até a expulsão. Depois, uma cópia deste documento é enviada à sede de cada país. Mas essa pessoa nunca será entregue às autoridades públicas.
Defesa da Fé – O que aconteceu com a sua família, desviar-se para as Testemunhas de Jeová, deve ser motivo de preocupação dos pastores ou isso foi um caso isolado?
Márcio Souza - Sim, deve ser a principal preocupação dos líderes evangélicos. No mês passado, uma irmã me procurou para perguntar o que poderia ser feito para ajudar seu sobrinho, um jovem da igreja que, após estudar dois anos com as testemunhas-de-jeová, estava se preparando para ser batizado. Veja bem, o que poderia ser feito há dois anos era muito mais do que agora. Infelizmente, as pessoas só se dão conta desse problema quando vêem um parente ou um irmão já seduzido pelas seitas. Precisamos trabalhar mais na prevenção.
© Copyright 2000-2024 Instituto Cristão de Pesquisas
Ícones feitos por Freepik from www.flaticon.com