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    Guiné-Bissau - Uma nação, muitos povos

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Um dos países mais pobres do mundo se vê diante de um grande desafio: vencer as sucessivas revoltas armadas e a sangrenta guerra civil

Este é o retrato de Guiné-Bissau, um país africano um pouco menor que o Estado de Alagoas, formado pela multiplicidade étnica de diferentes culturas. Balantas, Manjacas, Felupes, Soninke, Mandingas... povos que já habitavam a áfrica ocidental quando os portugueses chegaram. Foram quinhentos anos de colonialismo até o reconhecimento da independência de Guiné-Bissau, depois da revolução de 25 de abril de 1974.

Os quase vinte anos de luta armada pela independência arrasaram o país, social e economicamente. Guiné-Bissau é hoje uma das nações mais pobres do mundo e depende da ajuda internacional. As sucessivas revoltas armadas e a sangrenta guerra civil têm deixado o país em péssimo estado. Cidades destruídas, instabilidade financeira e política, falta de infra-estrutura básica... Guiné-Bissau é uma nação com muitas necessidades.

O índice de analfabetismo chega a 94% da população.

Não existem bancos nos país. A maioria dos guineenses mora na zona rural, vive da agricultura de castanha de caju para exportação e da produção de arroz. O sistema de saúde pública é precário. A população, de um milhão e trezentos mil habitantes, morre por doenças como malária, tifo e febre amarela. A expectativa média de vida não chega aos 50 anos.


O testemunho pessoal é um fator favorável a missões


É neste contexto de extrema necessidade que trabalham vários missionários brasileiros. Pessoas que deixaram para trás amigos, igreja e família para se dedicar à proclamação do evangelho de Jesus. Como Guiné-Bissau é formada por diversos povos, os missionários deparam-se com várias culturas e línguas. Hoje, predominam dois grupos religiosos distintos: os muçulmanos (45%) e os animistas (50%), de origem indígena, ligados à feitiçaria, cuja filosofia primitiva diz que as almas e os espíritos animam todas as coisas, vivas ou inertes. Os cristãos são apenas 5% da população.

Mesmo assim, e a despeito de todas as dificuldades, a pregação do evangelho cresce a passos largos, tanto na cidade quanto entre as diversas tribos ou tabancas, formadas pelos diferentes povos. A AMIDE (Associação Missionária para Difusão do Evangelho) é um exemplo deste trabalho. O objetivo da missão, que nasceu em Brasília, em 1977, é atingir dez etnias entre os povos não-alcançados até 2005, plantando igrejas autóctones e missionárias. Dirigido pelo Espírito Santo, o trabalho começou há oito anos, entre o povo Soninke. A missionária Edna Aparecida foi a primeira a fazer contato com os "homens grandes" da tabanca, considerados líderes políticos e religiosos, e conseguiu autorização para desenvolver um trabalho social entre eles.

Os Soninkes, um povo nômade islamizado, formam uma etnia de mais de um milhão e oitocentas mil pessoas ao redor do mundo. Cinco mil em Guiné-Bissau. E foi ali, na tabanca de Sintcham Sambel, que eles começaram a ouvir falar de Jesus. De acordo com a missionária Edna, este é um povo difícil de trabalhar porque, como islâmicos, acreditam que já conhecem a Deus. Não um Deus de amor, mas, sim, um deus rígido, que castiga quem desobedecê-lo. "Qualquer um que diga que o deus que eles adoram não é o Deus verdadeiro está blasfemando para eles", conta Edna.

É exatamente por isso que o evangelismo entre os mulçumanos se dá principalmente pelo testemunho de vida. Entre os islâmicos, é proibido evangelizar diretamente. Os missionários têm de conviver com eles, conhecer sua cultura, conquistar sua amizade, trabalhar em favor do povo, sofrer suas dores e demonstrar amor. Esta é a única forma de evangelização possível, até que eles entendam e aceitem o plano de Deus por meio de Jesus. O exemplo dos missionários é o que fala mais alto entre os mulçumanos. É preciso mostrar que tudo o que fazemos está associado à nossa fé. Hoje, os "homens grandes" já reconhecem o exemplo dos missionários e se admiraram da "vida de limpeza" que eles levam.


Trabalho social em alta


A população da tabanca Soninke, de Sintcham Sambel, era praticamente analfabeta antes da chegada da missão AMIDE, que construiu uma escola de alfabetização na língua materna, com turmas até a quinta série, e presta assistência na área da saúde. O pastor Júlio Melo, sua esposa Joaline e os três filhos, Rebeca, Rubens e Jadiel, vivem neste campo missionário há cinco anos, e sabem bem que trabalhar em um campo islâmico é como tentar arar em um terreno montanhoso. Primeiro, é preciso dinamitar a pedreira, depois, tirar cada uma das pedras para limpar o terreno. Só então é possível adubar a terra para começar a plantar. "Nosso dinamite é a oração. Alguns estudiosos alertam que é preciso caminhar mais de sete anos para se ter a certeza da conversão de um islâmico", dizem os missionários.

A pressão familiar é muito grande contra a conversão de um mulçumano. Djarga é um dos exemplos. Depois de convertido, os parentes contrataram vários homens para surrá-lo. Apesar de extremamente machucado, ele não negou o nome de Jesus. E Deus ainda usou a circunstância para demonstrar o seu amor por intermédio dos missionários que o acolheram e o trataram até que ele se recuperasse.

Abulai é outro convertido. A família o abandonou. O pai queria matá-lo. Mas ele prosseguiu, crescendo na fé. Hoje, está fazendo um curso de obreiro.

Os Soninkes vivem em moranças (divisão por clã ou família), na qual um homem pode ter até quatro esposas. Líderes religiosos ou políticos têm direito de ter até seis mulheres. Cada morança tem uma cozinha comunitária, onde a cada dia uma das esposas prepara o alimento para toda a família, enquanto as outras se revezam no cuidado dos filhos e na limpeza. A mulher que cozinha é a que vai dormir com o marido naquele dia, numa palhoça decorada com cortinas e tapetes, onde ele vive.

As atividades domésticas permeiam-se com os rituais religiosos. As pessoas rezam cinco vezes por dia, voltadas para Meca. Com a chegada dos missionários, o povo se sentiu mais respeitado. A auto-estima cultural aumentou à medida que o patrimônio lingüístico foi valorizado com a alfabetização das crianças na língua materna, com a transição para o português, que é a língua oficial de Guiné-Bissau.

A garagem da casa do pastor Júlio é a igreja. Reunidos ali, vários africanos já tiveram a oportunidade de conhecer o amor de Jesus. Os que se convertem passam pelo melhor e mais eficaz discipulado: a convivência diária com os missionários, com leituras bíblicas e o ensino das verdades de Cristo.


A religião do povo Felupe


Não muito longe dali estão os Felupes. Não há como comparar os dois povos adotados pela missão AMIDE. Enquanto os Soninkes são islâmicos, os Felupes são animistas. Vivem fazendo sacrifícios porque acreditam que só assim podem apaziguar a ira dos espíritos. Estão sempre à procura de um "deus mais forte". É um povo alegre, extrovertido e receptivo, mas totalmente acorrentado pelas mentiras de Satanás.

Entre os animistas está também o povo Kobiana. A exemplo dos Felupes, são extremamente pobres, sem escola, sem assistência médica, imersos na feitiçaria. Também se submetem aos espíritos que possuem os balobeiros, curandeiros locais que ditam normas e fazem exigências de oferendas, cobrando submissão e dizendo que podem castigar até a morte os que se atreverem a deixá-los.

Muitos europeus viajam até a África e procuram estes povos para buscar "serviços espirituais". Um dos missionários que trabalham com os povos animistas é o pastor Osvaldo Santos, um baiano que já conseguiu visitar sete, das vinte e cinco tabancas Felupes espalhadas por Guiné-Bissau. "Fui convidado pela AMIDE para fazer uma pesquisa etnológica e lingüística entre os Felupes. Era para passar três meses na África. Já estou há três anos, apesar do meu chamado ser para o Japão".

Hoje, já são mais de 150 convertidos. Os animistas são muito receptivos e aceitam ouvir de Jesus com facilidade. Mas é necessário um forte trabalho de libertação e discipulado para tirá-los realmente das garras de Satanás. O maior impedimento entre os animistas é o medo dos espíritos que os dominam há séculos.


Testemunho: circuncisão sem mortes


Um dos mais belos testemunhos de como trabalhar com as diferenças culturais ocorreu há cerca de um ano, em julho de 2002, durante uma festa religiosa conhecida como Fanado. Esta cerimônia acontece de trinta em trinta anos. Durante uma semana, todos os homens, de crianças a adultos, são circuncidados. Depois de vários dias bebendo e dançando, os homens de todas as tribos Felupe vão para a mata, onde ocorre a circuncisão, feita com uma faca cega. Eles não dispõem de equipamentos cirúrgicos e muito menos de remédios ou anestésicos. Muito pelo contrário. Sequer estão preocupados com a iluminação adequada ou com procedimentos de assepsia. Por isso, vários homens são mutilados, quando não, morrem de infecção ou hemorragia.

Sabendo de tudo isso, o missionário Osvaldo sentiu-se impelido a ajudá-los. Ele sabia que não teria o menor efeito simplesmente pregar contra a cerimônia ou dizer que aquilo era um absurdo. Ao invés disso, conseguiu autorização do chefe da tribo para acompanhá-los e arrecadou o máximo de remédios possíveis. Era preciso remar uma hora e meia rio acima e carregar o medicamento, andando por mais de seis quilômetros para chegar ao local da cerimônia. Ali, no meio da mata, ele montou uma tenda e tratou dos feridos durante vários dias.

Pela primeira vez na história daquele povo ninguém morreu e, mesmo com a estrutura precária, foi possível contar as infecções. Ao final, os homens queriam entrar na tabanca, onde as mulheres os esperavam, trazendo o pastor Osvaldo nas costas, como um grande "deus". Ao rejeitar a idéia, ele voltou a explicar que toda boa dádiva vem de Deus, o Deus verdadeiro, e testemunhou de Jesus.

Para surpresa do pastor Osvaldo, durante os dias que se sucederam, vários homens foram procurá-lo na casa missionária pedindo para conhecer aquele Jesus de quem ele falara, porque ficaram impressionados com a bondade deste Deus.

É preciso orar para que o Senhor dê aos missionários que atuam em campos transculturais ainda mais estratégias para alcançar o coração dos povos. Ir totalmente contra a cultura pode não ser a melhor maneira de introduzir o evangelho. Depois desta experiência, os missionários que trabalham em Guiné-Bissau têm a certeza de que, no próximo Fanado, daqui há trinta anos, muita coisa poderá ter mudado, com a conversão de líderes locais.

"Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres" (Jo 8.36). Via de regra, a antropologia é contrária à interferência religiosa na mudança de hábitos e costumes dos povos. O trabalho missionário em tribos indígenas brasileiras, por exemplo, é normalmente dificultado por órgãos governamentais, com o propósito de "preservar" a cultura daquele povo. É preciso ter em mente, no entanto, que em muitos casos, Satanás utiliza hábitos próprios da cultura para escravizar as pessoas.

A luta de organismos internacionais pela dignidade e pelos direitos humanos já prevê hoje o incentivo a mudanças culturais de hábitos que claramente vão contra aos direitos básicos dos indivíduos. Mas sabemos que a verdadeira mudança social ocorre em primeiro lugar no âmbito dos pensamentos e idéias, no mundo interior. Os conceitos e emoções dos homens precisam ser transformados pela renovação da mente em Cristo Jesus, caso contrário, será uma mudança exterior, sem qualquer profundidade ou duração. Apenas uma maquiagem. "Para Cristo, a mudança exterior, dos amplos aspectos sociais, era uma conseqüência da transformação interior", afirma o psiquiatra e escritor cristão Augusto Jorge Cury. "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.32).


Como crerão, se não há quem pregue?


Esta não é uma questão recente. O apóstolo Paulo, na carta aos Romanos, já demonstrava sua preocupação com a falta de envolvimento no trabalho missionário: "Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?" (10.15).

Somos cerca de seis bilhões de criaturas humanas espalhadas pelos mais de147 milhões de quilômetros quadrados do globo terrestre. Quase dois bilhões destas pessoas nunca ouviram falar das boas novas do evangelho.

A Bíblia também ainda é privilégio de poucos. Existem hoje no mundo 6.528 diferentes línguas. Em apenas 366 delas a Bíblia foi totalmente traduzida, cerca de 5,6% das línguas existentes. Mais de 80% do total não têm sequer um versículo da Bíblia traduzido.

De acordo com o IBGE, o número de evangélicos no Brasil cresceu de 9,1% para 15,5% na última década. O Brasil tem hoje cerca de 25 milhões de evangélicos. Não é para menos que o nosso país seja considerado o celeiro evangelista do mundo. Dados recentes mostram que o Brasil tem cerca de mil missionários no exterior, e outros mil dentro do país trabalhando por mais de setenta agências missionárias.


Estratégias: adoção de povos


A adoção de povos por igrejas brasileiras tem sido uma das estratégias utilizadas pela AMIDE (Associação Missionária para Difusão do Evangelho). Para cada cinco igrejas adotantes, o trabalho missionário local pode ser iniciado com o envio de obreiros aos campos ainda não-alcançados. Foi o que aconteceu com os Felupes e os Soninkês.

A AMIDE tem orado e se empenhado agora, na adoção de uma tribo indígena brasileira.

Os índios foram considerados, durante muitos séculos, puros, intocados e sem pecado. A ideologia antimissionária impediu que os povos indígenas fossem evangelizados. Hoje, existe um esforço mundial para que todos os povos da terra sejam alcançados, dentre eles, os índios do Brasil. Os estudos de levantamento cultural e abordagem missionária do POVO TUKANO já foram concluídos pela AMIDE, faltando, agora, apenas o compromisso de adoção pelas igrejas-mãe.

Os TUKANOS são um grupo etnicamente distinto, com cerca de 2.700 pessoas vivendo em dezenas de aldeias no Alto Rio Negro e ao longo dos rios Tiquié e Papuri, no Vale do Uaupés, distrito de São Gabriel da Cachoeira, Noroeste do Amazonas. São extremamente animistas-naturalistas, praticam a pajelança, a benzição e possuem muitas supertições. Até o último censo missionário, a porcentagem de evangélicos entre eles era 0%.

Igrejas (de qualquer denominação) em todos os estados brasileiros podem ser igrejas-mãe e fazerem parte da evangelização dos povos não-alcançados.

Para entrar em contato com a AMIDE e obter mais detalhes sobre este trabalho, basta acessar o site www.amide.org.br. O e-mail é amide@terra.com.br. A sede da AMIDE fica em Brasília. O telefone é (61) 468-6713.


Dados de Guiné-Bissau:


Renda per capita: poder de compra: $ 900 (1999.)

PIB (composição por setor): agricultura: 54%; indústria:11%; serviços: 35% (1996)

População abaixo da linha da pobreza: 50% (1991.)

Taxa de inflação (preços ao consumidor): 5,5% (1999)

Mão-de-obra: 480.000

Mão-de-obra - pela ocupação: agricultura 78%

Eletricidade - produção pela fonte: Gerador diesel: 100% (1998)

Eletricidade - consumo: 37 milhão kWh (1998)

Agricultura - produtos: arroz, milho, feijão, mandioca (tapioca), castanha de caju, amendoim, semente de palma, algodão; madeira; peixes

Exportações - produtos: as porcas de caju 70%, camarão, amendoins, sementes de palma, madeira serrada (1996)

Importações: $22,9 milhões (1998)

Importações - produtos: gêneros alimentícios, maquinaria e equipamento de transporte, produtos de petróleo (1996)

Dívida externa: $921 milhões (1997)

Moeda corrente: Franco de Comunidade Financeira Africana (CFA)

Taxas de troca: Francos de Comunidade Financeira Africana (CFA) por US$ 1,00 - 647,25 (janeiro 2000), 615,70 (1999), 589,95 (1998), 583,67 (1997);

Nota: como em 1º de maio de 1997 Guiné-Bissau adotou o franco CFA como moeda corrente nacional, desde 1º de janeiro de 1999 o CFA é avaliado ao euro em uma taxa de 655,957 francos CFA por euro

Comunicações

Telefonia - linhas principais no uso: 13.120 (1995)

Telefonia - celular móvel: Não há

Estações de rádio de transmissão: Am 1, FM 2 (1998) Rádios: 49.000 (1997)

Estações de transmissão de televisão: 2 (1997)

Transporte: Estradas de Ferro: Não há

Estradas: total: 4.400 quilômetros pavimentados; 453 quilômetros, não pavimentados; 3.947 quilômetros (1996)

Canais: diversos rios são acessíveis ao transporte para o litoral

Portos: Bissau, Buba, Cacheu e Farim

Aeroportos: 1(um) aeroporto com pistas de decolagem pavimentadas (1999)


Povo


População: 1.285.715 (julho 2000)

Estrutura etária:

0-14 anos: 42% (homens 271.100; mulheres 272.304)

15-64 anos: 55% (homens 335.150; mulheres 370.667)

Mais de 65 : 3% (homens 16.574; mulheres 19.920) (2000)

Taxa de crescimento da população: 2,4% (2000)

Taxa de natalidade: população 39,63 nascimentos/1,000 (2000)

Taxa de mortalidade: população 15,62 mortes/1,000 (2000)

Relação do sexo:

No nascimento: 1,03 homens/mulheres

Até os 15 anos: 1 homens/mulheres

15-64 anos: 0,9 homens/mulheres

Mais de 65: 0,83 homens/mulheres

População total: 0,94 homens/mulheres (2000)

Taxa de mortalidade infantil: 112,25 nascimentos /1,000 vivos (2000)

Expectativa de vida:

População total: 49,04 anos

Homens: 46,77 anos

Mulheres: 51,37 anos (2000 est.)

Grupos étnicos: 99% africano (Balanta 30%, Fula 20%, Manjaca 14%, Mandinga 13%, Papel 7%), europeu e mulato, menos do que 1%

Religiões: opinião indígena 50%, muçulmanos 45%, cristão 5%

Línguas: Português (oficial), crioulo, línguas africanas

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