Verbo



Espertalhões em nosso meio?!


Quando ainda criança, aprendi, nos livros da escola, que os portugueses, logo que chegaram ao Brasil, perceberam que havia muito ouro aqui. E, também, que os índios que povoavam a nossa terra sabiam onde encontrar o precioso minério. Foi, então, que os portugueses, percebendo a ingenuidade dos nativos, tiveram a ideia de trocar com eles quinquilharias por ouro. Os índios eram atraídos pelo visual dos objetos de pequeno valor e, para tê-los, trocavam com os "espertalhões" esses objetos por ouro. Recordo, também, de um fato muito interessante: um dos chamados bandeirantes, para descobrir onde estavam as minas de ouro, colocou um pouco de álcool em um prato, ascendeu e disse para os índios que se eles não contassem onde estava escondido o ouro, ele iria fazer a mesma coisa com o rio, ou seja, atear fogo na água. Mais uma vez, vemos um explorador tirando proveito da ignorância dos nativos para conseguir seu objetivo.

Infelizmente, cinco séculos depois, com quase toda a nossa população alfabetizada, não são poucos os que ainda se aproveitam da ignorância do povo para, dessa forma, conseguirem a única coisa que lhes interessa: riqueza fácil!

O problema maior, portanto, é que esse tipo de "espertalhões" podem ser vistos, nos dias atuais, até mesmo entre os evangélicos. Para que o leitor possa entender melhor o que estou falando, é só avaliar alguns programas na televisão que se dizem evangélicos. Um dos últimos que assisti, quando "navegava" com o controle remoto, percorrendo os canais, tentando encontrar alguma coisa que realmente valesse a pena, era apresentado por um líder religioso que pedia aos telespectadores determinada quantia em dinheiro em troca de um amuleto.

Pois bem, no caso dos índios, a barganha do ouro era feita com quinquilharias. Ou seja, objetos de pequeno valor. Já em nossos dias, a troca é feita com amuletos, que, também, não deixam de ser objetos, muitas vezes, de valor insignificante. Todavia, segundo definição encontrada em dicionários, amuleto é um objeto que o indivíduo acredita que vai lhe trazer proteção, dinheiro, saúde, etc.

Interessante salientar que o tal apresentador, supostamente religioso, ainda conseguia defender seus argumentos, para extrair dinheiro do povo, citando versículos da Bíblia. Claro, ele só conseguia seu propósito porque lançava mão da eixegese.1

Depois de refletir sobre o que ando vendo em nosso meio, resolvi escrever este breve comentário lançando a seguinte pergunta: "Será que os evangélicos somos realmente livres" ou ainda permanecemos com a mesma ingenuidade dos nativos.

Cuidado, amado leitor. Fique atento ao alerta do profeta Oseias 4.6, que diz: "O meu povo é destruído porque lhe falta o conhecimento".


Por Antonio Fonseca

1 Trata-se de uma interpretação bíblica que atribui interesses próprios ao texto, interpretando-o em favor de seus objetivos. Força o texto a dizer uma coisa que não está dizendo.

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