...Discípulo dele (Jesus) sejas tu; nós, porém, somos discípulos de Moisés (Jo 9.28)
O termo "judaísmo", assim como o termo "judeu", provém da raiz "Judá". A história dessa profissão de fé remonta ao ano 722 a.C., quando o cativeiro assírio marcou o fim do reino do norte, Israel, proporcionando a ascensão do reino do sul (Judá), que se manteve preservado dos efeitos das invasões por mais de cento e cinqüenta anos. Em 586 a.C., entretanto, tem início o cativeiro babilônico, que pôs fim à resistência do reino do sul por determinado período.
Um grupo de remanescentes constituído quase que por apenas membros da tribo de Judá, retorna a sua terra após setenta anos com o propósito de realizar seus objetivos primordiais, empenho este que culminou com o restabelecimento da nação de Israel. "Judá" e "judeu" tornaram-se então expressões que sempre estariam relacionadas, promovendo uma ligação intrínseca à nomenclatura religiosa e o nome da descendência da qual são oriundos. Dessa forma, a história, a sociedade, a religião e o governo (teocrático) predominantes em Israel, são partes de um todo chamado judaísmo.
Segundo a tradição histórica, as origens do judaísmo tem seu alicerce firmado no pacto de Abraão (Gn 12.1). Na religião judaica sempre se observou um código de normas baseado exclusivamente na revelação, não demonstrando princípios que pudessem ser identificados como filosofias. Foi norteado por estas revelações que se documentaram as batalhas nas quais teve parte o povo israelita, posto que o êxito ou fracasso de seus guerreiros estavam sempre relacionados a sua espiritualidade e lealdade ao Deus que admitiram para si, cujo nome deriva de um grupo de quatro letras hebraicas, identificadas no alfabeto latino por "YHWH", com tradução para algumas variantes, uma delas, Yahweh.
Tudo o que se relaciona com Israel durante a história se mede tendo por parâmetro o exercício da fé e a obediência às normas constantes de seus escritos sagrados. Essa postura milenar que tem lugar até hoje entre o povo granjeou-lhes o título de povo do livro (Bíblia), uma vez que ele é o padrão de leis e de conduta social, embora não seja exclusivo.
Constitui-se numa relação de normas que regem tanto a vida espiritual como a social, proporcionando aos seguidores um sólido padrão de conduta, mesmo nos casos em que a fé judaica passou a enumerar paralelos filosóficos.
Com o surgimento do cristianismo, o judaísmo sentiu a necessidade de fixar em definitivo a relação de livros que identificariam seu código de fé, mas isso não ocorreu com a esperada praticidade, uma vez que grupos diversos dentro do judaísmo apontavam padrões diversos de literatura. Entre os saduceus e os samaritanos, porém, estabeleceu-se como definitivo o Pentateuco; a relação dos cinco primeiros livros da Bíblia, escritos por Moisés. Já entre os fariseus e palestinos adeptos do judaísmo, prevaleceu o cânon que hoje se observa também entre os protestantes, ou seja, o que contém trinta e nove livros, indo de Gênesis (o princípio de todas as coisas) à Malaquias, o último dos profetas menores. Há ainda o cânon chamado "alexandrino", que aderiu a versão da LXX (septuaginta), que incorpora os livros tidos apócrifos e que se acham na Bíblia empregada pela igreja romana, sendo esta a versão utilizada, a princípio pelos judeus da diáspora.
O texto da Lei requeria uma norma de interpretação e esta realidade trouxe à tona uma publicação paralela aos escritos e que tinha esta específica finalidade, o Talmude e a Midrash.
O Talmude inclui as determinações civis e religiosas que não estão arroladas na Torah, além de apresentar explicações que esclarecem questões da Torah e do próprio Talmude. Há uma escritura incluída no Talmude, a Mishnah, uma espécie de sumário da lei oral que havia entre os séculos V a.C. e o século II d.C. A própria Mishnah se acha ligada a Gemara, por ser esta uma espécie de literatura de apoio que explica e amplia a Mishnah. O Talmude pode ser subdividido em duas partes; o Talmude palestino, concluído no século V d.C. e o babilônico, terminado dois séculos mais tarde.
A Midrash, literatura cujo conteúdo se destina à exegese da doutrina judaica, foi desenvolvido entre os séculos IV e XII d.C., e também possui duas subdivisões: o Halakha e o Haggadah. O primeiro traz as leis judaicas tradicionais, acompanhadas de preceitos mais detalhados sobre a lei e que não aparecem no texto original escrito. O segundo é composto pelas interpretações livres e inclusão de determinado número de parábolas ilustrativas, totalmente baseado nos ensinamentos das Escrituras.
O judaísmo é uma religião monoteísta. Para um judeu não há Deus fora de Yahweh; um Deus que se revela a si mesmo, sendo também ele que forma o conhecimento espiritual e as normas éticas, traçando aos seus seguidores uma possibilidade de salvação que se acha intimamente ligada à justiça pessoal. O crescimento virtuoso das questões espirituais como o pós-morte e a imortalidade da alma não achou espaço no modelo original, sendo posteriormente alcançado de forma progressiva.
O monoteísmo de fato é um traço importantíssimo para o judaísmo, mas não é o único. Para destacarmos outros fundamentos doutrinários judaicos podemos nos valer de Moisés Maimônides, um judeu espanhol que viveu no século 12 a.D. Pensador sistemático, procurou condensar as crenças básicas do judaísmo, sob a forma do credo: 1 - A crença na existência de Deus. 2 - A crença na unicidade de Deus. 3 - A crença na incorporalidade de Deus. 4 - A crença na eternidade de Deus. 5 - A crença de que somente Deus deve ser adorado. 6 - A crença na profecia. 7 - A crença em Moisés como o maior dos profetas. 8 - A crença em que a Torá foi dada por Deus a Moisés. 9 - A crença em que a Torá é imutável. 10 - A crença na onisciência de Deus. 11 - A crença em que Deus recompensa e castiga. 12 - A crença na vinda do Messias. 13 - A crença na ressurreição dos mortos.
Rosh Há-Shanah é a primeira festa do ano celebrada pelos judeus e acontece no outono. Foi instituída com a finalidade de lembrar o momento em que teve início a criação do mundo. Nessa data, os judeus participantes são convidados a rememorarem o ano que se passou; corrigirem-se das faltas e voltar-se a Deus, que também é Criador e Juiz, mas, sobretudo, Pai. No culto da sinagoga, os fiéis trajam branco, como símbolo da penitência e da pureza. Um instrumento musical feito com chifre de carneiro, o shofar, é tocado repetidas vezes para estimular o arrependimento.
Outra festa importante é do Kippur, conhecida também como a festa da expiação e ocorre dez dias após a festa do ano novo. O seu dia de realização é chamado Dia do Kippur. Na sinagoga adota-se uma liturgia que dura o dia todo, na qual se entoam repetidas vezes a confissão dos pecados e as conseqüentes súplicas para a obtenção da misericórdia divina. Também acontece uma narrativa em estilo poético que rememora os ritos que o sumo sacerdote celebrava no templo durante este dia. Observa-se durante 25 horas um rigoroso jejum. Durante o ritual das confissões, todos os erros passíveis de serem cometidos entre os homens são confessados.
Além destas, há também as festas menores e as festas de peregrinação. As primeiras constituem-se da Hanukkah, a festa das luzes ou da dedicação do templo de Jerusalém, ocorrida após a vitória dos Macabeus sobre os assírios no século II a.C., e do Purin, a festa das sortes, celebrada para relembrar a salvação do povo judeu quando estava subjugado pelo império persa. Já as festas de peregrinação são: o Pesach (Páscoa), que comemora a libertação dos judeus do jugo egípcio; o Shavuoth (Pentecostes), comemoração que relembra a entrega da Lei a Moisés - os 10 mandamentos e a Torah - durante o tempo em que peregrinaram no deserto; e o Sukkoth, também chamada de "festa das tendas", uma referência a peregrinação de quarenta anos no deserto, ocasião em o povo judeu habitou em tendas até a tomada da terra prometida.
Como resultado de sua história de dispersão e exílio, há comunidades judaicas na maioria dos países. Ao longo dos séculos, costumes diferentes se desenvolveram em diferentes comunidades, e embora os judeus tenham um forte sentimento de serem um só povo, há também muitas divisões entre eles. Mencionaremos pelo menos três delas:
O judaísmo conservador é uma espécie de feliz meio termo entre o judaísmo ortodoxo e o judaísmo reformado. Não é uma seita específica dentro do judaísmo, mas uma escola de pensamentos. Teve início no começo do século 19 como reação às reformas feitas pelos rabinos. Na América, este movimento é chamado de Sinagoga Unida da América.
O judaísmo ortodoxo é a forma mais antiga do judaísmo. É formado pelos judeus tradicionalistas, unidos em torno da lei de Moisés. Observam a maioria das leis dialéticas e cerimoniais tradicionais do judaísmo. De todo judeu ortodoxo espera se que seja um estudioso das Sagradas Escrituras e das tradições judaicas. A esperança messiânica e o retorno à Palestina são doutrinas que tanto os judeus ortodoxos, como indivíduos, quanto às comunidades a eles pertencentes, sempre fizeram questão de manter.
O judaísmo reformado é a ala liberal do judaísmo. Surgiu como uma tentativa das comunidades judaicas na Europa ocidental de ajustarem-se intelectual, cultural e espiritualmente ao Iluminismo. Assim o judaísmo reformado é produto indireto do Iluminismo europeu. É como se fosse a reforma protestante do judaísmo. A ênfase recaía sobre a razão e a reformulação da liturgia.
O judaísmo e o cristianismo são religiões marcadas por traços distintivos salientes, todavia, ambas compartilham de uma herança intelectual e espiritual bastante próxima em muitos aspectos. É isso o que alista o judeu Lapide em sua obra Israelis, Jews and Jesus: A fé em um Deus, nosso Pai; a esperança de sua salvação; a ignorância sobre os seus caminhos; a humildade diante de sua onipotência; o amor e a reverência; a dúvida quanto a nossa hesitante infidelidade; a convicção de que o amor de Deus é prejudicado pela falta de amor ao próximo; o conhecimento de que toda a fala acerca de Deus deve ser gaguejante, quando nos aproximamos dele; entre outros.
Os quatro momentos mais importantes na vida judaica são: nascimento, início da vida adulta, casamento e morte. Analisemos:
Nascimento - Oito dias após o nascimento os meninos são circuncidados, conforme o mandamento da Torá (Gn 17.10). A criança recebe um nome judaico e todos oram para que ela seja abençoada com o estudo da Torá, com casamento e com boas ações. Uma menina pode receber o nome na sinagoga por seu pai, logo após o nascimento ou em uma cerimônia especial.
Início da vida adulta - (Bar Mitsuá e Bat Mitsuá). Aos 13 anos, o menino judeu se torna um Bar Mitsuá, expressão em hebraico que significa "filho do mandamento". Um ano antes deve receber aulas de um rabino, para aprender as leis e os costumes judaicos. Uma menina se torna automaticamente Bat Mitsuá (filha do mandamento), quando completar 12 anos. Por volta dos 15 anos elas aprendem o principal da história e dos costumes judaicos, particularmente as regras alimentares, que são responsabilidade da mulher.
Casamento - O casamento é considerado o modo de vida ideal de Deus. Os judeus têm por obrigação casar com judias, porém os casamentos mistos estão se tornando comuns. Alguns dias antes do casamento a mulher deve tomar um banho ritual. No dia do casamento, o noivo e a noiva ficam em jejum até o final da cerimônia.
O casamento propriamente dito começa com a leitura de sete bênçãos especiais. O noivo então quebra um copo com o pé, em memória da destruição do Templo. Em seguida, são levados para um quarto onde podem quebrar o jejum e ficar a sós.
Morte - A cremação não é permitida, mas alguns progressistas aceitam. Os homens são enterrados envolvidos com seu xale de oração. Não se usam flores nem música na cerimônia. Após o funeral, a família fica de luto por uma semana, e os parentes mais próximos acendem uma vela todos os anos e faz se uma prece especial na data da morte.
Os alimentos que podem ser comidos são chamados Kosher (adequado ou permitido).
No judaísmo, a carne só pode provir de animais que ruminam e têm o casco partido. Sendo assim se excluem o porco, o camelo, a lebre, o coelho e outros. Das aves, pode-se comer as não predatórias. Dos peixes, são permitidos apenas os que possuem escamas e barbatanas; logo estão eliminados polvos, lagostas, mariscos, caranguejos, camarões etc.
Toda comida feita com sangue é proibida, já que a vida está no sangue (Lv 17.11). É proibido comer qualquer carne que não tenha sido obtida de um animal abatido segundo as regras. As frutas e verduras são todas permitidas, bem como a maioria das bebidas alcoólicas e não alcoólicas, salvo algumas exceções.
Além dessas regras, os judeus não comem derivados do leite com derivados da carne. Algumas pessoas chegam a ter duas geladeiras e duas lavadoras de louça, para que não se misturem.
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