É infrutífero tentar compartilhar os evangelhos com um muçulmano que, entre outras coisas, pensa que a Bíblia foi corrompida. Mesmo que seja persuadido a rejeitar o Alcorão, nunca aceitará as implicações da Bíblia até que se assegure de que ela é autêntica.
Normalmente, todo muçulmano acredita que cada palavra do Alcorão foi escrita por Deus e trazida a Maomé pelo anjo Gabriel. Não é de admirar que vejam a Bíblia, em comparação, como humana e falível, tendo sido escrita por mais de quarenta pessoas, entre elas, um primeiro-ministro (Daniel), pescadores (como Pedro, por exemplo), um doutor (Lucas) e prisioneiros (tais como Jeremias e Paulo), por cerca de 2000 anos. Comparar a Bíblia com o Alcorão é, portanto, impossível, por estarmos confrontando coisas não semelhantes. Contudo, como admitimos, é logicamente impossível que a Bíblia tenha sido corrompida.
Vejamos o que o Alcorão diz sobre a Bíblia. Atualmente, muitos dos seus versos confirmam que ela é a Palavra de Deus e não foi alterada. Aqui, apresentamos apenas alguns exemplos:
Sura 5.43: "Como se submeteriam eles a julgamento por vocês, se têm o Torá, onde se encontram os mandamentos de Deus?".
Sura 5.44: "Nós [Deus] revelamos o Torá, onde está a orientação e a luz...".
Sura 5.46: "Nós enviamos Jesus [...] confirmando o que foi revelado antes deles no Torá, e nós lhe outorgamos os evangelhos nos quais está a orientação e a luz...".
Sura 5.68: "[Judeus e cristãos] não têm orientação, a não ser que observem o Torá e o Injil [evangelhos]".
Sura 4.136: "Creiam em Deus e em seu mensageiro [Maomé], e na Escritura que Ele revelou a seu mensageiro [o Alcorão] e nas Escrituras que Ele revelou outrora [a Bíblia]".
Sura 10.91: "Se você [Maomé] está em dúvida quanto ao que lhe revelei, então pergunte àqueles que lêem as Escrituras [que existiam] antes de você" (a Bíblia).
Sura 15.9: "Nós revelamos a Tradição e Ló! Somos verdadeiramente seu guardião" (isto é, a Bíblia está guardada contra a corrupção por Deus).
Sura 6.34: "Não há ninguém que altere as palavras de Alá".
Sura 10.64: "Não há mudança nas palavras de Alá".
Se a Bíblia foi corrompida, isso aconteceu antes ou depois de Maomé?
Se antes, por que Deus diz a Maomé para recorrer a uma Escritura corrompida como guia e por que fala do Torá e dos evangelhos, "nos quais se encontram a orientação e a luz", ao invés de avisar "que os usou antes de eles serem corrompidos?".
Se depois, por que os muçulmanos não aceitam a Bíblia, já que as traduções correntes estão todas fundamentadas sobre os manuscritos datados antes de Maomé?
Se ela foi corrompida, quem a corrompeu: os judeus ou os cristãos? Já que nenhum deles estava em condições de combinar um com o outro, como diz a Sura 2.113: "Os judeus dizem que os cristãos não seguem nada [verdadeiro] e os cristãos dizem que os judeus não seguem nada [verdadeiro], contudo, ambos são leitores das Escrituras" (V. tb. Sura 5.82).
Como puderam, judeus e cristãos, concordar em alterar toda a Bíblia do mesmo modo? Por que não há registro desse acontecimento e por que ninguém se opôs a isso ou conservou as Escrituras autênticas?
Os livros do Novo Testamento, logo após serem escritos, foram largamente distribuídos. O Papiro 26 do Evangelho de Jesus, escrito por Mateus, datado em 68 d.C., recentemente encontrado no Egito, é um bom exemplo. Presumivelmente, Mateus ainda estava vivo quando esse documento foi escrito. Então, por que ele não o corrigiu, já que estava corrompido? Por que os cristãos não retiraram os episódios vergonhosos, como, por exemplo, o de Pedro negando Jesus (Mt 26.69-75) ou o da briga de Paulo com Barnabé (At 15.39)?
De que serve o testemunho da Bíblia sobre si mesma? "Toda a Escritura é inspiradas por Deus" (2Tm 3.16). Pedro se refere aos escritos de Paulo como Escrituras, combatendo, dessa forma, alguns maliciosos que distorciam seus ensinamentos "como distorcem as outras Escrituras" (2Pe 3.16). "A lei foi dada por intermédio de Moisés" (Jo 1.17) e Jesus disse: "A Escritura não pode ser desprezada" (Jo 10.35). Suas palavras são "espírito e vida" (Jo 6.63). São palavras "de vida eterna" (Jo 6.68).
Como algum cristão poderia ousar acrescentar ou remover porções das Escrituras diante da advertência de Apocalipse 22.18,19, que diz: "Se alguém acrescentar algo a elas, Deus lhe dará as pragas descritas neste livro. E se alguém retirar palavras de seu livro de profecias, Deus o deixará fora da participação da árvore da vida e da cidade celeste"?
Significativamente, os antigos comentadores muçulmanos (por exemplo, Bukhari e Al-Razi) estavam todos de acordo que a Bíblia não podia ser alterada, já que era a Palavra de Deus. E muitos séculos se passaram antes que os muçulmanos começassem a acusar a Bíblia de ter sido corrompida, quando, cuidadosamente, leram as histórias no Alcorão e notaram que eram diferentes daquelas da Bíblia.
Os versos usados para basearem a alteração da Bíblia foram totalmente deturpados pelos muçulmanos. Por exemplo, temos a Sura 2.42, que diz: "Confundir a verdade com a falsidade, e conscientemente ocultar a verdade". Segundo afirmam, tais palavras foram proferidas por Maomé, quando dois judeus foram trazidos à sua presença para julgamento, por terem cometido adultério. Os outros judeus quiseram testá-lo, para ver se, como profeta de Deus, ele conhecia o que estava escrito no Torá. Então, ele pediu o Torá e, em seguida, deu o livro a um rapaz para ler a punição por desobediência. Quando o rapaz encontrou o texto de Levítico 20.10, cujo conteúdo diz: "Se um homem comete adultério com a esposa de outro [...] ambos devem ser condenados à morte". Os judeus acusados de adultério colocaram as mãos sobre o versículo, de modo que o rapaz não o podia ler. Diante disso, uma testemunha solta um longo grito, dizendo terem corrompido o texto da Bíblia. Outros versos dizem que alguns judeus, ao escutarem a Escritura, a alteraram, mas era apenas um grupo, pois todos os judeus do mundo não estavam em Meca. Além disso, eles precisariam ter cópias genuínas do original para serem acusados de mudá-lo. E, por fim, não trocaram o texto escrito, mas simplesmente disseram a Maomé coisas inexistentes para enganá-lo.
Definitivamente, os muçulmanos possuem argumentos muito frágeis para que possam alegar corrupção no texto bíblico.
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