"O que digo, não o digo segundo o SENHOR, mas como por loucura, nesta confiança de gloriar-me".
É de salutar importância que a pessoa aceite e entenda que a Bíblia é a inerrante e infalível Palavra de Deus. Se ela, porém, desqualifica a Bíblia diante de qualquer coisa, então passa a procurar e a enxergar tão-somente as "contradições" bíblicas. O diabo foi o primeiro a dizer o que Deus não disse, porque sentia ódio por Deus e por sua criatura, o homem.
O que as pessoas chamam de "contradições bíblicas" não passam de dificuldades em entender a Palavra de Deus. Contudo, essa dificuldade não é o mesmo que impossibilidade, obscuridade em compreendê-la. Há, para isso, escolas teológicas, cursos bíblicos para obreiros e leigos em geral, muitos livros de hermenêutica, conhecimento indutivo, etc. Agostinho, prontamente, disse: "Se estamos perplexos por causa de aparente contradição nas Escrituras, não nos é permitido dizer que o autor desse livro tenha errado; mas ou o manuscrito tinha falhas, ou a tradução está errada, ou nós não entendemos o que está escrito". É bom que se entenda que manuscrito é uma coisa e cópia original das Escrituras é outra.
Uma das coisas que aprendemos no estudo bibliológico é que a convicção e a certeza da autoridade da Bíblia provêm do estudo interno do Espírito Santo na vida da pessoa. Alguém que não tem em si o Espírito Santo (Jo 14.17) não foi regenerada (Jo 3.6). Portanto, é natural (1Co 2.14) e não tem capacidade para entender as coisas espirituais (1Co 2.14). As dificuldades são dirimidas quando há o testemunho interno do Espírito Santo em nosso coração.
O apóstolo Paulo tinha a Palavra de Deus com reverência e reconhecia que ela era singular, única: "Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes" (1Ts 2.13).
Em outro texto, Paulo reconhece que o evangelho que pregava lhe fora revelado por nosso Senhor Jesus Cristo: "Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo" (Gl 1.11,12).
O apóstolo Pedro, ao mencionar o cuidado que Paulo tinha com os irmãos, refere-se aos seus escritos como tendo autoridade escriturística, tanto quanto os demais livros bíblicos: "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição" (2Pe 3.15,16).
Quando Paulo afirma: "Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento" (1Co 7.6); ou: "O que digo, não o digo segundo o SENHOR" (2Co 11.17), não quer dizer, com essas expressões, que a Palavra de Deus está em contradição com outros textos, como, por exemplo, o de 2Timóteo 3.16, que diz: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça".
No mínimo, entendemos que Paulo está tratando de um assunto que, segundo seu ponto de vista, não fere, em nada, a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo e das Escrituras em geral. Associar 2Timóteo 3.16 com 1Coríntios 7.6 e 2Coríntios 11.17 e afirmar que isso é contradição, implica em pelo menos dois erros: associação indevida de textos e desconhecimento das regras de interpretação bíblica. Devemos tomar "cuidado com a Bíblia na boca do diabo".
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