Os defensores do "Criacionismo da Terra Nova", os quais afirmam que o mundo foi criado em seis dias literais de 24 horas, negam que haveria morte antes da queda de Adão. Eles afirmam que a Bíblia declara que a morte veio apenas após Adão como resultado do seu pecado: "da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm 5.12; cf. 8.20-22).
Dr. Geisler entende que há vários problemas nesse argumento. Primeiro, Romanos 5.12 não diz que todos os animais morrem por causa do pecado de Adão, mas que apenas "todos os homens" morrem como consequência. Segundo, Romanos 8 não diz que os animais morrem como resultado do pecado de Adão, mas que apenas a criação "foi submetida à inutilidade" como resultado disso (v.20). Terceiro, se Adão comia qualquer coisa - e ele tinha que comer para sobreviver - então ao menos as plantas deveriam morrer antes do seu pecado. Quarto, e finalmente, a evidência de fósseis indica que os animais morriam antes de os humanos morrerem, de modo que o homem se encontra no topo do Estrato Geológico (mais recente), e os animais então em níveis inferiores do Estrato (mais antigos).
Deixe-nos acrescentar alguns pensamentos adicionais aos que o Dr. Geisler escreveu. Romanos 5.12 diz: "Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram". Aqui aprendemos:
1) Através do ato de rebelião de Adão o pecado entrou no mundo;
2) A morte resultou do pecado - mas para quem?;
3) A morte se difundiu por todos os homens;
4) A morte se difundiu por todos os homens porque todos pecaram;
5) Note, não se diz que a morte se difundiu para todos os animais - e sim para todos os homens;
6) Além disso, de que tipo de morte o apóstolo Paulo fala? Lembre-se a Bíblia descreve cinco tipos de morte:
a) Morte física - a morte do corpo (Tg 2.26)
b) Morte espiritual ou separação de Deus (Rm 6.23; Ef 4.18).
c) Morte eterna - a segunda morte (Ap 20.14).
d) Morte para a lei (Rm 7.14).
e) Morte para o pecado (Rm 6.12)
Em Romanos 5.12, o apóstolo se refere primariamente a "b" - morte espiritual. Genesis 2.15-17 nos diz o porquê. O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo. E o Senhor Deus ordenou ao homem: "Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá."
Deus disse especificamente para Adão e Eva que no dia em que eles comessem do fruto proibido eles certamente morreriam. Eles morreram fisicamente naquele dia? Não. Depois de pecarem, Adão e Eva continuavam caminhando. De fato, Adão viveu 930 anos de idade. Eles cultivaram a terra e tiveram filhos.
A morte especificada em Gênesis 2 e 3 por Paulo, em Romanos 5, deve ser a morte espiritual. Quando Adão pecou, ele instantaneamente "morreu" como Deus tinha dito. Ele permaneceu vivo de forma física, mental, voluntária e emocional, mas espiritualmente ele morreu. Isto é, o homem quebrou sua companhia harmoniosa com Deus e iniciou sua inclinação ou propensão ao pecado. Esta é a chamada "doutrina do pecado original" (não um pecado em particular, mas a tendência inerente ao pecado entrou no reino humano quando o homem se tornou pecador por natureza).
1) A morte pelo pecado a que Paulo se refere não é equivalente à morte física. Se fosse, Adão e Eva teriam fisicamente morrido no dia em que comeram da árvore. A Bíblia fala primeiramente da morte espiritual resultando do pecado.
2) Apenas os humanos mereceram o título de "pecadores". Apenas os humanos podem sofrer a morte através do pecado. Animais não pecam e não são chamados de pecadores na Bíblia. Além disso, não é oferecido aos animais o presente da vida eterna se eles se arrependerem.
3) A morte que Adão experimentou está cuidadosamente qualificada pelo apóstolo Paulo em Romanos 5.12. Ele escreveu "a morte veio a todos os homens" - não para todas as plantas e animais - apenas para seres humanos.
Notemos também o que se afirma em Romanos 5.18: "Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens." Aqui, Paulo fala sobre a queda do homem, sua morte espiritual e separação de Deus e a salvação de Deus através da morte de Cristo para conceder a salvação que pode encobrir o pecado de todos os homens. Eles devem receber esse presente pela fé em Cristo.
4) Além da morte espiritual, o homem se tornou mortal, sujeito às misérias dessa vida, e excluído da possibilidade de existir fisicamente para sempre. Em outras palavras, como resultado da Queda, Deus condenou Adão a uma expectativa de vida limitada e ao fato certo da morte física no futuro. Deus retirou o acesso à árvore no jardim que dava a Adão e Eva o potencial para a vida física eterna. Como sabemos?
As Escrituras nos dizem em Gênesis 3.22-24. Então disse o Senhor Deus: "Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se deve, pois, permitir que ele tome também do fruto da árvore da vida e o coma, e viva para sempre." Por isso o Senhor Deus o mandou embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado. Depois de expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o caminho para a árvore da vida.
Aparentemente, Adão e Eva tinham o potencial para a vida física eterna antes, e mesmo após pecarem. John MacArthur comentou em seu Estudo da Bíblia em relação a esses versos: "Deus disse ao homem que ele certamente morreria se comesse da árvore proibida. Mas a preocupação de Deus também pode ter sido de que o homem não vivesse para sempre em sua condição lamentável e amaldiçoada. Tomado no contexto mais amplo da Escritura, expulsar o homem e sua esposa do jardim foi um ato de graça misericordiosa prevenindo-os de serem sustentados para sempre pela árvore da vida."
Novamente, antes da Queda, Deus fez provisões para Adão e Eva sustentarem suas vidas físicas para sempre; mas após desobedecerem a Deus, não apenas lhes sucedeu a morte espiritual imediata, como também Deus os amaldiçoou e lhes disse que iriam, um dia, morrer fisicamente por terem sido excluídos da árvore da vida.
Em Gênesis 3.17-19 está escrito: "E ao homem declarou: 'Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse, maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida. Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas, e você terá que alimentar-se das plantas do campo. Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó, e ao pó voltará'."
Todos os cristãos acreditam que quando Adão e Eva pecaram, trouxeram a morte espiritual imediata e a certeza da futura morte física. Os cristãos também acreditam que o pecado original veio à existência naquele tempo. Além disso, Cristo é o único meio para a condição pecaminosa do homem. Mas os fatos não autorizam que os cristãos creiam que a vida animal e vegetal morressem apenas após Adão e Eva pecarem.
Mas como a Queda afetou a natureza? Qual é o significado de Romanos 8.20-22, onde isso se expressa: "Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade [futilidade], não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora"
As palavras "futilidade" ou "vaidade" referem-se à inabilidade de alcançar um objetivo ou propósito. Toda a criação é personificada para ser, como foi, esperançosa pela transformação de sua maldição e seus efeitos. Por causa do pecado do homem, Deus amaldiçoou o universo físico e agora nenhuma parte da criação realiza inteiramente o propósito original de Deus.
Alguns interpretam esse verso dizendo que o pecado de Adão conduziu para dentro da criação todo o tipo de deterioração natural, dor e morte. Eles supõem que a lei da entropia que descreve a diminuição da ordem no universo, não tinha efeito até o pecado de Adão e Eva. Baseado nessa hipótese, o tempo entre a criação do universo e a queda de Adão e Eva deve ser breve para explicar por que as evidências físicas não mostram nenhum período em que a deterioração e a morte não estavam em operação.
Mas existem vários problemas com essa interpretação. Primeiro, se alguém sustenta a hipótese do dia de 24 horas, em que Deus levou seis dias para criar tudo, então, de acordo com Romanos 8.22, "toda a criação" deve incluir o universo e todas as estrelas. Mas se assim for, as estrelas não brilharam após o primeiro dia? Os físicos insistem que as estrelas estavam brilhando e que a entropia estava ocorrendo naquele ponto. Se esse for o caso, então a deterioração estava presente desde o primeiro dia.
Como o Dr. Hugh escreveu em The Genesis Question ("A questão de Gênesis"): "Quando consideramos que a segunda lei da termodinâmica é essencial para a existência da vida, essencial para a alimentação, mobilidade e outras atividades incontáveis que a maioria de nós concorda ser agradáveis e boas, não vemos razão para sugerir que a lei deve ser julgada como ruim. As leis da termodinâmica foram incluídas quando Deus declarou sua criação como "muito boa" (Gn 1.31).
Devemos ser cuidadosos, porém, para não confundir a criação muito boa de Deus com sua melhor criação, ou mais especificamente, o objetivo final para sua criação. Na nova criação não haverá leis da termodinâmica - nenhuma deterioração, nenhum frustração, nenhum gemido, nenhum sofrimento (veja Ap 21.1-5). As leis da termodinâmica são boas, apesar do "sofrimento", da "frustração" e "gemidos", porque elas são parte da estratégia de Deus para preparar sua criação a aproveitar as bênçãos e recompensas da nova criação.
Então, se Adão e Eva fizeram algum trabalho no Jardim, então uma perda de energia e uma certa quantidade de deterioração estava presente. Por quê? Porque o trabalho é essencial para a respiração, circulação do sangue, contração muscular e digestão do alimento. Esses são todos processos que virtualmente sustentam a vida. Adão estava trabalhando, supervisionando o Jardim do Éden (Gn 2.15) antes de pecar. Então, Romanos 8.20-22 não poderia indicar que o pecado de Adão iniciou todo o processo de deterioração.
Quando Paulo se refere ao "gemido" da criação, a que outros efeitos da maldição ele se refere? Poderia ser que em Gênesis 1.28 Deus ordenou ao homem que supervisionasse o ambiente, mas como o homem pecou, o ambiente foi arruinado. O efeito do homem no ambiente é aproximadamente análogo ao resultado de mandar uma criança de dois anos de idade arrumar o armário. Deixado de lado, o armário se tornará menos arrumado devido à tendência natural à decadência e à desordem. Entretanto, tipicamente, a criança de dois anos de idade irá apressar o processo de decadência e desordem. Isaías 24.5 descreve a destruição do planeta que resulta da insubordinação do ser humano a Deus. Da mesma forma como se deve esperar que uma criança de dois anos cresça um pouco antes que ajude a arrumar o armário, a criação também espera que a raça humana experimente os resultados de Deus subjugar o problema do pecado.
Mesmo os pais da Igreja, como Orígenes, que viveram de 185 a 254 d.C., interpretaram Romanos 8.20-22 indicando que a decadência estava em vigor no mundo natural desde a criação do universo. Visto que Orígenes precedeu a descoberta científica das leis da termodinâmica e entropia (que inclui o princípio da decadência) por centenas de anos, está claro que ele não surgiu com sua interpretação como resultado de uma tentativa de adaptação às modernas teorias científicas de seu tempo.
Existem outras razões que nos dizem que a dor física e a decadência devem ter existido antes da Queda? Sim. Em Gênesis 3.16, Deus disse à Eva: "Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos.". Ele não diz "introduzirei". Ele diz, "aumentar" ou "multiplicar", implicando que deve ter havido alguma dor em qualquer caso.
Como Philip Yancey mostrou tão claramente em seu livro "Onde está Deus quando chega a dor?", alguma dor é boa. É bom que quando colocamos nossa mão no fogo, a dor nos avise do perigo. Se a dor não estivesse ali, não saberíamos que nossos dedos estariam queimando. A dor é a maneira de Deus evitar que destruíssemos nós mesmos. Adão e Eva certamente tinham que usar o tato e podiam sentir dor no Jardim antes da Queda. Eles deveriam ter um sistema nervoso que os protegessem de qualquer perigo em seu ambiente no Jardim. Eles deveriam ser capazes de sentir a picada de uma abelha, ou que estavam se envenenando ou de serem furados por um espinho. Quando Adão e Eva pecaram, as consequências e o risco da dor e sacrifício não começaram, eles simplesmente aumentaram.
Enquanto o pecado que nós seres humanos cometemos causa naturalmente em nós uma reação negativa à decadência, ao trabalho, à morte física, à dor e ao sofrimento, e enquanto tudo isso está ultimamente ligado de alguma forma aos planos de Deus para conquistar o pecado permanentemente, não há nada nas Escrituras que nos force a concluir que nenhuma dessas entidades existiram antes do primeiro ato de rebelião de Adão contra Deus. Por outro lado, a revelação de Deus através da natureza fornece evidências decisivas de que alguns desses fatores existiram por um longo período antes da criação de Adão.
Mas como a morte dos animais se relaciona com a expiação? Outra questão que emerge é esta. Se os animais morriam antes da Queda, isso não afeta a doutrina bíblica de expiação? Alguns citam Hebreus 9.22, que diz, "De fato, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão." Eles interpretam esses versículos para dizer que "a base da mensagem do evangelho é que Deus trouxe morte e derramamento de sangue por causa do pecado. Se a morte e o derramamento de sangue de animais (ou do homem) existissem antes de Adão pecar, então toda a base da expiação - a base da redenção - é destruída."
Mas essa é uma interpretação bíblica defeituosa. Embora seja verdade que não há remissão de pecado sem derramamento de sangue, o sangue de Cristo, não segue necessariamente que todo sangue derramado é para a remissão do pecado. Hebreus 10.1-4 explica que o sangue dos animais sacrificados não eliminará o pecado. O sacrifício pela morte de animais foi um retrato físico da morte espiritual causada pelo pecado, que necessitava da morte como um substituto para a expiação, bem como o prenúncio do último sacrifício eficaz que Deus, ele mesmo, um dia providenciaria. Desde que a pena para o pecado é a morte espiritual, nenhum sacrifício de animais poderia sequer reparar o pecado. O crime é espiritual, então a expiação tinha que ser feita por um ser espiritual.
O derramamento de sangue antes de Adão pecar não afeta ou prejudica, de nenhuma maneira, a doutrina da expiação. Sustentar esta doutrina central não exige de forma alguma um cenário de criação em que nenhuma das criaturas de Deus recebeu um arranhão ou um sangramento de ferida antes do pecado de Adão e Eva. Mesmo em um ambiente natural ideal, os animais seriam constantemente arranhados, picados, machucados e mesmo mortos uns pelos outros e por eventos acidentais.
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