Comentário apologético: Há certas palavras traduzidas por “blasfemar” que aparecem 56 vezes no texto grego do Novo Testamento. O verbo grego blasphemeo, por sua vez, ocorre 34 vezes, e o seu sentido é: “falar acusatoriamente”, “injuriar”, “descompor” e “caluniar”. Já o substantivo blasfhemia, 18 vezes, significa “injúria”, “detração”, “difamação” e “fala injuriosa”. As outras quatro ocorrências estão na forma adjetiva. Segundo Joseph Thayer, o sentido que deve ser atribuído à blasfêmia é a “falar injuriosamente contra o bom nome de alguém ou, ainda, falar de forma injuriosa contra a majestade divina”.
Todavia, o pano de fundo que nos dá a compreensão do significado desta palavra se encontra no Antigo Testamento, onde constatamos algumas palavras sinônimas, traduzidas por “blasfêmia”. Os termos hebraicos gadap (Nm 15.30), hârap (2Rs 19.22), nâqab (Lv 24.16) e nâ’ats (Ne 9.18) são traduzidos, respectivamente, por “injuriar” (pessoas), “blasfemar” (contra Deus); “reprovar”, “blasfemar”, “desafiar”, “insultar”, “censurar”; “blasfemar”, “nomear”, “desprezar”, “rejeitar”e “abominar”.
O substantivo “blasfêmia”, por exemplo, que aparece no Salmo 74.10, pode ser traduzido por “dizer coisas duras”, “censurar”, “zombar”. Logo, o termo blasfemar tem o sentido de “falar” (não apenas “pensar”) de forma deliberada e consciente contra a autoridade divina.
Voltemos ao texto de Mateus 12.31-32. Não obstante esta porção bíblica ter sofrido as mais variadas interpretações, há praticamente um consenso entre a erudição bíblica sobre o seu significado. No contexto do Novo Testamento, a palavra “blasfêmia” (mais especificamente na referência em análise) mantém o sentido de “atribuir ao diabo aquilo que é obra de Deus”, o que é uma injúria e um insulto contra Deus. No contexto em estudo, Jesus tinha acabado de libertar um endemoninhado “cego e mudo” (v. 22). Diante de uma demonstração inequívoca do poder do Espírito Santo, operando por intermédio de Jesus, os fariseus, motivados pelo orgulho religioso, murmuraram: “Este não expele os demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios” (v. 24). Os fariseus atribuíram a Satanás aquilo que era obra do Espírito Santo, e Jesus disse que isso era blasfêmia.
Mas por que tal atitude se constituiria em pecado imperdoável? De acordo com o evangelho de João, o Espírito Santo é quem “convence do pecado” (Jo 16.8) e, sendo blasfemado, injuriado, tendo suas obras atribuídas a Satanás, quem irá convencer, agora, o homem?
A. T. Robertson observa que é justamente isso que caracteriza o pecado imperdoável. Ou seja, “Ao dizer que Jesus tinha um espírito imundo, atribuíram ao diabo uma obra do Espírito Santo”.
Colin Brown, por sua vez, diz que o “homem que blasfema contra o Espírito Santo é aquele que reconheceu que Deus está operando mediante o Espírito Santo e que deliberada e conscientemente dá uma definição falsa da fé em Deus como sendo fé no diabo”.
Motivados por uma teimosia cega, os fariseus preferiram chamar de trevas aquilo que era perfeita luz. Brown ainda observa, oportunamente, sobre “aqueles que tenham sido atormentados pelo medo de que talvez tenham cometido o pecado imperdoável”, que sua própria preocupação temerosa é, de si mesma, um sinal de que não cometeram o pecado contemplado no ensino de Jesus neste ponto.
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