Pois o SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas (Dt 10.17)
O hinduísmo é um conjunto de princípios, doutrinas e práticas religiosas que surgiram na Índia, a partir de 2000 a.C. O termo é ocidental e é conhecido pelos seguidores como Sanatana Dharma, do sânscrito (língua original da Índia), que significa "a ordem permanente". Na história da cultura indiana, encontra-se a inigualável força da religiosidade de seu povo, que vai desde a definição de uma casta, até os hábitos milenares adotados e que fazem parte do cotidiano social, numa mescla de religião e cultura. Tudo está fundamentado nos Vedas, que significa "conhecimento" em sânscrito, língua indo-européia do ramo indo-ariano na qual foram escritos os quatro Vedas, entre 1200 e 900 a.C., e que, entre os séculos VI a.C. e XI d.C., se tornou a língua da literatura e da ciência hindu.
Atrelado a um politeísmo que acomoda um panteão de mais de trinta mil divindades e à crença na reencarnação, o hinduísmo é a terceira religião do mundo em número de praticantes, e seus preceitos influenciam fortemente a organização desta classe social.
A tradição dos Vedas nasceu com os arianos, grupo étnico das estepes da Ásia central, que a levaram para a região da Índia em 1500 a.C., quando da invasão e conquista dos vales dos rios Indo e Ganges. Está estribada na lembrança da comunidade hindu sobre deuses tribais e cósmicos, sendo repassada oralmente e, posteriormente, grafada em seus livros sagrados, os Vedas.
Esta antiga civilização quase não comportava o meio rural, tendo o povo se aglomerado em sociedades urbanas e que se concentrava principalmente no atual Paquistão e a noroeste da Índia. Subjugadas as civilizações do Vale do Indo, exatamente por aqueles que traziam o idioma dos árias, observou-se então o surgimento de elementos que favoreceram a instituição de castas, tradições e crenças diversas, as quais posteriormente receberiam o nome de hinduísmo.
Com o passar dos anos, o idioma indo-europeu trazido pelos colonizadores, foi sendo substituído pelo sânscrito, este, desenvolvido entre os indianos natos e que é hoje o idioma sagrado pelo qual se transmitem os textos do hinduísmo, além da filosofia e da cultura indiana.
O cânon hindu está fundamentado nos quatro livros dos Vedas, um conjunto de textos sagrados compostos de hinos e ritos, denominados de Rigveda, Samaveda, Yajurveda e Artharvaveda. Estes quatro volumes são divididos em duas partes: a porção do trabalho (rituais politeístas) e a porção do conhecimento (especulações filosóficas), também chamada de Vedanta.
Outras obras escritas também são destacadas entre os hindus, como os Puranas, que formam a narrativa sobre a tríade divina do hinduísmo, formada pelos deuses Brahma, Shiva e Vixenu, descrevendo ainda as festas, condutas sociais e religiosas do hindu. Contam também com um poema histórico que narra a grande epopéia do povo hindu.
Este poema possui nada menos que noventa mil versos, e é a compilação de um antigo material épico indiano, provavelmente escrito entre o II século a.C. e o I século d.C. Ele ainda trata da luta do bem e do mal, dos cultos a Shiva e Vishnu e as lutas entre as tribos hindus; descreve os Upanishads, que são as aulas dos mestres; o Ramayana, outro poema, este, sobre o amor de Rama por Sita, além do Código de Manu, outro conjunto de normas, regras e práticas sociais hindus.
A parte que encontra mais reverência entre os fiéis do hinduísmo, destaca o discurso de Krishna ao herói desta novela, Arjuna, também conhecido como Bhagavad-Gita, ou, o canto do bem-aventurado, isto é, de Krishna como avatar, a reencarnação de um deus supremo, e, especialmente, no hinduísmo, a reencarnação do deus Vishnu.
O discurso transcorre, num primeiro momento, sobre o dharma da classe kshatriya, a varna (forma como se denominam os grupos ou castas no hinduísmo) guerreira. Outra parte que integra o poema é o Shanti Parvan; um discurso sobre a ética e o governo, este, pronunciado pelo moribundo Bhishma. Uma última história é a de e Damyanti, que tem o propósito de advertir os seguidores contra os malefícios do jogo.
O hinduísmo é uma religião panteísta, ou seja, prega que Deus é tudo e tudo é Deus. O universo é deus, e estando unido ao universo, todos são deuses. Ensina também que este mesmo deus é impessoal. Muitos deuses adorados pelos hindus são amorais e imorais.
Segundo os Vedas, o homem está preso à realidade cíclica e eterna que se resume em morte e renascimento, condição irrevogável chamada sâmsara, e segundo a qual o homem está fadado a reencarnar e a sofrer em infinitas vidas. As reencarnações alcançam tanto o ser humano como o animal e são regidas pelo carma, que é o preceito segundo o qual é traçada a forma como renascemos em nossa vida atual, todavia sendo definida na vida anterior, colocando tudo na dependência do estágio espiritual que alcançamos e os atos que praticamos numa vida póstuma. O hindu busca fundir-se a Brahman, a chamada verdade suprema; um espírito que rege o Universo. Esta condição só pode ser conquistada libertando-se do sâmsara pela purificação de seus infinitos carmas, atingindo o estágio conhecido como nirvana, a sabedoria resultante do conhecimento de si mesmo e do universo. A busca e o alcance do nirvana estão intrinsecamente ligada às práticas religiosas, as orações e a ioga, mas muitos hindus adotam também dietas vegetarianas e a renúncia aos bens e prazeres materiais, prática conhecida como ascetismo, e que muitos tem por imprescindível para alcançar o nirvana.
No hinduísmo há um sistema de separação de grupos entre os fiéis, e que foi se codificando com o passar do tempo, estamos falando do conceito de Varna.
Segundo a literatura sagrada hindu, os homens, devido à soberana vontade de seus deuses, devem pertencer a diferentes classes sociais, as chamadas castas, sendo que esta separação é determinada logo na natividade do indivíduo, respeitando-se sempre a ascendência paterna. Uma vez sendo esta uma norma religiosa e que excede em importância qualquer outra, não pode ser modificada por intervenção humana, já que se considera entre os hindus, que a fidelidade aos ritos ditados pela literatura espiritual é um dos elementos que proporcionam ao indivíduo o gozo celeste.
As castas também estão divididas hierarquicamente e, baseado nesta tradição, os que pertencem às classes mais altas gozam de todos os privilégios previstos na seita, enquanto que os que se acham resignados às varnas mais baixas, não usufruem nenhum.
No princípio, o número de castas existentes se resumia a quatro. As três mais importantes derivavam de uma divisão que já ocorria entre uma horda de colonizadores árias, enquanto que a quarta, por não se achar inserida sequer na sociedade, estando limitada aos grupos que se sujeitaram aos invasores, não podia ser contada com aquelas que advinham destes povos. Vejamos quais são elas:
Os brâmanes. São os portentosos colecionadores da sabedoria contida nos Vedas, acumulando ainda a responsabilidade da ministração dos sacrifícios, atributos exclusivos àqueles que detém o poder sacerdotal e o conhecimento dos mantras sacrificiais, isto é, fórmulas encantatórias que têm o poder de materializar a divindade invocada. Os hindus acreditam que a partir destas fórmulas os deuses se tornam obrigados a baixar à terra, aceitar os alimentos e bebidas e a ouvir as orações dos sacerdotes.
Kshatriya. É a classe dos guerreiros e dos príncipes, os quais funcionam ainda como defensores dos tesouros, tendo ainda por atribuição a instigação dos sacrifícios e a proteção do país.
Vaishya. É a classe dos que desenvolvem atividades braçais e produtivas, como a criação de gados, a agricultura e o comércio.
Shudra. Não possui qualquer outra atividade dentro da sociedade hindu, à exceção de funcionar como servo.
A partir da proliferação de ramificações das castas dentro da sociedade hindu, o número de classes aumentou substancialmente. Atualmente, a regra para definição de a qual das castas pertencerá a criança hindu, está diretamente ligada a atividade ocupacional que ela desenvolverá e esta, seguindo a hereditariedade paterna.
Os sem-castas, também conhecidos como párias, constituem-se num grupo numeroso, ao qual o líder político e religioso indiano Mahatma Gandhi, chamava karijan, que significa "filhos de Deus", entretanto, a sociedade hindu não parece ter tido o mesmo sentimento fraternal por esta casta, qualificando-os posterior e genericamente como dulit, ou "excluídos".
Em prol destas castas inferiores emergiu um governo que reconheceu a igualdade social diante do Estado e aboliu o sistema de castas. A Índia independente também abortou oficialmente este sistema, tornando-o inexistente ante o governo, não se nomeando mais castas entre a sociedade; adotando medidas que favoreçam as castas tidas por inferiores e demais providências que efetivamente baniram a desigualdade ditada pela fé hindu.
Em 1950, Nehru, líder hindu à época, declarou que, em dez anos, conseguiria desarticular todo o sistema de castas, entretanto, a sociedade comum pareceu não aceitar a intervenção governamental, desejando a prevalência da tradição, o que promoveu um entrave no processo de extinção das castas, fazendo com que até hoje, esta norma prevaleça entre o povo.
É impossível falar do panteão de deuses do hinduísmo sem mencionar seu rio mais sagrado, o Ganges. Grande parte da mitologia hindu relaciona-se diretamente com o Ganges, ou Gangá Ma (Mãe Gangá), como os devotos hindus o chamam. Quais seriam as razões para devotar tanta reverência a um rio?
Os hindus crêem que o Ganges tem o poder de libertar, purificar, limpar e curar os crentes. O Vixenu Purana declara: "Os santos, que são purificados por se banharem nas águas deste rio, e cujas mentes estejam devotadas a Quesava (Vixenu), obtêm a libertação final. O rio sagrado, ouvindo-se dele falar, ao ser desejado, visto, tocado, ao se banhar nele, ou ao se cantar hinos por ele, dia a dia purifica todos os seres. E aqueles que mesmo vivendo à distância exclamarem 'Gangá e Gangá' serão libertados dos pecados cometidos durante as três existências prévias".
Os indianos acorrem ao rio para realizar a puja, ou adoração, oferecendo flores, salmodiando orações e recebendo dum sacerdote o tilaque, a mancha de pasta vermelha ou amarela na testa. Daí eles entram na água para se banhar. Muitos também bebem a água, embora seja altamente poluída por esgotos, substâncias químicas e cadáveres. Mas, tão grande é a atração espiritual do Ganges que milhões de indianos almejam banhar-se pelo menos uma vez no seu 'rio santo', poluído ou não. Outros trazem os corpos de seus entes queridos para serem cremados em piras na margem do rio, e daí talvez as cinzas sejam lançadas no rio. Eles crêem que isso garante a felicidade eterna para a alma que partiu. Os muito pobres para pagar uma pira funerária simplesmente lançam no rio o corpo coberto, onde é atacado por aves necrófagas, ou simplesmente se decompõe.
Apesar das milhares de divindades, há no hinduísmo alguns "deuses favoritos". Os três mais proeminentes são Brama, o criador, Vixenu, o preservador e Xiva, o destruidor.
Brama, embora seja central na mitologia hindu, não ocupa um lugar de destaque na adoração do hindu mediano. De fato, bem poucos templos são dedicados a ele, embora seja considerado o grande criador.
Xiva, também comumente chamado de Mahexa (Supremo Senhor) e Maadeva (Grande Deus), é o segundo maior deus do hinduísmo, e a adoração que lhe é prestada chama-se xivaísmo. Ele é descrito como "o grande asceta, o mestre iogue sentado, mergulhado na meditação nas encostas do Himalaia, com o corpo besuntado de cinzas e a cabeça coberta de cabelo emaranhado".
Vixenu, uma benevolente deidade solar e cósmica, é o centro da adoração para os seguidores do vaixnavismo. Ele aparece sob dez avatares, ou encarnações, incluindo Rama, Críxena e o Buda. Outro avatar é o Vixenu Naraiana, "representado em forma humana adormecido sobre a serpente enrolada Xexa ou Ananta, flutuando nas águas cósmicas com sua esposa, a deusa Lacximi, sentada a seus pés ao passo que o deus Brama surge de um loto que cresce do umbigo de Vixenu" (Enciclopédia de Crenças do Mundo, em inglês).
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