Na visão natural dos nativos poloneses, só passam incólumes pela terra de João Paulo II, das lendas, dos reis, de Chopin, das mazurcas e de Auschwitz, os que tiverem uma pedra de gelo no lugar do coração.
Por muitos motivos, a Polônia parece muito longe de nós, mas desse "nós", devemos excetuar a grande comunidade polonesa espalhada pelo sul do Brasil, com maior concentração em Curitiba, e que guarda uma justificada nostalgia da terra que, por motivos sempre amargos, foi obrigada a abandonar em muitas épocas.
A Polônia de hoje, entretanto, tem uma sociedade expressivamente católica e religiosa, o que se constata pelo fato de setenta por cento dos poloneses irem à missa aos domingos pela manhã, quando, por conta dessa fidelidade, não se pode ver carros na rua, os bondes, ainda tão usados pelos polacos, surgem raramente e nem sequer os vendedores de pretzels - famosas rosquinhas cracovianas - ocupam seus postos.
Norteados por este perfil histórico de certo contraste, desvendaremos alguns dos segredos da cultura polonesa em suas diversas manifestações, além de sua peculiaridade política e suas intrigantes tradições. Você é nosso convidado nessa viagem!
Povoada por eslavos desde o século I da Era Cristã, em 966, um dos chefes tribais, o duque Mieszko I, se autoproclama na região, aceitando o batismo oferecido pelo cristianismo católico, tornando-se o primeiro rei da nação.
No século XV é criado um Parlamento, e durante este período, tem início no país um período de prosperidade. No século seguinte, o rei passa a ser escolhido pelo Sejm, que se constitui numa representação da aristocracia no Legislativo, e a instabilidade resultante provoca invasões das nações vizinhas.
No século XVII, os suecos invadem o país e dele se apoderam. Contra eles, unem-se austríacos, russos e dinamarqueses. A guerra tem resultados catastróficos, com o genocídio de um terço da população e a ruína do país.
No fim do século XVIII, um movimento por reformas abre o Sejm à burguesia e revitaliza a política da monarquia hereditária. A aristocracia apela para a intervenção de tropas russas e prussianas, e os revolucionários são derrotados, cuja conseqüência é que, em 1795, realiza-se a partilha da Polônia entre Rússia, Prússia e Áustria.
O país reassume sua condição de Estado independente apenas em 1918, mas em 1939, no início da II Guerra Mundial, o Pacto Germano-Soviético favorece a invasão no país por parte dos alemães, pelo oeste, e dos soviéticos, pelo leste.
É nessa ocasião que Varsóvia, contando com uma população cuja maioria era judaica - cerca de três milhões de pessoas, é dizimada pelo domínio nazista.
Com a derrota dos alemães em 1945, a URSS transforma a Polônia em satélite soviético. Já em 1956, após a morte do ditador soviético Josef Stálin, ocorre uma mudança no regime político do país. Essa mudança redunda em que o antigo dirigente polonês comunista Wladyslaw Gomulka, preso desde 1948 sob acusação de nacionalismo, volta ao poder.
Em decorrência da alta dos preços de gêneros básicos, em 1970, tem início uma onda de greves que dissolve o poder de Gomulka, que na ocasião, é substituído por Edward Gierek.
No final desta mesma década, operários liderados por Lech Walesa reclamam do governo o direito à greve e cobram a legalização do sindicato livre Solidariedade.
Em decorrência das manifestações populares, a URSS concentra suas tropas na fronteira e nomeia para o poder o ministro da Defesa, general Wojciech Jaruzelski, que decreta lei marcial, torna o sindicato Solidariedade ilegal, encarcerando seus dirigentes.
Mas o movimento de oposição persiste nos anos 80 e recebe o apoio do papa João Paulo II, polonês de Wadowice, resistência que em 1988, coloca Jaruzelski diante de uma nova onda de greves, o que o leva ao reconhecimento do sindicato Solidariedade.
A Assembléia aprova um programa de desestatização e emendas à Constituição e, a partir da década de 90, a Polônia olha para horizontes mais otimistas, testemunhando em janeiro, a dissolução do Partido Comunista.
No transcurso deste mesmo ano, a Polônia registra em seus anais um evento político com paralelo apenas no Brasil.
No mês de dezembro, Lech Walesa, o antigo líder sindicalista, entra para a história como o primeiro presidente eleito da Polônia desde os anos 30, como numa prédica das eleições brasileiras que levariam Luiz Inácio Lula da Silva, outro ex-líder sindicalista cujo esforço foi reconhecido nas urnas pelo povo, que deixara de considerar a elite acadêmica e politicamente tradicional, para eleger um legítimo representante e, acima de tudo, membro da plebe.
As mudanças necessárias e a transição ao capitalismo não foram bem sucedidas, e essas dificuldades fortalecem o partido oposicionista - Aliança Esquerda Democrática (SLD) - composto por ex-comunistas que migraram para a social-democracia.
Eles vencem as eleições parlamentares de 1993 e as presidenciais de 1995, as mesmas que redundaram na derrota de Walesa por Aleksander Kwasniewski.
Um referendo popular, promovido em 1997, aprova uma nova Constituição, que tinha como um dos pontos citados nas emendas, a redução nos poderes do presidente.
Já nas eleições legislativas, impera a insatisfação popular com a economia instável, o que leva à vitória a oposicionista coalizão de centro-direita Ação Eleitoral Solidariedade (AWS).
Jerzy Buzek, da AWS, é então nomeado primeiro-ministro e tem como prioridade as reformas políticas, sociais e econômicas necessárias para o ingresso na União Européia (UE).
Em 1988 acontece a privatização do estaleiro de Gdansk, plataforma sindical onde nasceu o Solidariedade, sob intensos protestos dos trabalhadores.
A paisagem polonesa é peculiar e se distingue quase que inteiramente pelas terras baixas da planície da Europa do Norte, cuja altitude média é de 173 metros, embora seja necessário também considerar os sudetos (cadeias montanhosas), incluindo o Karkonosze, os Cárpatos e os montes Tatra, onde se encontra o ponto mais alto da Polônia, o Rysy, com 2.499 m de altitude.
Vários rios de grande extensão atravessam a planície, como o Vístula (Wisla), o Oder (Odra), o Wadra, e o Bug Ocidental. O território polonês conta ainda com mais de 9300 lagos, especialmente no norte do país.
A Masúria (Mazury) é a maior e mais visitada região da Polônia localizada nas imediações dos lagos, onde ainda sobrevivem restos das antigas florestas.
A Polônia tem um clima temperado, com invernos frios, encobertos e moderadamente severos, com precipitação abundante, e verões amenos, com chuvas e trovoadas freqüentes.
A Polônia é uma nação que cultivou muitas lendas. Algumas delas geraram conseqüências que podem ser percebidas ainda hoje, por isso, a título de conhecimento de nossos leitores, narramos sumariamente duas das principais, a primeira relacionada ao Brasão da bandeira polonesa e a segunda à Cracóvia, segunda capital do país.
Esta fábula polaca conta que há imemoráveis épocas, antes mesmo do nascimento de Cristo, num lugar distante e cheio de florestas e feras, viviam três irmãos: Lech, louro e de olhos azuis; Czech, de olhos claros e cabelos escuros e Russ de olhos escuros.
Quando adultos, decidiram buscar uma região onde pudessem constituir, cada qual, seu próprio povo. Czech seguiu para o sul, onde construiu a sua morada, dando início ao país dos tchecos. Russ seguiu para o leste e fundou o país dos russos, enquanto Lech, com sua comitiva, dirigiu-se para o norte, rumo ao mar Báltico.
Certo dia, cansado da jornada e vendo uma bela clareira com um enorme carvalho no meio, Lech resolveu repousar sob suas folhas e ali passar a noite. De súbito, um retumbante bater de asas lhe despertou e quando olhou, viu uma grande águia branca que descia ao ninho para alimentar seus filhotes.
Mais tarde, subiu no carvalho até o ninho da águia e, tomando nas mãos um filhote, sobre seu casaco vermelho, notou como eram lindas as duas cores: o branco da pequena ave por sobre o vermelho do seu gibão.
Considerando de bom agouro do evento, resolveu estabelecer-se ali mesmo. No local, ele fundou um povoado e lhe deu o nome de Gniezno, que mais tarde tornou-se uma cidade.
O nome dado à cidade deriva de gniazno, que significa "ninho"; e que viera a constituir-se na primeira capital polonesa, de onde se saíram os pais e avós do povo polonês; a pátria de João Paulo II.
Prevalece atualmente esta simbologia no brasão da Polônia, onde vemos a efígie da águia branca. A bandeira polonesa é constituída de duas faixas horizontais, uma branca em cima e outra vermelha em baixo.
Conta-se que numa enorme caverna, localizada ao pé do morro de Wawel, às margens do rio Wisla, há muito tempo, no governo do príncipe Krakus, vivia um monstro terrível, um dragão.
Igualmente à fera, o medo também habitava aquele lugar, pois a insaciável criatura devorava tudo que se aproximasse. Manadas de gado, ovelhas e até homens desapercebidos, encontravam a morte ante o dragão.
Os moradores enviaram emissários ao castelo de Wawel para implorar a Krakus que combatesse o monstro o mais rápido possível, destruindo-o. Krakus era valente e destemido e, aceitando o clamor do povo, tomou a espada e saiu de encontro ao dragão.
Quando apareceu o temível monstro, cujo urro abalava as estruturas do castelo, e fogo saia de sua boca, Krakus levantou a espada e lhe decepou a cabeça com um só golpe. Mas a fera sobrenatural desenvolvia outra cabeça no lugar da decepada, e três vezes Krakus lhe cortou a cabeça, que voltou a nascer.
A astúcia seria mais eficaz que a espada e a força de Krakus, que mandou chamar um camponês de nome Skuba e lhe orientou à que recheasse couros de animais com enxofre, alcatrão e breu quente, costurando-os depois, dando-lhes forma de animais. Quando o dragão rugisse de fome, segundo a orientação, Skuba deveria jogar na entrada da caverna os couros assim preparados.
Feito isso, o dragão faminto devorou a oferta de Skuba. Mal engolira aquelas carcaças, sentiu tal ardor em suas entranhas, que buscou o rio Vístula e ali bebeu da água abundantemente, mas quanto mais água bebia maior era o ardor que sentia, até que o excesso de água estourou-lhe o abdome com enorme estrondo e a fera morreu.
Banido o medo, reinou paz no país de Krakus. Junto a Wawel expandiu-se uma bela cidade, cujo nome derivou-se do guerreiro Krakus, e se chamou Kraców (Cracóvia) - que mais tarde seria a segunda capital da Polônia.
O passado polonês era eivado de tradições e uma delas, bastante supersticiosa, era a que ditava procedimentos na construção das casas polacas.
O primeiro passo era a escolha da data para o início das obras, que sempre acontecia num sábado, e jamais numa segunda-feira.
Após isso, derramava-se um pouco de água e centeio sob os alicerces, e era necessário que depois de alguns dias o centeio se mantivesse intacto, o que era sinal de um bom local. Em seguida se enterrava plantas bentas e um evangelho, para que a casa durasse muito.
Uma parede não deveria receber pintura, pois a crença predominante afirmava que isso enganava os espíritos ruins, dando a impressão de que a casa ainda não estava pronta para morar. A ocupação da nova casa só poderia ocorrer na lua cheia, depois que um animal da família entrasse na casa antes de qualquer humano.
As pessoas, então, entravam levando a vassoura, o sal, a broa, um crucifixo e um livro de cânticos, e enfim espalhava-se pelo chão uma variedade de cereais, ritual imprescindível para a organização dos móveis e a acomodação dos moradores, mas não antes de as iniciais dos nomes dos reis magos - K, M e B, - serem gravadas na porta principal, tradição seguida até hoje por bispos e padres.
A música é uma parte significativa da cultura polonesa, expressa na personalidade de seu maior representante, o músico erudito Frederic Chopin, cujo trabalho reflete até os dias atuais o espírito nacional polonês e traz o romantismo dessa era ao presente.
Desde 1927, realiza-se uma espécie de competição internacional entre pianistas que executam os temas de Chopin, a qual se dá há cada cinco anos em Warsaw, e que se constitui numa das mais importantes no mundo.
O século XIX ofereceu aos poloneses e ao mundo, a arte inimitável de Stanislaw Moniuszko, que compôs a primeira ópera nacional polonesa, "Halka", em 1847, e o compositor e violinista Henryk Wieniawski.
O Christmas carols (celebrações natalinas) e os jogos são produções elaboradas, caracterizadas por instrumentos tranqüilos. É ainda na Polônia que se localiza o espaço necessário para executores musicais e compositores em estágio.
As produções teatrais, noutra mostra de arte estão classificadas como algumas das melhores da Europa. Durante qualquer mês do ano pode-se contar com a oportunidade de admirar concertos, onde seus participantes, guardando a pompa dessas ocasiões, trajam-se de gala para atender a elegância dos eventos.
Com toda a infra-estrutura européia que é peculiar às nações deste pólo mundial em constante evolução, a Polônia desperta, antes de qualquer coisa, o desejo de nos aproximar de sua gente alegre, de suas crianças meigas e ternas, cujos sorrisos nos iluminam a alma.
Sua arquitetura artística e singular desperta a nostalgia de seu povo e o encantamento de quem a vê pela primeira vez; caderno de história montado em alvenaria e escrito por mãos sensíveis que desenharam toda uma história de lutas, dissabores e vitórias, hoje imponente entre as nações ditas de primeiro mundo.
Seu legado histórico nos deixou alguns dos grandes vultos da história, tanto na música, com os acordes de Chopin, quanto no exemplo político e popular vigoroso de Lech Walesa, ou ainda no carisma deixado aos católicos, oriundo das palavras e dos gestos de seu extinto pontífice, João Paulo II, que tendo destoado o cristianismo em seus ensinos, promoveu, como ninguém, a carência de missionários que levem o verdadeiro Evangelho aos poloneses.
Continente: Europa
Capital: Varsóvia
Área: 312.685 Km2
População: 38.6 milhões (2003)
Nacionalidade: Polonesa
Idiomas: Polonês (oficial) e alemão
Religião: Cristianismo 97,5% (católicos 92,2%; outros 5,3%); sem religião e ateísmo 2,5%.
Governo: República com forma mista de governo.
Legislativo: Bicameral - Senado com 100 membros e Câmara com 460 membros.
Economia: Moeda - zloty
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