De vez em quando, lemos comentários de cristãos nas mídias sociais, dizendo: "Eu sou mais a Bíblia. Eu só quero Jesus. Esse negócio de discussão doutrinária só divide a igreja. É coisa de homem e do diabo".
É claro que tais pessoas estão certas se a discussão doutrinária for movida por interesses mercenários e pela luta pelo poder. Todavia, esse tipo de juízo generalizado revela uma falsa piedade enorme e uma ignorância ainda maior.
Se, hoje, esses queridos têm a Bíblia no Brasil para ler em português, e conhecem o Jesus que ela ensina, é por vários motivos que eles mesmos ignoram. Vejamos:
É porque a Igreja reconheceu os 66 livros somente depois de muita polêmica contra Marcião e Montano entre os séculos 2o e 3o; sem isto, nem Bíblia teríamos; ou, então, teríamos uma versão mutilada.
É porque os reformadores batalharam pela fé na Idade Média para dizer que a Bíblia é a revelação final de Deus e, com isso, conseguiram que ela voltasse às mãos do povo; sem isto, estaríamos escutando missa em latim até hoje e sem uma Bíblia em nossa língua para conferir.
É porque comitês de tradução discutem e disputam teologia para saber qual é a melhor tradução do grego e hebraico para o português; imaginamos que esses irmãos "piedosos", que criticam discussões teológicas, não leem nem em grego nem em hebraico e dependem do português para ler a Bíblia;
É porque teólogos e mestres crentes lutaram e brigaram contra os liberais, para que as igrejas ficassem com o evangelho puro acerca de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Sem essas disputas teológicas, estaríamos reverenciando um Jesus diferente daquele que Bíblia apregoa.
Portanto, quando crentes, irrefletidamente, afirmam que toda discussão teológica é do diabo, estão, simplesmente, cuspindo no prato em que comem todo dia ao condenar as disputas teológicas ao mesmo tempo em que leem sua Bíblia em português. E a eles é recomendável continuar lendo a Bíblia diariamente, mas acrescentar um pouco da história seria de imensa ajuda!
Por Augustus Nicodemus Lopes
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